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— O que é isso?
— Você acha que eu vou precisar de um xampu “volumizador”?
— Não.
Coloquei o frasco do xampu de volta na bolsa, sabendo que Lee estava
revirando os olhos. Mas aquela ideia simplesmente me deu vontade de rir.
...
ÀS SEIS E MEIA DA MANHÃ, EU ESTAVA NO ALTO DA ESCADA, PRONTA para carregar a
minha mala até a sala quando ouvi alguém bater à porta, e Lee a abriu, entrando
em casa.
— Ei, ei, cuidado! — exclamou Lee, enquanto subia rapidamente a as escadas
para tirar a mala das minhas mãos antes que eu passasse do terceiro degrau. Eu
estava me segurando com força no corrimão para não cair e rolar até o chão.
Quando Lee chegou ao térreo, ele se virou para mim e disse: — Mas que
diabos você colocou nessa mala? Um hipopótamo?
— Na verdade, uma zebra.
— Ah, certo. Claro. Desculpe, eu já devia saber.
Eu ri e ouvi o som de alguém se movimentando atrás de mim, perto da
cozinha. Lee olhou para o lugar de onde vinha o som e eu me virei para ver meu
pai, ainda vestido com o pijama e o seu roupão cor de vinho, os óculos meio
tortos no rosto e apoiados quase na ponta do nariz. Ele os empurrou de volta para
o lugar onde deviam ficar.
— Já estão prontos para colocar o pé na estrada, crianças?
— Sim — respondemos ao mesmo tempo.
— Vocês já conhecem as regras: nada de festas malucas regadas a tequila, não
se afastem muito da beira da praia se forem nadar, sejam bonzinhos com as
outras crianças... — Ele estava sorrindo.
— Nós sabemos — dissemos novamente em coro.
Meu pai riu, já um pouco cansado, mas seu riso se desfez em um bocejo. Eu
sabia que ele já havia tomado uma xícara de café, mas acho que não havia
adiantado muito. Eu mesma já tinha tomado duas. Era um milagre estar
acordada. No ano passado, acabei perdendo a hora por não acordar a tempo.
— Eu sei, eu sei... é o mesmo sermão paterno todo ano, não é mesmo? Vamos
lá, Elle, me dê um abraço antes de ir.
Fui até onde meu pai estava e o abracei, dando também um beijo em sua
bochecha.
— Tenha juízo, hein?
Revirei os olhos. O que ele estava achando que eu faria? Ver se era capaz de
surrar um tubarão com as próprias mãos e sobreviver para contar a história? Fala
sério...
— Você sabe do que eu estou falando, Elle.
Será que eu sabia?
Ouvi Lee tossir diante da porta e meu pai apoiou o peso do corpo na outra
perna, cruzando os braços também. Ele tencionou a musculatura do queixo
brevemente, dando a entender que não estava muito confortável com aquele
assunto. Em seguida, disse: — Com Noah.
De algum modo, consegui impedir que as minhas bochechas ficassem
vermelhas. Em vez disso, suspirei e revirei os olhos.
O lado bom da coisa é que Lee não fez nenhum comentário “engraçadinho”
após o discurso do meu pai.
Já foi suficientemente ruim o fato de Lee ter me presenteado com um pacote
de camisinhas no dia do nosso aniversário (éramos tão iguais que nascemos no
mesmo dia) — fazendo questão de me entregar o presente não somente na frente
dos seus pais, de Noah e do meu irmão de dez anos, como também do meu pai.
Acho que dá para imaginar o quanto isso me fez rir. Ha-ha.
Eu disse: — Vai ficar tudo bem, pai. Não precisa se preocupar. Eu ligo quando
chegarmos lá.
— Tudo bem, querida. — Ele sorriu e, por um segundo, pareceu ainda mais
com um homem de quarenta e oito anos do que normalmente parecia. Eu me
despedi do meu pai e caminhei em direção à porta de casa. Lee pegou minha
mala antes que eu tivesse a oportunidade de fazer isso.
— Lee?
Ele se virou um pouco para olhar para o meu pai. — Sim?
— Cuide da minha garotinha.
Eu o encarei — não, eu não estava olhando para o meu pai, mas para o meu
melhor amigo. E ele estava olhando para mim com um sorriso tranquilo e
amistoso no rosto. Seus olhos azuis eram carinhosos e familiares, e as sardas que
lhe salpicavam o rosto estavam registradas na minha memória da mesma forma
que estiveram por mais de uma década. Senti uma vontade repentina de abraçálo. Eu só queria abraçálo com força e ficar feliz pelo fato de que, por mais que
as coisas mudassem comigo, de arranjar namorados a crescer, eu sempre teria
Lee ao meu lado.
Uma parte pequena dentro de mim, uma voz que soava estranhamente como a
de Lee na minha mente, me disse para parar de agir daquele jeito tão cafona.— Não se preocupe — disse ele, olhando para mim, e percebi que seus
pensamentos eram bem parecidos com os meus naquele momento. — Vou
cuidar.

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⏰ Última atualização: Oct 18, 2019 ⏰

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A Barraca Do Beijo 2  ( A Casa Da Praia )Onde histórias criam vida. Descubra agora