Aparentemente, algumas pessoas se juntaram a nós, pois quando acordamos, ainda de madrugada, tinha uma galera jogada nos pufs também. Incluindo minhas primas. Infelizmente, a visão não era tão bonita assim, além de várias pessoas bêbadas babando, havia um monte de garrafas e copos jogados na areia. Lastimável.
Mas eu não gastei meu tempo lamentando, não naquela madrugada; não quando Carol estava fazendo do meu corpo o que ela quisesse. Se ter os lábios daquela garota nos meus já era o paraíso, tê-los no meu pescoço era inominável. Fora os arrepios que ela me causava com suas mãos, subindo e descendo nos meus braços, na lateral do meu corpo, e, maldito seja, entre minhas coxas. Infelizmente, estávamos consciente o suficiente para não ultrapassarmos os limites do decoro. Então só ficamos tentando uma a outra, até o sol nascer e nos obrigar a entrar.
Na época eu não utilizei a palavra paixão para definir o que eu senti por ela, eu dizia que estava encantada, que Carol tinha me enfeitiçado. Foi exatamente assim que defini meus sentimentos quando Larissa me perguntou, enquanto fazíamos nossa pequena higiene no banheiro do segundo andar, o que eu achava da ruiva. Na verdade, ela queria saber se eu ficaria chateada caso ela ficasse com a Carol. Sim, eu ficaria extremamente chateada, mas respondi que não. Porra, ambas eram livres e podiam ficar com quem quisessem, eu não ia dar uma de possessiva com a mina que tinha acabado de conhecer.
Depois que Lari saiu do banheiro - e esqueci de avisar que tínhamos levado biquínis, porque, aparentemente, é mais importante ter o que vestir para a praia que para higiene básica – fiquei remoendo porque estava tão incomodada com o fato dela querer ficar com a Carol. Tipo, minha prima, HÉTERO, queria ficar com a mina que EU estava pegando. O problema nem a orientação sexual dela, é... cara, ela não podia esperar eu voltar para São Paulo antes de pegar a garota? Elas eram vizinhas. Eu só ia estar ali por mais 48 horas.
Porém, não precisei remoer isso por muito tempo. Após terminar de amarrar meu biquíni e deixar as roupas no quarto reservado para as garotas – sim, o segundo andar foi dividido entre quarto de garotas, quarto de garotos e quarto para quem quiser fazer coisas que não seja dormir – encontrei Carol encostada no corrimão. Se anjos usassem roupas de banho – e por roupas de banho quero dizer um shorts minúsculo e um top tomara que caia, que geralmente ficam horríveis mas nela ficou perfeito, graças aos seus seios pequenos – eles pareceriam com Carol neste momento.
"Sua prima me disse que você não se importaria se eu ficasse com ela", ela disse enquanto roía as unhas já pequenas.
Um arrepio subiu pelo meu braço e um frio na barriga surgiu. A voz dela é fina, mas não chega a ter o mesmo timbre de uma criança. E é um pouco arrastada, e baixa. Carol sempre será a pessoa com a voz mais sexy do mundo.
"Mentira. Eu me importo. Só não posso impedir", respondi parando na frente dela. A escada estava vazia, assim como o corredor atrás de mim.
"Hum, sorte sua que eu não quero ficar com ela", Carol passa para trás de mim, arrumando meu cabelo num coque. Ela termina me abraçando, deslizando preguiçosamente os dedos pela minha barriga.
"Sorte minha mesmo", sussurro enquanto ela beija minha nuca.
- - -
Passamos a tarde na praia.
Depois de meticulosamente passar protetor solar na pele pálida de Carol, ficamos na água até a lua surgir. Sim, ficamos até nossas peles implorarem para a gente ficar longe de água. Só saí para buscar alguma coisa comestível e voltei. Nunca fui muito fã de praia, mas estar perto de Carol fazia eu esquecer desse fato. Eu só queria ficar perto dela.
E fiquei. E beijei.
E quando saímos, finalmente, da água, tomamos banho juntas. Cara... outra coisa que não gosto de fazer, mas com Carol foi diferente. Primeiro que estávamos ajudando uma a outra a tirar o sal do corpo, e, bem, já que nossas mãos estavam tocando o outro corpo mesmo... era uma questão de quem cederia primeiro. No final, ninguém cedeu. Nathália entrou no box antes da gente concretizar qualquer coisa.
E eu era virgem – e acredito, espero, que a maioria das pessoas aos 14 anos sejam virgens.
Sim, eu era virgem. E só mais tarde fui saber que Carol também era. Mas no banho, meu medo de machucá-la ou não agradá-la falou bem mais alto. Estava tão frustrada comigo mesma que nem percebi que as garotas estavam organizando uma pequena "festa do pijama" no nosso quarto.
Estava vestindo apenas a calcinha - do dia anterior - e a regata branca quando me joguei no colchão perto da janela. Como não dormi no quarto na noite anterior, fiquei no chão; pelo menos consegui um colchão, mas também não teria me importado se estivesse deitada direto no chão do quarto. Minha animação era 0, mas era divertido ver as garotas pulando na cama ou no meio do quarto, no completo escuro e ouvindo as próprias músicas.
Até Carol se juntar a elas. Ela não tinha um corpo voluptuoso. Seios pequenos, praticamente sem cintura, quadris estreitos, e pernas longas. Ela é mais alta que eu, e que a maioria das meninas ali. Mas dançava lindamente. Cacete, o corpo dela foi feito para dançar. Não sei que música ela estava pensando, mas com os olhos fechados e a boca levemente aberta, vestindo uma camiseta rosa – que não sei de onde surgiu –, ela estava gostosa demais. O cabelo estava úmido, caindo um pouco abaixo do ombro. A pele quase bronzeada, deixando as sardas mais evidentes.
Não existe mulher mais linda que ela, era o único pensamento que passava na minha cabeça enquanto eu descaradamente comia o corpo dela com os olhos. O que eu tinha feito na vida passada para nessa poder beijar um monumento grego desse, não fazia ideia. Mas ficava muito agradecida. E fiquei muito mais quando, depois do pequeno show, ela veio até mim, passou por cima do meu corpo e deitou ao meu lado no colchão.
Enquanto as garotas dançavam e riam e faziam sei lá o que no quarto, nós ficamos nos encarando, dividindo a respiração, passeando os dedos lentamente um no corpo da outra. Só existia nós duas naquele quarto. E eu me afoguei naqueles olhos castanhos.
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Vermelho é a cor mais quente ✔
Short Story| +14 | Verão de 2015. Uma festa em Angra, no Rio de Janeiro. Três dias que eram para ser os mais loucos da minha vida, e se tornaram o mais inesquecíveis. Não pela quantidade de álcool absurda, nem pela casa sensacional, muito menos pela maravilhos...