O estalo metálico da tranca me despertou de sobressalto. Um de luz amarelada cortou a escuridão quando a porta da cela se abriu. Meus olhos foram feridos pela claridade quando o brilho do lampião me atingiu.
- Mova-se, ratazana, ou vamos pegar o chicote!
Dois guardas do calabouço prenderam uma corrente ao anel de metal que me rodeava o pescoço e me puxaram até eu ficar de pé. Cambaleei para frente ante a dor ao redor do pescoço. De pé, com as pernas trêmulas, senti os guardas eficientemente acorrentarem minhas mãos para trás e algemarem meus pés.
Evitei olhar para a luz enquanto me conduziam pelo corredor principal do calabouço, ignorando os chamados e gemidos dos outros prisioneiros, os guardas sequer desaceleraram o passo.- Tem alguém que vai balançar na ponta da corda.
- Um baque, um estalo e sua última refeição vai deslizar pelas suas pernas!
- Uma ratazana a menos para alimentar.
- Levem-me! Levem-me! Eu também quero morrer!Nós paramos. Através das pálpebras semicerradas vi uma escadaria. Em uma tentativa de colocar o pé no primeiro degrau, tropecei nas correntes e caí. Os guardas me arrastaram a força. Após atravessar duas grossas portas de metal, fui jogada no chão. A luz do sol feria meus olhos. Eu os fechei com força e lágrimas rolaram por minhas bochechas.
"É agora" pensei começando a entrar em pânico. Contudo, saber que a execução daria fim à minha miserável existência no calabouço me acalmou.
Novamente sendo colocada de pé à força, segui cegamente os guardas.
Quando passamos por duas janelas abertas, olhei para fora com uma voracidade que nenhum alimento seria capaz de saciar.
A brisa fresca cheirava como um perfume caro, e eu inspirei profundamente. O calor acariciou minha pele. Um toque agradável comparado ao calabouço constantemente úmido e gelado.
Supus ser o início da estação do calor, o que significava que eu passara cinco estações trancada naquela cela. Parecia um tempo excessivamente longo para alguém cuja execução estava marcada.
Cansada devido ao esforço de marchar com os pés acorrentados, fui levada até uma sala espaçosa. Mapas do Território de Ixia e das terras ao seu redor cobriam as paredes. Pilhas de livros no chão dificultavam o caminhar em linha reta. Velas em vários estágios de uso estavam espalhadas pelo recinto.
Uma grande mesa de madeira, abarrotada de documentos, ocupava o centro da sala. Nos fundos do escritório, uma mulher sentava-se atrás de uma escrivaninha. Às suas costas, uma janela quadrada estava aberta, permitindo que uma brisa soprasse pelos seus cabelos acobreados. Pelas conversas sussurradas entre as celas da prisão, eu já sabia que prisioneiros condenados eram levados até um oficial para confessar seus crimes antes de serem enforcados.
Trajando calça preta e uma camisa da mesma cor com dois diamantes vermelhos costurados na gola, a mulher atrás da escrivaninha usava o uniforme de um conselheiro do Comandante de Ixia. Seu rosto pálido não exibia nenhuma expressão. Quando seus olhos, verdes como duas esmeraldas, me examinaram, arregalaram-se de surpresa.
Subitamente me dando conta de minha aparência, abaixei o olhar para a vestimenta de prisão em frangalhos e para os pés descalços sujos, ásperos de tantos calos. Pele empoeirada aparecia por baixo dos rasgos no tecido fino. Meu cabelo loiro comprido não passava de um monte de nós ensebados, impossível até determinar sua cor.- Uma mulher? O próximo prisioneiro a ser executado é uma mulher?
Sua voz era fria, meu corpo estremeceu só de ouvi-la. A calma que eu tentava transparecer me escapou. Se os guardas não estivessem comigo, teria desmoronado no chão.
A mulher passou a mão pelos cabelos avermelhados.- Eu deveria ter me dado ao trabalho de reler o processo. - Ela gesticulou na direção dos guardas. - Estão dispensados.
Depois que a porta se fechou, ela acenou para que eu me sentasse na cadeira diante da sua escrivaninha. As correntes fizeram barulho quando me empoleirei na beirada do assento.
