The Wedding Day

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1780, John Laurens:

Duas semanas antes

Já era a décima vez que me mandava respirar, quão difícil poderia ser pedir desculpas? Uma ansiedade me invadia, mas engoli o orgulho e me forcei a bater na porta. Minhas mãos suavam, e eu ensaiava sozinho o discurso que declarei pronto antes de chegar. Se ia seguir em frente, não podia fazer isso brigado com Alexander.

Dei um pulo quando a porta abriu, revelando a sua cara, obviamente surpresa em me ver.

-Ei! -soltei um grito, disfarçando que estava falando comigo mesmo segundos atrás.

-O que você está fazendo aqui? -ele perguntou, com aquelas sobrancelhas arqueadas. Mas é claro que ele estava ressentido, como não previ isso antes?

-Para começar, queria me desculpar por ontem. Estava tendo um dia ruim -disse, com um sorriso amarelo, tentando me convencer que esse era o único motivo da minha reação exagerada.

Alex suspirou e me encarou por alguns segundos, depois rendeu as mãos e deu um meio sorriso.

-Eu entendo que as coisas estejam difíceis.

-Ainda assim, -completei -foi errado da minha parte. Sou seu melhor amigo, não é? Deveria ficar genuinamente feliz por você.

-Sim, é verdade. -ele limpou a garganta e continuou, me encarando com seus olhos desconfiados -Você me contaria se algo estivesse errado, certo?

Ele levou suas mãos até as minhas, querendo uma confirmação. Um choque percorria meu corpo sempre que ele me tocava.

-Sim, é claro. Você não tem nada com que se preocupar -disse em seco.

Por um tempo, de fato acreditei que isso era verdade.

-Sabia que podia contar com você -ele respondeu, esboçando um largo sorriso.

Hamilton

No dia do casamento

A cerimônia finalmente tinha chegado e faltava apenas duas horas para começar. O local, possuía tecidos brancos que deslizavam nas paredes. As mesas, todas com os mínimos detalhes, possuíam cores diferentes de azul. No salão, mais e mais pessoas começavam a chegar. Consegui enxergar várias importantes, muitos homens relevantes da política, provavelmente relacionados ao meu sogro.

Eu me encontrava em um quarto isolado da festa, onde deveria me arrumar, vestir as roupas e acessórios. Enquanto prendia o cabelo e colocava o terno, suor saía de todas as partes do meu corpo. Era apenas nervosismo, algo comum em quem vai se casar. Tentava fazer a ficha cair desde manhã, aceitando o fato que depois de hoje seria um homem casado, e que Eliza seria minha esposa. Porém, não tive sorte em colocar isso em minha cabeça. E olha que, nunca acreditei muito em sorte.
Agora, só faltava a maldita gravata. Fiz inúmeras tentativas, lacei um nó de todos os jeitos, mas nada funcionava. Saí do cômodo correndo, procurando o melhor no assunto. Avistei Laurens em uma saída dos fundos, provavelmente procurando alguma bebida. Segurei seu braço e o puxei para fora, com a gravata em mãos e um olhar de desespero.
Ele se assustou, mas depois deu uma gargalhada ao entender o que estava acontecendo.

-Você ainda não sabe amarrar uma gravata? -ele perguntou, debochado.

-Preciso de ajuda com isso.

Ele pegou a gravata e se inclinou até mim. Sua mão enconstava no meu pescoço, o que fazia minha espinha arrepiar. Olhei para ele, aqueles olhos castanhos escuros que seguiam os meus.
Ficamos assim por alguns segundos, em silêncio, nossas respirações se misturando, até ele pigarrear, cortando o clima. Ele sempre me afastava. Por algum motivo, não queria que aquilo acabasse. Apenas fiquei parado ali, o fitando sem entender.

-Pronto, tudo certo -ele declarou se afastando ao terminar o laço em minha gravata.

-Por que você sempre faz isso? -perguntei, sem ao menos entender o que queria dizer com aquilo.

-Isso o que? -Laurens parecia confuso.

-Continua interrompendo esses segundos.

Seus olhos se arregalaram, como se não tivesse esperando. Arrumou as mangas do terno e se virou, me deixando falando sozinho. Corri atrás dele sem pensar.

-John! -gritei, apertando o passo.

Quando ele se virou, estava assustado, e em lágrimas.

-Eu não posso fazer isso, Alexander. -sua voz escapava trêmula -me deixe ir, por favor.

Deus sabe como aquela cena me cortou por dentro, o ver chorando e saber que era minha culpa. Só queria entender tudo.

-Não até você me dizer o que raios está acontecendo! -levantei a voz, o fitando seriamente.

-Pensei que ficaria mais fácil quando o dia chegasse -ele concluiu, como se isso pudesse me explicar tudo. -Eu prometo que tentei evitar.

Bateu as mãos no ar, em redenção, enxugou suas lágrimas e continuou andando, até perde-lo completamente de vista.

Quem me acordou foi Angelica, que me chamou ao segurar meu ombro. Ela se tornara muito querida para mim, desde o dia do baile. Reconhecia o quão inteligente e interessante ela era, além de me tratar muito bem. Porém, sempre consegui ver uma dor ao seu redor, como se carregasse arrependimentos que ninguém poderia entender. Isso, no fundo, só me fazia admira-la ainda mais, até porque, ninguém consegue enfrentar a vida sem alguns cortes.

-A cerimônia vai começar -ela informou, com uma voz suave. Seus olhos estavam lacrimejantes, mas o sorriso ainda estalava em seu rosto.

Me recuperei ao máximo que pude, e entrei novamente no salão.

Como previ, o lugar estava lotado, com pessoas vestidas de diferentes cores, conversando sobre diferentes assuntos. Era alto o som da música agitada e todo mundo parecia bem animado com as bebidas de graça. Peggy, a irmã mais nova de Eliza, que se encontrava em um canto apenas observando o movimento das pessoas, parecia bem chateada com alguma coisa. Mulligan e Lafayette já estavam dançando, flertando com todas as moças que conseguiam encontrar, enquanto George estava no balcão se servindo um whisky.

Me sentia completamente vazio, e embora faltasse apenas alguns minutos para o casamento, o tempo parecia congelado. Minhas mãos suavam e eu sentia como se fosse vomitar. A música de repente parou, chamando a atenção de todos. Deu início então, a outra melodia, uma mais calma e delicada.
Era a hora da noiva entrar.

Lams: Just The Two of UsOnde histórias criam vida. Descubra agora