2 - Desilusão

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- Apaixonada? - Jesi rebateu indignada. - Você estava agora mesmo dizendo que morreria, caso o Bruno não te quisesse, como mudou tão rápido? - Minha amiga me encara fazendo um sinal negativo com a cabeça, como quem diz: "Ignora ela, ele olhou para você!"

Eu sorri e voltamos a andar, confesso que esse jeito de ser da Luci me incomoda!

Ela é muito carente, até meio manipuladora e um pouco mimada, eu, por outro lado, sou um pouco tímida, não gosto de ser o centro das atenções, não sou de lutar pelo que eu quero, a não ser que eu acredite que valerá muito a pena.

Volto dos meus pensamentos no momento certo para ouvir:

- Sim, eu pensava isso a alguns minutos atrás, mas o Bruno não é ninguém perto desse garoto e eu sei que a Lice concorda comigo, ela também ficou babando por ele. - Luci responde animada e até um pouco debochada.

- Bem, o garoto é realmente bonito! - Respondo tentando não demonstrar meu verdadeiro interesse, o fato é que ele mexeu muito comigo, na verdade, acho que nunca havia me sentido tão empolgada com um olhar como estou agora.

- Eu quero ele para mim! - Luci sentencia me deixando triste, não quero brigar com uma amiga por causa de garotos.

 Foi naquele momento que eu decidi sair do jogo antes mesmo de entrar!

 (***)

 Os dias voltaram a mesmice, descobrimos que o tal garoto estudava na sala ao lado, mas que já estava no sétimo ano.

- O nome dele é Daniel Pires, veio transferido do Colégio mais caro da cidade, dizem que os pais colocaram ele aqui como forma de castigo por ele estar matando aulas demais por lá. - Luci comenta empolgada no meio da aula. - Me disseram que ele já pegou várias alunas daqui, joga futebol e já entrou para o time da escola.

- Lúcia, a conversa parece boa, quer compartilhar o assunto com a turma? - A professora de português questiona e minha amiga nega com a cabeça. - Então posso continuar? - Dessa vez a Luci concorda com um gesto e a professora segue com a sua explicação.

 Não sei descrever muito bem o que sinto todas as vezes em que Luci fala sobre ele, sei que ela já percebeu esse desconforto que eu sinto com o assunto, mas insiste em me manter atualizada.

 No final da aula, esperei com Jesi e Luci pela van escolar que sempre as leva para casa, os pais delas não gostam que as mesmas andem de transporte público. Para mim, esperar com elas é bom, pois quando vou pegar o meu ônibus, ele não está mais tão cheio. Mas como a vida gosta de aprontar comigo, hoje o tal Daniel pegou o mesmo ônibus que eu. Fiquei mais ao fundo do coletivo, mas uma pequena movimentação chamou a minha atenção.

 Quando consegui decifrar o que estava acontecendo, percebi que esse Daniel tentou roubar o beijo de uma garota, tenho visto os dois sempre juntos, deve ser a namorada dele, ou era. Pois a mesma impediu o beijo e o empurrou irritada, os amigos dos dois riam da situação e ele também, até que o seu olhar encontrou com o meu.


 Foi uma situação constrangedora, afinal, eu não deveria estar observando a cena e por um momento tive medo de ouvir algo grosseiro, mas não foi o que aconteceu. Daniel continuou me encarando e eu desviei o olhar para a tal garota e tanto ela quanto a sua amiga também me encarava, na verdade, todos pararam de rir e voltaram a sua atenção para mim, algo que eu odiei, olhei para fora do ônibus desejando me tornar invisível.

 Tive medo da namorada dele me perguntar porque eu estava encarando, ou até de ele mesmo fazer isso, contudo, isso não aconteceu, eles desceram duas paradas depois sem ninguém pronunciar mais nenhuma palavra durante o pequeno trajeto. Porém, Daniel fez questão de me encarar mais uma vez antes de descer.

 No dia seguinte eu comentei com as minhas amigas o ocorrido e nem elas quiseram comentar ou esboçar suas opiniões.

