Notas da autora
Olá! Alguns avisos: não tem hot nesse capítulo, mas tem pré-hot. Então, se você se sente desconfortável com isso, pule esses parágrafos e continue a ler. Outra coisa: de verdade, fica muito legal escutar a música indicada, e vocês vão entender o porquê. É isso, boa leitura!A NOITE ANTERIOR
Casa cheia. Bebidas, música alta. Um cenário quase apocalíptico ao meu ver.
Por mais absurdo que possa soar, esse é o lugar de paz de Elidio. Com seus amigos, as rodas de pagode, cerveja por todos os cantos. Não costumo frequentar estes mesmos encontros, praticamente semanais. Prefiro passar meu tempo livre em minha própria casa, assistindo algo na televisão e relaxando. Prefiro a calmaria a frequentar festas e correr o risco de acordar com uma ressaca daquelas, por algo que, em minha opinião, não valia a pena.
Mas daquela vez era diferente; seria a última daquelas festas durante sabe-se lá quanto tempo. Queria estar presente em sua última noite sobre os ares paulistanos. Sabia que me arrependeria se não o fizesse. Nossa amizade atravessara décadas, o mínimo que devia fazer era me despedir.
Não avisara ninguém, preferi aparecer de surpresa. Cheguei um pouco mais tarde do que o resto das pessoas, trazendo uma garrafa de vinho na mão. Não sabia se era uma boa escolha de bebida, mas estava guardado há meses no armário da sala, provavelmente permaneceria intacto por anos e anos.
Toquei o interfone, não entendendo o porquê de meu nervosismo. O porteiro do prédio, que já me conhecia, disse que iria chamar o anfitrião. Desbloqueei meu celular, já discando seu telefone. Foi quando, num momento de distração, Elidio apareceu. Abriu a porta, surpreso. Me olhou com seus olhos confusos, e, com sua fala já levemente enrolada, perguntou:
– Daniel? O que você tá fazendo aqui?
– Vim me despedir do meu amigo. Não posso?
Lentamente, um sorriso meio abobado estampou seu rosto. Me convidou para entrar, e agradeceu a presença. Questionou sobre o vinho que trouxera, ao que respondi ser para as pessoas que ali estavam. Pegou a garrafa de minha mão, e se aproximou. Sussurrando, como se fosse um segredo, disse:
– Esse aqui vou guardar só para nós dois. A gente toma mais tarde.
E se afastou, rindo como uma criança. Com certeza já devia ter bebido algo para estar naquele estado. Guardou o vinho na cozinha, num lugar onde ninguém o encontraria.
Ao me ver deslocado, sem saber onde me enturmar, me puxou pelo braço até uma pequena roda do lado de fora do salão de festas. Lá estavam Anderson, Cris e Mari. Para o meu alívio, todos grandes amigos com quem já estava familiarizado. Também não esperavam minha presença, pôde-se notar por suas expressões.
Rapidamente iniciamos uma conversa, sobre mil e um assuntos diferentes. Mas, por mais que tentasse, não conseguia manter o foco. Meus olhos insistiam em acompanhar sua silhueta, com seu cabelo bagunçado, o copo de cerveja na mão, o sorriso simpático de sempre. Acredito que todos ali tivessem notado minha ausência.
– Dani? Está tudo bem? – Anderson perguntou. – Já fazem uns 15 minutos que você não tira os olhos do Lico.
– Tá tudo bem sim. Só não consigo imaginar como vai ser sem ele aqui – Comentei.
– Deve estar sendo difícil pra você. Vocês se veem quase todos os dias há mais de 15 anos. – Mari disse, colocando a mão sobre meu braço.
– Sim, mas tudo bem. É o sonho dele – Minha voz saiu em tom de deboche, involuntariamente. – Cris, me dá um gole da sua cerveja.
A mulher prontamente me entregou seu copo quase cheio, ao que bebi de uma vez. Odiava o gosto daquilo, mas precisava me afastar um pouco da realidade, nem que isso me causasse uma dor de cabeça na manhã seguinte. Fiz uma careta, devolvendo o copo vazio. Não reclamou, apenas se sentou ao meu lado, deitando minha cabeça em seu ombro. A princípio, relutei, mas acabei cedendo, a abraçando de um jeito torto. Cris tinha essa habilidade de ler minha mente, e sempre saber como lidar com aquilo.
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7423
RomanceUma amizade intensa, inseparável. Daniel e Elidio sempre viveram suas vidas desta maneira, sabendo que teriam um o outro perto de casa. Mas e se um desejo, uma vontade, abalasse todas as estribeiras daquela relação? E se tivesse 7423 quilômetros os...