TIC TAC ♡ TXT

𝐂𝐇𝐀𝐏𝐓𝐄𝐑 𝐈𝐈𝐈. tic tac, você tem uma semana.

(chapter three)

   A porta atrás de ambos os garotos abriu-se tão rapidamente que mal tiveram tempo de se levantar. Os olhos que carregavam o cansaço daquela tarde longa e tediosa agora expressavam uma fúria impiedosa, poderiam dizer que era quase palpável. Taehyung não esperou que os garotos se levantassem, puxou-os subitamente até a sala que outrora se encontrava concentrado em tragar a segunda cartela de cigarros mentolados que trazia no bolso.

   — Podem me explicar o que aconteceu ali? — Sua voz cortou o silêncio que se formou logo após a entrada (nada triunfal) de Taehyun e Huening Kai. Os garotos não estavam no melhor estado, e apesar disso, se opuseram às ordens do professor que já não tinha paciência alguma, petrificados como estátuas de pedra e calados como se fossem mudos. O ar-condicionado barulhento por falta de conserto era o único que dispensava o silêncio perturbador que fazia naquela sala, além de suas respirações descompassadas e tensas diante do olhar autoritário do Kim. — Eu quero uma explicação. E quero agora.

   — Foi ele quem começou! — O menino alto e de cabelos castanhos, com uma das mãos grudada ao rosto, apontou para o Kang que estava em pé ao seu lado, parado com uma careta que deixava o Kim mais intrigado com a situação. O homem à sua frente negou insistente, antes de olhar em seu relógio de pulso que horas eram.

   — Eu não perguntei quem começou, e sim o que aconteceu.

   — Estávamos acertando as contas, professor. — Taehyun pronunciou, e o batuque dos dedos do mais velho na mesa de madeira polida e escura eram incômodos tanto quanto seu olhar penetrante. Ele procurava por algo. Sabia que não deveria confiar em um garoto como Kang Taehyun.

   — Eu não acredito em você, mas vou fingir que sim. — Respirou fundo, pegando a caderneta que estava largada sobre a mesa. Pegou uma caneta dentro da gaveta escondida, e entre seus pertences encontrou um isqueiro. — É melhor do que tentar entender o que aconteceu. — Suspirou, acendendo mais um cigarro, jogando o que havia restado do último na lixeira próxima a porta. — Vocês irão ficar aqui pelas próximas duas horas, e espero que fiquem em silêncio. Já causaram problemas demais por hoje. Podem se sentar em um dos lugares vazios.

   Eles caminharam até pontas distintas da sala de aula que aparentava estar ainda menor e quente do que há poucos minutos atrás. Os olhares curiosos queimavam em busca de algum tipo de resposta. Era de se esperar Kang Taehyun por ali, já que ele acompanhava Yeonjun por tudo quanto era canto daquela cidade estupefata e californiana, mas ter Huening Kai o acompanhando era uma novidade. E das grandes.

   Não era surpresa para ninguém que aquele garoto era só mais um entre os diversos que usavam regatas no verão acompanhadas com shorts floridos e uma corrida pelas praias esplêndidas de Anyang. Um garoto deveras normal e nada interessante. Era quase como um costume ser apagado, completamente invisível. Os olhares que ardiam em cada passo que ele dava era algo novo, e que ele não havia gostado muito, sendo sincero. Mas, decerto, estar ali também era surpreendente até mesmo para ele.

   — Você por aqui? — Ouviu a voz de ambos os garotos que há momentos atrás, espionava por detrás da porta.

   — Eu quem deveria perguntar! O que faz aqui, Beomgyu? Achei que já estivesse em casa. Soobin me avisou que vocês estavam indo.

   — Ele mentiu, óbvio. — Yeonjun bagunçou os papéis que tinha sobre a mesa, antes de jogar um em direção à mesa de Beomgyu. — Temos assuntos a tratar, Huening, caso não tenha percebido.

   O pequeno pedaço de papel amarelado e manchado de canetinha colorida e brilhante tinha anotado numa caligrafia caprichada a pergunta que tanto rondava sua mente durante o dia de aula. "Estou esperando pelo que me deve. Você tem uma semana."

   — Bem, foi divertido. — Arrumou as coisas jogadas de forma desengonçada em sua carteira, colocando tudo em seu devido lugar em sua mochila reluzente, cheia de enfeites que prendiam a atenção. — Mas agora já deu a minha hora de ir. Foi bom encontrar vocês.

   — Onde pensa que vai? — O Choi perguntou, o papel ainda se perdia entre os dedos enquanto via Yeonjun caminhar lentamente até a porta. Rapidamente, o olhar do professor fora até o garoto e apesar de ser o que mais queria, pediu para que parasse no lugar.

   — Você não pode sair, Yeonjun. Está na detenção.

   — Prefere mesmo que eu continue na mesma sala que o senhor?

   Revirou os olhos, anotando palavras corridas na caderneta antes de continuar. — É, você me convenceu. Espero não te ver pelos corredores. — Se levantou, pegando a chave no bolso da calça. — Aproveite e leve o seu cachorrinho com você. — Abriu a porta, logo deixando com que o garoto passasse. Taehyun se levantou do lugar, suspirando com pesar quando ouviu a risada sarcástica do Kim com o seu incômodo com o apelido idiota.

  Com um movimento frenético, suspirou sem paciência e pediu para que todos fossem embora. Os alunos se levantaram numa algazarra e apenas Huening Kai e Beomgyu andaram calmamente até a porta, antes que o professor os chamassem.

   — Vocês dois, já estão de saída? Gostaria de falar com vocês. — Chamou-os, apreciando a calmaria que havia ficado naquela sala. Os meninos se aproximaram, e ele indicou para que se sentassem. — Bem, eu não sei como dizer isso, mas... — Respirou profundamente, repetindo os movimentos com a perna inquieta, ouvindo o solado do sapato bater de forma sincronizada no chão. — Se estiverem com problemas com aqueles garotos, sabem que eu posso ajudar, não é? Sei que não tenho muita paciência na maioria das vezes, não sei lidar com adolescentes, mas eu ainda estou a disposição caso precisem de ajuda.

   — Obrigado, senhor Kim, mas nós estamos bem. Não estamos, Huening?

   — É, nós estamos. Mas obrigado, professor. — Fizeram uma reverência, antes de deixarem o Kim sozinho na sala.