Prólogo

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Era noite e haviam acabado de sair do restaurante do hotel. Camila não tinha mais clima para permanecer em viagem com toda aflição que vinha causando a família, e por isso, no começo do dia, quando corriam escada abaixo para pegarem o trem em direção a Cote d'Azur, revelou a Valéria que voltaria ao Brasil. Surpreendeu-lhe o comunicado, era fato, mas se Camila iria voltar ela iria junto, nada ali teria graça sem ela. Ao menos no jantar Camila já estava toda sorrisos e brilho no olhar, e isso aqueceu seu coração, não gostava de vê-la cabisbaixa.

-É melhor começar a organizar as malas. -Disse após verificar o celular, sentando-se ao lado de Camila no colchão. -Em dois dias estaremos no Brasil, amanhã a noite pegaremos um avião para Londres, chegaremos lá de madrugada, e de lá só tem um vôo no final da tarde pra São Paulo, pegaremos esse.

-Obrigada, Val. -Mantinha um sorriso nervoso e as mãos inquietas. -Eu nem sei o que dizer, ou como te agradecer... -Gaguejou.

-Camila... -Seu tom era apaziguador. -Algum problema? Aconteceu algo? -Perguntou brandamente.

-É só, que... Que... -Camila encarava as próprias mãos enquanto as mexia nervosamente. -Eu tô com uma coisa, uma dúvida que eu queria te perguntar.

-Pode dizer, sou toda ouvidos. -Cruzou os braços e em uma postura de ouvinte. -Pode falar a gente conversa sobre tudo, não é? -Estimulou vendo que a garota parecia hesitar. -Do quê você tá com dúvida?

-Eu tô com uma dúvida sobre a gente. -Ainda brincava com os próprios dedos. -Nós duas... O quê, o quê nós somos? -Levantou o rosto e Valeria viu as bochechas rubras de Camila.

-Como assim o quê nós somos? -Questionou com as mãos na cintura, sabia onde aquela conversa ia dar, mas queria ver como a morena reagiria.

-Bem... -Pigarreou. -Você me chamou pra fugir, quer dizer, pra viajar com você e eu vim. -Camila falava cada frase como se pensasse exaustivamente em cada palavra. -E agora que eu decidi voltar pro Brasil, você disse que vai voltar comigo. Eu quero saber, como a gente vai ficar, agora? -A olhou uma fração de segundos, e baixou a vista novamente.

-Bom somos o que sempre fomos: duas mulheres jovens, lindas, que amam dançar e curtir a vida, e que, agora estamos fazendo isso juntas. -Disse em tom habitual, como se toda a seriedade das palavras de Camila não lhe tivesse atingido. - Por quê?

-Sim, eu sei. -Riu pelo nariz. -Então é essa a sua resposta? -A encarou firme. -Nós estamos juntas pra curtir a vida, e só? -Seu tom era afiado.

-E de que outra maneira nós poderíamos estar? - Perguntou em um tom mais sério. -Você gostaria que estivéssemos de outro jeito? -Sentiu sua confiança falhar, mas não deixou transparecer.

-Sinceramente, eu não sei. -Encolheu os ombros.

-De que jeito você não sabe, se quer ou não, estar comigo? - Pressionou.

-Eu não sei... - Seus com olhos eram brilhantes. - Tudo o que eu sei é que eu quero que a gente fique juntas, de todo jeito, em qualquer situação e em qualquer lugar. E você? -Sua voz soou insegura.

-Bem, eu te chamei pra conhecer o mundo comigo... -Suspirou. -Só que no meio do caminho você resolveu voltar pra casa, e eu decidi voltar com você, porque você é a única pessoa com quem eu quero ir pra aonde for. -A olhou intensamente. -E isso quer dizer que eu estou com você, que se depender de mim estamos juntas, mas juntas do jeito que você quiser... -Sentia sua garganta seca. -Como amigas, parceiras de viagem, de balada...

-Ou como minha parceira de vida. -Camila segurou-lhe a mão. -E isso significa que eu quero ficar com você de todas as formas, que você também quiser. -Ela tinha as bochechas vermelhas.

-Você fica ainda mais linda com vergonha. -Gargalhou. -Então nós estamos juntas? De verdade? -A morena só confirmou com a cabeça, enquanto a encarava. -Ótimo, então eu vou voltar pro Brasil em grande estilo. -Sorriu indicando o corpo da mulher a sua frente.

Valéria aproximou seu rosto ao de Camila, que com a aproximação havia fechado os olhos, os narizes quase se tocando, a ruiva sentia uma respiração apressada sobre seu rosto, não que ela estivesse diferente, tinha a impressão de que ofegava. Resolveu não mais pensar, aproximou os lábios do Camila, quase podia roça-los, mas no último instante desviou e beijou-lhe a bochecha. Um beijo demorado e suave. Camila abriu os olhos e a encarou confusa, piscando um par de vezes, em um questionamento silencioso.

-Primeiro, você vai ter que querer que eu te beije. -Falou com uma voz séria. -E depois, vai ter que pedir por um beijo meu. -Sorriu debochada. -Ou você acha que eu saio beijando quem me aparece pela frente, hein? -Provocou.

-Eu quero que você me beije, e eu quero beijar você. -Disse aproximando os rostos e quando quase tocou os lábios da ruiva, esta afastou-se. -O que foi...? -Questionou confusa.

-Você vai ter que pedir. -Disse convencida.

-Mas eu acabei de pedir... -Seu tom saiu levemente contrariado.

-Não, eu quero que você peça direito. -Sorriu sugestiva. -Que me convença, que você merece um beijo meu. -Estalou a língua.

-Hum, então eu tenho que merecer. -Camila falou em um falso tom pensativo, enquanto a olhava sedutoramente. -Sabe... -Aproximou a boca ao ouvido da ruiva. -É minha última noite nessa cidade linda, em um hotel super luxuoso e na companhia da mulher mais maravilhosa do mundo, e tudo o quê eu mais quero é aproveitar essa última noite, beijando essa mulher. -Mordeu-lhe a orelha. -Mas eu não sei se eu mereço alguém tão linda e especial como ela. -Terminou com um falso ar de inocência.

-Hum... -Gemeu fingindo tédio. -Não acho que você está um beijo... -Sorriu maliciosa. -Você tá merecendo muito mais.

Valéria sorriu, e enfim a quebrou a distância entre ambas. Beijou-lhe devagar, apreciando o toque dos lábios, o enrolar de línguas, o choque percorrer seu corpo, a mão de Camila em sua coxa... Tudo. Separaram-se a procura de ar, e Camila sorria com os olhos brilhando, seu peito subindo e descendo, sem fôlego. Não pôde admirá-la por muito tempo porque logo a morena beijou-lhe, um beijo tão intenso e profundo que a derrubou no colchão, assustando-a. Passaram horas entre beijos, aproveitando e acostumando-se ao toque uma da outra, não desgrudavam-se um instante, e isso era tudo o que Valéria queria, não se desgrudar de Camila.

Cartas na mesa (Vamila) Onde histórias criam vida. Descubra agora