- Dá pra acreditar naquele filho da puta?!
Minho revira os olhos, observando o namorado concordando freneticamente com Felix como se, naquele momento, estivessem seriamente discutindo o destino da humanidade nas mãos de Seo Changbin e sua mania de dar ordens.
O Lee mais velho se distrai um pouquinho com as bochechas bonitinhas do garoto loiro e com a forma como seus lábios se comprimem como faz bem agora, porque está segurando o riso.
Felix acha que o Han leva completamente a sério sua frustração, mas o moreno é o único a saber que, daquele jeitinho, o outro está se controlando apenas para não prolongar o falatório do melhor amigo.
Afinal, eles prometeram ir à casa do mais velho depois da sorveteria.
- Ele só deve estar desesperado, Lix.
- Ah, claro, mas tudo bem me deixar desesperado!
- Para de drama, Lee – o moreno resmunga, batucando com a colherzinha de plástico no seu pote vazio de sorvete. Quer ir embora logo – Agora que acabamos aqui com suas reclamações, a gente pode ir embora?
- Sério mesmo? - nenhum dos dois fala nada, tocando os joelhos e dando de ombros. Felix bufa – Ah, vocês são dois amigos bem merdas. Vão logo!
- A gente te ama, Lix – ri Jisung, dando um beijinho na testa do rapaz.
Minho ainda faz bico pra ele, na saída, sussurrando que quer um beijinho também. Vão embora de mãos dadas sob o som de vômito que Felix força.
Quer contar o desespero que sentiu no dia anterior, quando teve que aceitar o vizinho tenebroso sob o mesmo teto dos seus peixinhos indefesos, contudo não teve nadinha de atenção dos outros além daquela - óbvia - cara de deboche do Han e o olhar cheio de ódio de um Minho que parece ter voltado a ser virgem depois de uma semana sem sair com seu namorado.
Só os dois mesmo pra acharem que Felix acredita nos lábios fininhos, ao invés de detestá-los ainda mais.
Suspira uma quinta vez, vendo de rabinho de olho quando o sininho da sorveteria aconchegante toca e, tão escuro quanto sempre, Changbin entra com o livros antigo nos braços e o telefone enfiado na orelha.
Felix ergue o cardápio um pouquinho mais, tentando disfarçar o quanto o observa e que, apesar de fingir escolher alguma coisa, ainda tem meio sundae de caramelo à sua frente na mesa.
Changbin fica apoiado no balcão mesmo, olhando para todas as opções e, com uma crise de identidade de quase dez minutos, sai de lá com uma casquinha gigantesca com cobertura de morango, marshmallows no topo, confetes e três canudinhos comestíveis enfiados na confusão de cores.
O Lee pensa por meio segundo antes de, jogando as notas sobre o balcão, sair correndo da sorveteria sem perder o baixinho de vista. Sabe que está indo por um caminho sem volta – e olha que nem se trata daquele beco esquisito que o garoto escolhe como atalho – conforme esgueira-se pelas latas de lixo, na esperança que o rapaz não o veja.
Quase tem uma insuficiência respiratória quando, dando meio volta nos calcanhares, Changbin acerta uma pedrinha na janela da casa meia-boca do outro lado da rua, parando com o sorvete bem acima da sua cabeça e um sorrisinho sem dentes que Felix nunca vira.
Ele diz alguma coisa pra janelinha, balançando a casquinha de morango com o sorvete meio derretido manchando seus dedos. Dois minutos depois a porta se abre e, correndo pela calçada, uma garotinha minúscula pula nos braços do mais velho. Atrás dela, sacolejando feito um idoso, vem um gato alaranjado gigantesco que enrosca a cauda no tornozelo do Seo.
O ruivo se aproxima mais um pouquinho - só pra casos investigativos, ele jura a si mesmo – e consegue ouvir a garotinha reclamando de como seu pai sempre manda que ela limpe o quarto bem quando o programa de astronautas acabou de começar na televisão.
- Você acha muita criancice eu querer ser astronauta, Binnie? - questiona, sujando o rosto todo com sorvete – Minhas irmãs querem ser esposas quando crescerem.
- E elas nunca vão se divertir, então.
E a loirinha ri, puxando para seu colo o livro pesado com contas de oitava série, sendo que ela acabara de entrar na quinta, para tentar resolver antes que o rapaz de roupas escuras acerte sua cabeça com um peteleco.
- Você leu o livro que eu te emprestei?
O rosto dela se colore inteiro de vermelho e, retorcendo os dedos grudentos de sorvete, ela nega acenando a cabeça. Felix pode ser muitas coisas, mas não é cego.
E, se uma menininha daquele tamanho, consegue admirar tanto assim um cara idiota como Seo Changbin, talvez ele não seja tão idiota quanto parece.
- Ele não me deixou terminar...
- Tudo bem, eu posso te contar a história dele semana que vem – acariciando os cabelos bagunçados, aponta novamente para o livro – Agora vai, termina as contas. Lembra, né?
- Se eu acertar dez, você me dá um sorvete maior semana que vem!
É só quando Changbin gargalha, concordando, que Felix se dá conta de como o que está fazendo é errado.
Aquele é um momento deles – e, principalmente, um momento particular de Changbin – ele definitivamente não deveria estar ali, fuxicando alguma coisa que não é nadinha da sua conta.
Vai embora rápido o suficiente para se sentir menos culpado por se intrometer numa parte da personalidade de Changbin que parece melhor do que a sua própria.
YOU ARE READING
é um livro de 592 páginas; changlix
Fanfiction... e Lee Felix tem absoluta certeza que nele está detalhada toda a magia negra praticada por seu vizinho esquisito e os treze gatos que atrapalham o sono dos peixinhos dourados australianos, mas Seo Changbin só está tentando aprender inglês e pagan...