Ela abriu a pasta sobre a mesa e examinou os papéis.- Carol, hoje pode ser seu dia de sorte. - disse.
Engoli uma resposta sarcástica. Uma lição importante que aprendi da pior forma durante minha estadia no calabouço foi a de jamais responder com impertinência. Em vez disso, abaixei a cabeça, evitando fitá-la diretamente nos olhos.
- Bem-comportada e respeitosa. Você está começando a me parecer uma boa candidata.
Apesar da bagunça ao nosso redor, a escrivaninha estava meticulosamente arrumada. Além da minha pasta e alguns utensílios para escrita, os únicos outros itens sobre a mesa eram duas estatuetas negras reluzindo com detalhes em prata, um par de aranhas esculpidas com uma perfeição quase real.
- Você foi julgada e condenada pela morte de Korath, único filho do general Yon-rogg. - Ela se interrompeu, alisando as têmporas com os dedos. - Isso explica a presença de Yon-rogg aqui essa semana, e o interesse incomum que ele vem demonstrando pela agenda de execuções... Suponho que vá contestar a condenação. Dizer que foi incriminada, ou que matou em defesa própria. - Ela recostou-se na cadeira, aguardando com fatigada paciência.
- Não, senhora - sussurrei, o máximo de que fui capaz com as cordas vocais há muito sem serem usadas. - Eu o matei.A mulher de preto endireitou-se na cadeira, lançando-me um olhar duro. Depois, gargalhou.
- Isso pode acabar saindo melhor do que eu planejei. Carol, estou lhe oferecendo uma escolha. Você pode ser executada, ou pode ser a nova provadora de comida do comandante Mar-vell. O último provador morreu recentemente e precisamos preencher a posição.
Com o coração pulando eu a fitei, boquiaberta. Ela tinha que estar brincando. Provavelmente estava se divertindo as minhas custas. Ótima maneira de dar algumas gargalhadas. Observe a esperança e a alegria brilharem no rosto do prisioneiro antes de enviar o acusado para a forca e destroçá-lo. Eu resolvi fazer o jogo dela.
- Apenas uma tola recusaria o trabalho. - Minha voz saiu um pouquinho mais alta dessa vez.
- Bem, é uma posição vitalícia. O treinamento pode acabar sendo letal. Afinal de contas, como é que vai identificar os venenos na comida do Comandante se não sabe qual é o gosto deles? Terá um quarto no castelo para dormir, contudo passará a maior parte do dia com o Comandante. Não haverá dias de folga. Nada de marido e nem filhos. Alguns prisioneiros chegaram a optar pela execução. Pelo menos assim sabiam exatamente quando iam morrer, e não precisavam ficar imaginando se não seria com a próxima mordida.Ela cerrou os dentes e um sorriso bestial apareceu no seu rosto. Estava falando sério. O meu corpo todo estremeceu. Uma chance para viver! Servir ao Comandante era melhor do que o calabouço, e infinitamente melhor do que a forca. Perguntas atravessaram minha mente: sou uma assassina condenada, como podem confiar em mim? O que me impediria de matar o Comandante, ou de escapar?
- Quem é que prova a comida do Comandante agora? - perguntei, receando que se fizesse as outras perguntas, ela se daria conta do seu erro e me enviaria para a forca.
- Eu. Sendo assim, estou ansiosa para encontrar um substituto. Além disso, o Código de Conduta estabelece que o emprego deve ser oferecido a alguém cuja vida esteja em jogo.Olhei em volta sentindo excitação me preencher. O estado e a quantidade das velas sugeriam alguém que trabalhava até tarde da noite.
Olhei de volta para a mulher no uniforme de conselheira. Ela devia ser Natasha, a chefe de segurança pessoal do Comandante e líder da vasta rede de inteligência do Território de Ixia.- O que digo para o carrasco? — Natasha perguntou.
- Que não sou tola.
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Poison Study | AU Romadanvers
FantasíaSentenciada a morte por matar o único filho de um importante general, Carol se encontra nas masmorras de um comandante e se vê diante de uma importante decisão: enfrentar seu destino na forca ou aceitar se tornar a provadora de comida do comandante...