Plenitude

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A noite cobre a terra como um véu oculta um rosto. Em meio à escuridão, caminho pela minha casa. Um barulho de porta batendo foi forte o bastante para me tirar da cama.

Vou até o quarto de meu pai e, assim que abro a porta, escuto a primeira badalada de seu relógio antigo. Enquanto o relógio ressoa, percebo que meu pai não está ali. Uma gota de meu suor toca o chão ao mesmo tempo da badalada final. O dia começa a esquentar, mas meu corpo esquentou mais rápido.

Uma luz entra no quarto e meu olhar a segue. Vejo o horizonte: Preto virando azul. Azul virando roxo. A cor passa a revelar os detalhes do ambiente, como uma mão lentamente removendo o negro véu. Vejo meu pai, do lado de fora da casa. Silhueta roxa se torna corpo. Rosto. Sorriso. Começo a enxergá-lo por completo. Nenhuma outra gota de suor cai do meu corpo. Caminho até meu pai e fico em pé ao seu lado. Ambos estamos sentindo os primeiros raios de sol da manhã em nossos rostos.

- Bom dia, filho. - Diz meu pai sem olhar para mim. Antes de dizer uma resposta, sou interrompido:

- Aproveita esse momento. É só uma vez por dia.

E aproveitamos. Em silêncio. Indivíduos unidos. Plenos.

O Eu AbstratoWhere stories live. Discover now