Capítulo 02

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⚠️ Cuidado, o capítulo contém conteúdo sensível sobre suicídio, então, se for um gatilho para você, por favor, não leia ⚠️


Ainda consigo me lembrar da dor, em um lapso que recobrei a consciência, eu escutava o barulho de uma ambulância, dois homens me olhavam com expressões preocupadas, enfermeiros? Era o que eu imaginava. Todo o meu corpo doía, eu não conseguia mover um músculo sequer, contudo, eu só queria saber de uma coisa.

- Jongin - As palavras saíram de forma lenta, até minha garganta doía, era como se houvesse ferro quente nela, não demorou muito e mais uma vez tudo se tornou escuridão. 

Bem, nunca conseguirei esquecer, era de manhã cedo quando eu acordei em um quarto de hospital, o braço todo engessado, assim como minha perna esquerda, meu peitoral estava enfaixado, assim como minha cabela, junto de alguns curativos em meu rosto. Aparentemente eu tinha quebrado algumas costelas, eu não sei, não consegui me concentrar em nada, era 06:32 da manhã quando o médico deu a triste notícia.

- Infelizmente ele não resistiu e acabou falecendo antes de chegar ao hospital - Essas foram as piores palavras que eu ouvi em vinte e quatro anos de vida.

Eu queria chorar, mas as lágrimas não conseguiam sair, eu queria gritar, mas me faltou voz, eu falhei até em sofrer pelo garoto que amei, assim como falhei em defendê-lo quando ele mais precisou, nem por ajuda eu consegui gritar. Eu fui fraco, eu continuo sendo fraco, afinal de contas, aqui estou eu, em uma cama de hospital, sem conseguir me mover sozinho, lamentando a perda daquele que marcou minha vida em apenas trinta dias, eu nem mesmo tive tempo de pedi-lo em namoro, de me ajoelhar, montar um encontro romântico, me desculpe meu amor. 

Lembro que recebi a visita dos meus pais e de amigos, contudo, eu agia indiferente para tudo, todas as dores físicas tinham sido reduzidas a nada, pois a dor de perder alguém que eu amava era maior. Parecia que meu peito estava sendo encolhido e meu coração esmagado até não restar mais espaço e acabar se esfacelando. Contudo, a dor parecia longe de sumir, principalmente quando um homem desconhecido adentrou o meu quarto, pelos seus trajes, logo supus que era algum advogado, o que não demorou muito para se confirmar.

Nem mesmo Shakespeare seria capaz de retratar em suas obras a dor que eu senti quando o homem de estatura mediana, cabelos quase totalmente grisalhos e voz grossa me informou que era o representante da família Kim e depois de breves explicações, informou que eu não poderia comparecer ao funeral do Jongin, se eu fizesse isso a minha família iria sofrer as consequências. Eu sempre me perguntei quem era a família dele, lamento que só descobri após a sua morte, era uma família dona de uma grande indústria produtora de automóveis, parecia uma informação óbvia para quem se interessava pelo assunto, contudo, nunca foi do meu feitio. 

Sempre me apeguei a coisas pequenas, tidas como irrelevantes pela maioria das pessoas, foi justamente por isso que eu aproveitei cada segundo ao lado do meu Jongin. Nada me faria esquecer aqueles olhos se fechando quando ele sorria, o seu cabelo reluzindo enquanto ele dormia e o sol invadia o meu quarto pela janela e jogava seus raios de luz sobre seus fios castanhos e rosa. Ou o dia em que fomos a um cine autorama. Vimos um filme de dentro do Opala vermelho, aquele que foi o guardião de muitos de nossos beijos, ainda lembro do momento em que os protagonistas se beijavam de forma efervescente e eu nada mais fazia além de me concentrar na cena, contudo, ele se concentrava em mim, tanto que ele roubou minha atenção, e assim como o mocinho, ele segurou em meu maxilar e me beijou, eu me senti como a protagonista do filme, amado, senti que eu era parte de algo, meu coração até batia aceleradamente, se fosse possível, eu o teria dado para ele, pois já não me pertencia mais, desde o momento em que eu sentei pela primeira vez naquele Opala e disse para mim mesmo e para ele, que seria apenas uma noite, que eu apenas o usaria. dizem que as palavras têm poder, contudo, naquela noite, foram apenas palavras falsas, mascarando algo que eu não queria admitir, minha fascinação por Kim Jongin, que ao decorrer dos dias, se tornou amor, amor esse que hoje foi retirado de mim. 

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