 Mas o olhar que o Daniel lançou para mim não sai da minha cabeça.

(***)

 Já se passaram alguns dias desde o ocorrido, soube que o Daniel realmente terminou o namoro. Como eu soube disso? Ele já é o garoto mais popular da escola, ou seja, todos estão comentando.

 Ele não cansa de me encarar, acho que faz de propósito, já deve ter percebido o quanto isso me deixa nervosa.

 Luci e o tal Bruno ficaram novamente, mas já terminaram de novo e ela não para de chorar e lamentar o fato de ele não sentir o mesmo que ela.

 Estamos no intervalo quando ela espanta a Jesi e a mim se levantando rapidamente, no mesmo momento em que o Daniel passava ao meu lado.

- Ei? - Ela chama alto e ele a encara. - Você quer ficar comigo? - Luci perguntou surpreendendo a todos ao nosso redor.

 Sinto o meu estômago revirar e uma bola subir pela minha garganta, meu coração está acelerado e as minhas mãos suando frio.

 Não acredito que ela fez isso, não creio no que acabei de ouvir e o pior de tudo é que enquanto ela encara o Daniel, ele, os seus amigos e Jesi me olham fixamente. Parecem esperar alguma reação minha, mas eu não tenho nenhuma, a não ser abaixar a cabeça para evitar que vejam a decepção nítida nos meus olhos.

- Por que não? - Ele responde debochado e passa ao meu lado, fazendo questão de esbarrar no meu ombro com força. O vejo segurá-la pelo braço e guiá-la para trás do refeitório, eu ainda posso vê-los, mas há um muro que impede que os demais alunos e principalmente os professores os vejam.

 Ainda estou sentada e evito encarar todos que estão ao meu lado, posso sentir seus olhares queimando sobre os meus ombros. Sei que esperam uma atitude minha, pelo jeito, está na cara que eu gosto dele, mas a verdade é que eu nunca faria algo assim e não posso ficar chateada com a Luci, afinal, eu nunca me impus, então, não posso reivindicar nada.

 Daniel vira a Luci de frente para ele de maneira um pouco bruta e a encosta contra o muro, o idiota me encara e depois a beija. Sinto meu coração se quebrando em pedaços, minha vontade é de sair correndo e chorando, eu abaixo a minha cabeça para não ver mais a cena, pois não vou agir de forma tão infantil, respiro fundo e sinto a mão da Jesi tocar o meu ombro.

- Vamos para a sala, a aula já vai começar! - Ela diz calmamente, ela é uma grande amiga, sei que quer me tirar dessa situação tão constrangedora.

 Eu a encaro, mas logo sou novamente surpreendida por Daniel passando em nosso meio. Quanto tempo esse beijo levou? Até que acabou rápido, ou foi impressão minha?

- Vamos embora, a aula já vai começar! - Ele fala com os seus amigos e só agora percebo que eles continuaram no mesmo lugar em que Daniel os deixou.

 Muito estranho, não falaram nada todo esse tempo.

 Jesi e eu nos levantamos e Luci nos acompanha sem pronunciar nenhuma palavra, nos sentamos já na sala e a aula começa nesse clima estranho.

 No final da última aula, seguimos a mesma rotina, porém, estamos conversando de forma fria e com comentários curtos, ninguém teve coragem de tocar no assunto até que Daniel passa ao nosso lado, indo para o ponto de ônibus, juntamente com os seus amigos.

- Amanhã no mesmo lugar? - Ele pergunta a Luci e ela sorri pela primeira vez desde o intervalo.

- Sim, com certeza. - Ouço minha amiga responder empolgada, todos novamente me encaram e os rapazes vão embora. - Vocês não tem noção do quanto ele beija bem!

 Dou um sorriso amarelo e Jesi faz um sinal negativo com a cabeça, não demora muito para o transporte delas chegar e eu sigo o meu caminho, me sinto como se algo tivesse morrido em mim e talvez tenha mesmo.

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