A LUA NÃO É LINDA?

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Nuvens quase transparentes e um céu quase limpo. Acho que assim eu descreveria aquela noite maravilhosa. Um vento calmo e sereno soprava, balançando levemente meus cabelos. Lembrei da casa de minha infância, do lago de águas escuras. Lembrei do brilho prateado da lua e de seu reflexo na maré mansa. Aquilo sim era vida. Subia no telhado da casa quase todas as noites, e ali deixava a imaginação tomar conta de mim, viajando por mundos e histórias paralelas. 

Por um breve momento, ali parado relembrando essas memórias, olhei para Nancy. Seus olhinhos brilhavam refletindo o brilho negro do céu. Nunca esquecerei a profundidade daquele olhar. Era como se me tocasse o fundo da alma. Pobre Nancy, pensei em não seguir adiante, mas ela era tão linda, eu tinha que arrancar aqueles olhos. Eles eram perfeitos demais. 

Abaixei e passei a mão em seus cabelos, ela, de forma deselegante recusou meu carinho, mas não fugiu de mim. Olhei-a por algum tempo. A deitei na grama, pedi desculpas pelo incomodo de muda-la de posição e logo me juntei a ela na contemplação do céu estrelado. 

Ficamos algumas horas ali, sem dizer uma palavra um ao outro. Por algumas vezes, ela pareceu querer dizer alguma coisa, mas a mordaça a impedia de falar. 

- Me desculpe Nancy, seria um enorme prazer tirar isso, mas eu sei que você vai gritar e talvez isso estrague nosso momento juntos.

Quando eu disse isso ela fez gestos indicando que não gritaria. Eu, por ter um coração mole, não pude negar seu pedido, e com muito cuidado para não machucar seus lábios, a deixei livre da mordaça.

- Está melhor assim? - Perguntei educadamente?

- Sim

Ela respondeu quase sem voz. Acredito que os quase 50 quilômetros na mala do carro não fizeram bem para seus pulmões - pensei.

-  Você gostaria de conversar? 

- Eu quero ir pra casa!

- A não, não, não. Nancy querida, você não pode mais voltar pra casa. Depois de hoje você não poderá voltar nunca mais. Mas não vamos falar sobre isso está bem? Não vamos estragar esse momento com conversas bobas. 
Eu gostaria de saber se você está confortável aqui comigo?

- Por favor, se o senhor quer dinheiro, a minha família pode conseguir a quantia que desejar. Mas por favor, por favor, me deixe ir.

- Sabe Nancy, você me ofende com suas palavras. Eu jamais pediria dinheiro por você queria. Jamais a desrespeitaria dessa forma. Apenas quero desfrutar de sua companhia só mais alguns instantes.

Percebi que ela queria gritar, mas antes que o fizesse, devolvi sua mordaça. Não gostaria que minha última memória de Nancy fosse traumática daquela forma.
Então eu, gentilmente, a silenciei.

Tirei da mala que trazia comigo um bisturi e uma pequena pá de jardim. As coloquei em cima de uma das raízes. Logo em seguida, comecei a afastar as folhas, deixando limpo o lugar onde pretendia deixá-la.
Demorei algum tempo nessa tarefa. Tinha que estar perfeito para Nancy.

Eu teria caprichado mais se ela não ficasse fazendo uns barulhos irritantes enquanto tentava gritar. Então para ter paz, a nocauteei. Ela caiu para o lado inconsciente.

Cantarolei alguns sonetos. Isso sempre me ajuda a melhorar a concentração.

Terminada a tela, podia então pintar o quadro.

Desamarrei-a, ela, um tanto mais consciente, e a pus em posição vertical no centro do coração que acabara de cavar.
Lhe apliquei o anestésico, mas antes de adormecer, com o susto da picada no pescoço, ela me olhou e disse algo lindo. Perfeita Nancy,  guardo suas palavras até hoje em minha memória.
Relutante, fiz a incisão em seu baixo ventre. Suas vísceras eram tão quentes doutor, o senhor precisava sentir a sensação deliciosa de tê-las em suas mãos.
Como planejado, o sangue logo encheu a forma na terra. Ali estava Nancy, agonizando com os olhos abertos fixados nos meus.
Peguei a rosa que havia trazido, cortei seu caule, apenas a parte que continha espinhos.
Peguei suas duas mãos e as pus, uma em cima da outra. E no meio delas, a rosa vermelha. Envolta em sangue, com seus cabelos negros  e o vestido branco, machados de vermelho,  vi a vida sair de seu corpo.

[FRANCO] E o senhor disse alguma coisa para ela?

[LEWINS[ Sim!
Eu disse:

- Adeus bela Nancy. Em breve estarei contigo, esteja a minha espera do outro lado do riacho.



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⏰ Última atualização: Oct 21, 2019 ⏰

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