Capítulo 2

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— Faz quanto tempo que você está mexendo nessa mala? — perguntou ele. —
Dezoito horas?
Vacilei. — Oito.
Meu melhor amigo me olhou por um tempo enorme com uma expressão séria
e compenetrada. E, logo depois, nós dois explodimos numa gargalhada.
— Ah, deixe eu ver se adivinho uma coisa. Aposto que você ainda nem
começou a fazer as suas malas — falei, apontando um dedo acusador para ele.
— Você — disse ele, apontando o dedo para mim em resposta — tem toda
razão.
Aquilo não me surpreendia nem um pouco. Todos os anos, Lee fazia as malas
apenas na noite que antecedia a viagem e não dava a menor importância caso se
esquecesse de alguma coisa. Ele era exatamente esse tipo de pessoa, e não estava
surpreso por eu estar ocupada com a minha própria bagagem há oito horas e
ainda não ter terminado. Todo ano, nós fazíamos a mesma coisa.
Lee limpou a garganta e pegou o meu travesseiro, retorcendo o canto da
fronha.
— Bem... eu lhe disse que Rachel vai viajar com a gente, não foi?
Apenas um bilhão de vezes...
Era como se ele estivesse preocupado com a possibilidade de que eu fosse agir
como uma criança de cinco anos e fazer birra, dizendo que ele não podia mudar
as coisas este ano e levar a namorada.
De certa forma, eu até senti vontade de dizer a ele que não queria que Rachel
viajasse com a gente. Queria que as coisas fossem do mesmo jeito que sempre
foram, desde sempre.
Mas seria egoísmo demais, não é mesmo?
Um dos motivos era o fato de que eu estava namorando com Noah, o irmão
mais velho de Lee. Ele já viajaria com a gente de qualquer maneira; mas agora
eu não podia dizer a Lee que não queria que ele levasse a namorada conosco,
quando eu mesma estaria com o meu namorado. Isso era bem mais do que
simplesmente egoísmo.
Além disso, mesmo que eu não estivesse com Noah, as coisas definitivamente
seriam diferentes neste ano.
Noah não poderá ficar com a gente o tempo todo, pois vai com o pai dele dois
dias antes do final da viagem para conhecer o campus da Universidade de
Harvard. Eles vão viajar para Massachusetts, enquanto o restante de nós
continuará na casa da praia.
Eu detestava o fato de que as coisas tinham que mudar. Quando era mais nova,sempre pensei que teríamos a casa da praia e que, independentemente do que
acontecesse, nós sempre iríamos para lá durante o verão, todos os anos.
Apesar de termos nos afastado um pouco conforme crescíamos, nós três —
Noah, Lee e eu — sempre ficávamos juntos na casa da praia. Por uns poucos
dias, podíamos agir como crianças e simplesmente curtir a companhia uns dos
outros. Mesmo quando ficamos um pouco mais velhos e Noah se afastava para ir
a festas na praia ou para beijar alguma garota aleatória que estivesse babando
por causa dele, sempre acabava voltando para ficar com a gente. Porque lá, com
o mar e a areia e sem ninguém mais por perto, nenhum de nós se importava com
o que as outras pessoas pensavam. Era como se o verão na casa da praia
significasse que tudo era diferente — diferente da melhor maneira possível.
Mesmo assim, neste ano, as coisas seriam diferentes, e não de uma maneira
muito agradável.
Pisquei enquanto olhava para Lee, e fiz um esforço para me afastar dos meus
pensamentos.
— Sim, acho que você chegou a mencionar uma ou duas vezes — falei. —
Você disse que ela iria chegar... quando, mesmo?
— Na segunda-feira —, ele disse. — E a família dela irá buscá-la na tarde de
quinta-feira. Eles vão passar por lá a caminho da casa de alguns parentes que
irão visitar.
— Certo. — Concordei com a cabeça e peguei uma calça que estava no chão,
dobrando a peça.
— Elle, você tem certeza de que não vai achar ruim...
— Sim — eu disse a ele, rindo para tentar reforçar as minhas palavras. —
Sim, tenho certeza de que não vou achar ruim, Lee, pela bilionésima vez! Além
disso, vai ser legal ter uma companhia feminina além da sua mãe, para variar.
Afinal de contas, você sabe que minha tolerância em relação à sua família tem
limite, não é mesmo?
— Sim, percebi — disse ele, com um sorriso torto. — Especialmente porque
passamos muito pouco tempo juntos nos últimos anos.
Nós dois rimos e eu sorri para Lee.
— Ande logo, volte para a sua casa e comece a fazer as malas — falei,
empurrando-o para que saísse de cima da minha cama. — Ah, espere um
segundo!
Avancei até minha nécessaire, tirando um frasco pequeno e empunhando-o
diante do rosto de Lee.

A Barraca Do Beijo 2  ( A Casa Da Praia )Onde histórias criam vida. Descubra agora