1 - A primeira vista

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 Primeira informação importante é que essa história aconteceu comigo quando eu tinha apenas 14 anos e isso já faz muito tempo, infelizmente.

 Naquela época, não tínhamos tanto acesso a informações, quase ninguém tinha celular, eu fazia parte dessa grande maioria, não existia Facebook, muito menos Instagram ou WhatsApp e éramos muito mais inocentes do que os adolescentes dessa mesma idade atualmente.

 Como já disse anteriormente, meu nome é Alice Monteiro, mas todos me chamam de Lice. Moro com os meus pais e duas irmãs mais novas, estudo em uma escola pública e tenho duas amigas muito próximas: Lúcia e Jéssica.

 Sempre disseram que a adolescência não é uma fase muito fácil. Para mim então, nem se fala!

 Por ser a filha mais velha, tenho que ser totalmente responsável pelas minhas irmãs mais novas, isso inclui tudo, banho, comida, escola, dever de casa, além de ter que cuidar da arrumação da casa, pois meus pais trabalham muito e só chegam a noite.

 E quando chegam, só sabem reclamar do que eu fiz de errado, não temos um diálogo muito aberto, na verdade, quase não conversamos.

 Somos pobres, moramos em uma comunidade no Rio de Janeiro e sempre tem as ofertas por uma vida "mais fácil", há um ponto de vendas de drogas perto da minha casa, eu converso com todos, mas só o necessário. Minha mãe vive repetindo que: "Quem se mistura com porco, farelo come!"

 Eu estudo no horário da tarde porque assim posso ficar com a minha irmã caçula até a do meio chegar, antes de ir para a escola eu levo a minha irmã menor para a creche, que nesse ano não conseguimos o horário integral.

 Minha escola é longe, uns 40 minutos de ônibus, mas eu não pago passagem, por ser estudante de escola pública.

 Minhas amigas, já citadas acima, têm uma condição financeira um pouco melhor que a minha. Elas sempre foram de um colégio particular, na verdade, essa é a situação da grande maioria dos alunos daqui. Isso ocorre porque apesar de ser uma escola pública, ela é considerada uma das melhores em qualidade de ensino no Estado.

 Bem, apesar de não saber muito sobre namoro ou algo do tipo, eu já beijei um garoto, por muita insistência dele. Não tive o meu primeiro beijo com um grande amor, o fato é que eu não tinha nenhum interesse sequer pelo cara, mas não foi tão ruim! Pelo menos, não passarei vergonha quando eu for beijar alguém que eu realmente goste.

 Como toda pessoa na fase da adolescência, principalmente as mulheres, meu corpo é totalmente desproporcional.

 Sou muito alta, magra demais, me apelidaram de tábua de 30, só para você ter noção de que eu não estou exagerando. Olhos claros e cabelos escuros, ou seja, estranha, não chamo a atenção, pelo menos, não por um bom motivo!

 Bem, a minha vida foi tirada dessa mesmice entediante em um dia quando minhas amigas e eu andávamos pela escola rumo à saída. Já passava das 17:30h, eu estava cansada e só de imaginar a viagem de volta para casa com o ônibus lotado, já me dava preguiça.

 Luci comentava sobre um garoto que ela dizia gostar, Jesi e eu ouvíamos seus resmungos de como a vida era injusta uma vez que o tal menino não ligava para ela.

 É interessante como as coisas nessa fase da vida são tão intensas! Ter um amor não correspondido parecia ser o fim do mundo e era exatamente isso que a Luci descrevia.

 Foi nesse momento que ele apareceu, passou como um furacão entre Luci e eu pegando-nos de surpresa.

 Cabelos loiros escuros, lisos e curto, mais comprido o bastante para cair em seus olhos, ele era magro, porém, corpo definido, mais alto do que eu e antes de sumir de vez das minhas vista, ele me olhou e sorriu.

 Meu coração nunca tinha falhado uma batida antes, foi rápido e logo depois acelerou tanto que eu pensei que sairia pela boca. Seu sorriso alcançou seus olhos, que estranhamente não eram azuis, o que seria normal, já que ele é branco e loiro.

 Só notei que havia parado de andar quando a Jesi me chamou, ela pareceu entender o que eu senti só de me olhar, mas fui puxada de volta para a realidade com as palavras da Luci:

- Que garoto é esse? Estou apaixonada! - Ela esqueceu rápido demais o tal de Bruno, não?


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