Epílogo

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Sete dias atrás completara onze meses que havia se casado, pela segunda vez, e estava no Brasil a quinze dias, pois o mais novo membro da família Nasser estava prestes a completar seu primeiro mês de vida e Camila ainda não o conhecia pessoalmente. Não aguentando de saudade, e como fazia parte do plano de viagem conhecer o continente americano inteiro, retornaram ao Brasil para conhecer o novo sobrinho de Camila. Bem aqui estava ela, em plena quinta-feira no final da manhã indo à loja do sogro buscá-lo, enquanto sua esposa e a família dela esperavam ela e o patriarca dos Nasser para almoçarem juntos. Era cômico, fato! Nem nos seus maiores devaneios imaginou uma situação como essa, logo ela que nunca teve uma família de fato, e sempre se virou sozinha, estava agora rodeada de familiares agregados. Estacionou metros antes pois um caminhão tomava a frente da loja, dentro do estabelecimento estava apenas um rapaz, alto, nariz protuberante, cabelos e olhos muito negros e algo que para ele deveria ser uma barba, estava rodeado de caixas e com um papel na mão.

-Bom dia!

-Bom d... -O rapaz respondeu tirando o olhar da lista. -Dia.

-Seu Miguel? -Chamou inclinando-se sobre o balcão da loja.

-Ele não demora, deve estar no estoque, nos fundos da loja.

-Ah, não tem problema, vou ter que esperar de todo jeito mesmo. -Começou a mexer no celular.

-Eu só vim deixar umas encomendas, vai ser rápido. -Justificou. -Prazer, Ozam Malli! -Apresentou-se estendendo a mão e dando um passo em direção à Valéria.

-Valéria Augustin, prazer. -Cumprimentou-o com um aperto de mão e um beijo impessoal no rosto. -Você é estrangeiro?

-Eu não, já nasci aqui no Brasil, mas meus pais sim. Turcos!

-Turquia, é um país interessante! -Comentou lembrando-se do lugar.

-Teve a oportunidade de conhecer?

-Bem pouco, mas o suficiente pra apreciar um bom Raki.

-Eu também gosto muito. -O rapaz sorriu exageradamente. -É uma bebida muito boa, tem um restaurante aqui em SP que fabrica seu próprio Raki, é excelente. -O rapaz puxou o celular exibindo o perfil do restaurante.

-Valeu pela dica, qualquer dia dou passada por lá pra experimentar. -Disse mexendo no celular seguindo o perfil do restaurante.

-Tenho certeza que você vai gostar, eu... -O rapaz gaguejou. -Amanhã vai ter um evento lá, podíamos marcar de tomar...

-Mas que pouca vergonha é essa na minha loja? -Seu Miguel bradou em tom indignado retirando os óculos. -Ozam você está aqui a trabalho, é só o seu pai dar às costas e você fica levando o trabalho da vida dele na brincadeira!

-Não seu Miguel, eu só estava aqui conversando e... -Começou o rapaz nervosamente.

-Conversando nada, eu mesmo ouvi você com lábia pra cima dela, seu pai ficaria decepcionado em saber que em vez de trabalhar fica usando o horário de serviço pra ficar paquerando. -A cada palavra do patriarca dos Nasser, o rapaz se encolhida como um garotinho.

-Por favor seu Miguel, não conte nada ao meu pai, eu só estava tentando ser educado, só isso. -A voz do rapaz era suplicante.

-E você Valéria? -Continuou o homem como se não tivesse ouvido o Ozam. -Uma mulher casada não deve ficar dando trela pra marmanjo, não. -O homem levantou o dedo em uma bronca direcionada à ambos.

-Seu Miguel não é pra tanto, nós só estávamos jogando conversa fora. -Respondeu tentando segurar o riso. -Eu só vim aqui buscar o senhor pra almoçar, que tá todo mundo lhe esperando em casa.

Cartas na mesa (Vamila) Onde histórias criam vida. Descubra agora