Olá leitor! Minha obra "Loucuras Urbanas" é composta de vários contos, os quais irei postar nas segundas, quartas e sextas-feiras. O primeiro deles é "Dôsto", de boa narrativa e carregado de sarcasmo. Boa leitura e deixe seu comentário.
Foi numa tarde de uma segunda feira que Dôsto me convidou para tomar um choop na lanchonete "A Fruta Que Pariu". Ela fica na área externa de um centro comercial e eu, desde sempre, achei esse nome sugestivo, talvez, até, mais saboroso que o próprio choop. O cara estava inspirado quando sacou, no fundo do balaio, esse nome. Puta que pariu, mesmo, brother...
Era mês de novembro e o céu cismava que ora sim, ora não. Sacou? É que há um frêmito nas inconstâncias. Variações meteorológicas, quando menos se espera, podem chover ou não.
Há um balancê onde o homem não pode interferir é na natureza...
Quando um há um toró do nada é um salve-se quem puder e, também, na seca, ninguém nina o sol. E foi exatamente devido às estas inconstâncias naturais que o Herbert Viana, indagou: " Será que vai chover..."? Quando eu fui, algum tempo atrás, colher sangue para um check-up lembrei-me do Herbert e perguntei à enfermeira: " Será que vai doer..."?
Ela ficou meio abobalhada, pois devia curtir funk ou coisa do gênero...
Ou, então, Amado Batista na sala de cirurgia. Tudo bem, as nuvens mudam de lugar e nem sempre chove onde as mesmas estacionam. Já vi muitas nuvens negras derreterem sem dizer coisa alguma, simplesmente foram inaladas pelos deuses das secas ou da ressaca, tá ligado?
As plantações estavam à mercê da vossa benevolência e eis que, repentinamente, vão, sorrateiramente como que uma ingrata, desfaz-se como se essência fosse...
O éter é impalpável, você não consegue pegar, encher as mãos de nuvens. As nuvens, baby, ouça, são como que fluidos escapantes por entre os dedos fechados. Por mais tesos que estejam, elas escaparão...
As nuvens, baby, são os amores perdidos e, jamais, em tempo algum, achado.
É isso aí, cara, pode crer na mais incredulidade que permeia o vosso ser. Seja cético, mas nem tanto...
Falou, então, vamos por aí...
O tempo estava tranquilo e favorável (como diz o tal lá), ar ameno e o entorno envolto num fastio suportável. Para mim, ótimo...
Passei por entre as mesas distribuídas liturgicamente e, como sempre, escolhi a do canto, ao fundo. São mesas e cadeiras de madeira talhada, revestidas de um marrom chocolate claro (será isso mesmo, porra?) que propiciavam um ar agradável ao ambiente. Ao redor, um cheiro de tudo que é urbano, mas, na segunda, menos urbano. Não preciso olhar para o céu para saber das nuvens, se as mesmas estacionaram ou não. Puxo a cadeira e sento sob uma cobertura que é uma rodela plástica, um guarda-sol e chuva, talvez? Ela está sustentada por uma haste de madeira roliça, fincada num furo no centro da mesa.
Essa "aura" protetora, subjetivamente, o deixa à vontade. Estava cedo e os garçons não tinham chegado, então vem a mim o próprio dono. Peço um choop na risca porque não gosto de colarinho. Ele entende...
Abro o livro e entro no mundo de Dôsto, coloco os óculos de grau e vou catando as letras num frenesi orbital. Quando estou quase gozando chega, abruptamente, um cara branquelo com cabelos cacheados e senta à minha mesa. Ele puxou a cadeira bruscamente como se estivesse arrancando a cabeça de alguém. Estatelou na mesma meio que bufando, com um copo de cerveja numa mão e resto de cigarro na outra. O cara estava suado e os pingos desciam pela testa e morriam nas sobrancelhas grossas e eriçadas. Mantive-me como manda os salmos e minha mãe, também. Fechei o livro, dei uma secada na tulipa e senti o líquido viajando através do esôfago até morrer no fígado...