Já era hora

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Notas da autora:
Último capítulo! Muitíssimo obrigada a todos que leram, que votaram, que comentaram. Vocês não tem ideia do quão feliz eu fiquei com essa recepção super positiva. Obrigada mesmo.
Boa leitura!

4 MESES DEPOIS

México é um país bonito. Tem tudo daquilo que mais gosto: praia, mar, calor, centenas de atrações culturais, sem falar da comida, que é algo a parte. Parecia ser o lugar ideal, completo.

Naqueles dois meses fizera amigos novos, reencontrara antigos, como José. Havíamos nos conhecido anos antes, e vez ou outra trabalhávamos juntos. Amigo este, que fizera questão de me apresentar a cidade inteira, focando em seus principais atrativos e me orientando. Iria morar num bairro vizinho ao seu, e aos poucos me localizei por aqueles cantos.

Era uma rua cheia de casas baixas, com o chão preenchido por paralelepípedos. Tudo muito colorido, os habitantes dali me receberam de imediato, calorosamente. Havia alugado um quarto numa das casas; era relativamente pequeno, mas suficiente.

Dona Maria, a dona do estabelecimento, apresentou-me os cômodos de seu lar, fazendo o maior esforço para que me sentisse confortável. Era uma senhora de idade, com os cabelos brancos, alguns traços indígenas, usava um óculos que de tempos em tempos deslizava até a ponta de seu nariz, fazendo com que constantemente franzisse o cenho, se esforçando para enxergar. Gostava de cozinhar, sua especialidade eram doces. Passava a tarde toda em seu quartinho de costura, lugar onde fizera questão de frisar que a entrada era proibida. Era o esteriótipo de todas as avós latino-americanas.

Mesmo com meu espanhol limitado, conseguia me comunicar razoavelmente bem. José, meu amigo de longa data, me introduziu aos seus colegas que trabalhariam conosco em um novo projeto. Tiveram muita paciência comigo, até que conseguisse compreender o que falavam. Mexicanos dizem tudo muito rápido, até mesmo alguém fluente ficaria perdido se estivesse na minha pele. Apesar das dificuldades, segui.

Com o passar das semanas, nosso projeto cada vez mais tomava forma. Envolvia diversos atores nativos, além de vários outros também latinos. Tínhamos um prazo grande, conseguiríamos planejar tudo nos mínimos detalhes com certa folga.

Num feriado prolongado, José me convidou para ir numa cidade vizinha, pequena, para que, segundo ele, pudesse "matar a saudade do mar" (por mais que dissesse que o forte de São Paulo não fossem as praias). Aceitei sem titubear, nunca dispensaria um convite como aquele. Íamos acompanhados de Angela (se pronuncia Anrrrrela) e Juan (se pronuncia Rrrruan), dois de nossos colegas de trabalho.

Gostava da ideia de que, se fôssemos a um lugar descontraído juntos, iríamos exercitar nossa criatividade ou algo do tipo. Todos sabiam que aquela era a mais pura mentira, apenas uma desculpa para descansar de nosso árduo trabalho. Ninguém se atreveu a questionar o passeio, ignorando qualquer relação que uma cidade no interior do país pudesse ter com nosso projeto. Não que alguém soubesse o rumo que estávamos tomando; um dia de cada vez.

A praia era razoavelmente bonita. Claro, sem comparações com qualquer areiazinha com um pedaço de mar do nordeste brasileiro. Desconsiderando meu nível de exigência, que estava mais para uma implicação insignificante minha, comentei com os outros:

Muy belo.

4 meses e "muy belo" estava à altura do meu conhecimento linguístico.

Todos concordaram, apoiando seus pertences
numa mesinha próxima à água. Angela e Juan foram em direção às ondas. José se acomodou, comprando algo para beber com um vendedor ambulante que ali passava. Sentei em sua frente, tirando o celular do bolso.

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