PARTE 1: Cítrico

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- você quer fogo?

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- você quer fogo?

é o que escuto aceitando a ligação do número desconhecido na tela, ao que respondo prontamente depois de três cervejas:

- de que tipo?

a voz, inconfundível, desaparece no espaço e tudo o que sobra é o bip indicando o fim da chamada.

Era cedo quando eu já havia começado uma busca incessante por cigarros dentro de todos os meus bolsos

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Era cedo quando eu já havia começado uma busca incessante por cigarros dentro de todos os meus bolsos. Se eu bem me recordava, daquele momento para a última ocasião em que a abstinência de nicotina me deixou frenética, revirando e vasculhando todos os lugares, não havia se passado muito tempo.
Essa é uma das muitas coisas sobre o vício que ninguém realmente acredita quando assiste os alertas televisionados das consequências do cigarro - essa posição vergonhosa em que nós nos colocamos quando ficamos de quatro no chão sujo dos nossos quartos, procurando por uma caixinha ridícula cujo verso diz "você brocha" ou "você morre".
Façamos um acordo de sermos francos um com o outro aqui, então eu vou admitir que eu não me sinto pessoalmente intimidada por nenhuma dessas coisas, e se eu pudesse reinventar a forma como essas advertências eu faria um trabalho melhor e mais apelativo, colocaria algo realmente chocante como: O cheiro disso é horrível e vai impregnar no seu cabelo, e por causa disso você vai morrer sozinho.
Eu especialmente não dou muita importância para o que os outros avisos podem dizer, mas eu dou muito valor para como estou cheirando.
Funcionaria melhor, confie no que eu digo.

Onde eu estava mesmo?
Ah, cigarros. Certo.
São esses curtos períodos onde eu acredito estar tudo ok e repito que eu tenho muito potencial, e que por isso não deveria acabar com os meus pulmões da maneira que o faço, que acabam com o meu respeito próprio logo em seguida, porque sim, eu me encontro nesse momento me arriscando entre aranhas e sapatos perdidos sob a minha cama, imaginando que se existisse uma fada madrinha dos cigarros essa seria a hora perfeita para se revelar e evitar que eu perca o restante da minha dignidade.
não encontro nada, mas avisto uma jaqueta há muito perdida que me dá alguma esperança.
O fato é que eu não posso esperar por um resultado diferente quando todas as minhas ações parecem ser motivadas pelas piores razões possíveis e se repetem de forma cíclica, como se eu não ignorasse o desfecho que já conheço. Sim, eu tenho experiência o suficiente no assunto para perceber as armadilhas estúpidas nas quais eu insisto em cair, e tenho grande familiaridade com a frustração que sucede as minhas escolhas, mas 1. eu sou, para todos os efeitos, uma grande otimista e 2. tenho essa convicção em dizer que existe algo me atraindo constantemente para tentativas certas de fracasso e por mais esforço que eu empregue para evita-las, não consigo me desvencilhar do magnetismo que me puxa até elas, é uma coisa tão maior e mais forte do que eu que não existe nada que eu possa fazer sobre além de me conformar que essa é a minha vida.

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