I - O JULGAMENTO

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O frio do inverno estava cada vez mais denso o que antes era um ambiente que causava um pequeno calafrio na pele, começou a refluir um desconforto por todo o corpo. A brisa atordoada em um dia nublado. Era sua ultima chance de falar com sua mãe. Sua mente, possuída por conta do julgamento – Então esse é o fim dos pecadores – Pensou Violet firmando seus ombros. Quando logo, sua mãe aparece.
– Minha filha – Disse a mãe alisando os dedos sobre os cachos loiros e encaracolados da filha, sua expressão demonstrava esperança e medo. Fixou seu olhar à Violet, analisando cada detalhe de perfeição da garota. Seus olhos azuis como o céu e sua pele macia e branca como a neve. – Este dia já era esperado pela mamãe, eu sabia que seria perseguida. Portanto, eles não podem te encontrar.
– Então venha comigo – Retrucou a menina segurando fortemente seu antebraço, a pressão da qual apertava sua mãe fez com que se derrama a primeira lagrima – E-eu não quero te perder!
– Você nunca estará sozinha minha flor – A mãe abraçava fortemente a filha. Pequenas gotas caíam sobre o vestido de Violet. Logo após, a mãe lhe entregou um pequeno sorriso enquanto enxugava suas bochechas – Eu te amo.
– Eu também te amo – Violet a abraçou novamente, esfregando o seu rosto sobre seus seios. Em busca de conforto.
– Pegue suas coisas, você precisa partir imediatamente! – Disse a mãe se levantando, olhou discretamente a janela em busca de uma multidão furiosa. Os passos podiam ser ouvidos, seguido de gritos raivosos.
Violet pegava o máximo de coisas que podia levar em suas mãos, dois vestidos largos de tecido, sapatos velhos e desgastados, uma pequena lamparina e um pouco de óleo e azeite. O povo chegava cada vez mais perto, a mãe apenas olhava para a cozinha, deixou seus olhos fixados na garota que logo partiu. Violet pulou a janela, saindo discretamente em direção à floresta.
Olhando para trás viu diversas pessoas levando á força. Eles poderiam matá-la agora, mas perante a lei a levavam em direção ao congresso. Agora só conseguia pensar nas últimas e doces palavras que sua mãe havia dito - "Eu te amo".

....

– Estamos todos aqui reunidos, para condenar está mulher – Começou Wagner Vandergeld dando inicio ao julgamento – Em diversas acusações, em respeito à nossa aldeia, ao nosso povo, você está sendo acusada por cometer bruxaria contra está comunidade!
Todos olhavam para a mulher com ódio em seus corações. De alguma forma, não se sentia intimidada.
– Me oprimes por andar e falar diferente de todos. Mas nunca me confortaria a tais crimes! – Disse a mulher de joelhos em frente aos juízes. – Se quer procurar, e acusar qualquer atividade de magia, deveria ir para a floresta das lamentações! Por onde nossos ancestrais caminhavam.
Todos se entregaram com a atitude da mulher, isso os deixou ainda mais enojados.
– Acha mesmo que nossos ancestrais se misturaram com os do seu tipo naquele lugar amaldiçoado? – Questionou um dos líderes ironicamente.
– Mulher! – Disse o Wagner enfurecido – Tu, teus pais, e os pais de teus pais, tem ferido a está comunidade por eras! Demos-lhe o perdão... E você nos retribui com a Peste Negra! Sua geração merece a morte!
– Minha geração merece justiça!
– Imploras por justiça a pobre cigana que atormenta a todos com seu jeito pagão?
– Hipócrita! Se vista como eles, mais é pior do que qualquer outro ser das trevas!
– Chega! – Levantou-se, olhou para a mulher com ódio e malícia. – Tu e teus pecados serram castigados com fogo. Levem-na daqui!
O povo se revoltou em prol do julgamento, causando total desordem no congresso. Os juízes tentavam manter a ordem enquanto se podia ouvir os gritos e zombaria; "Vadia!", "Queime no inferno!", "Bruxa!", "Bruxa!". Logo após, um dos juízes mandou dois camponeses puxarem a mulher perante a saída do congresso. Em meio ao escândalo a mulher mantilha em si uma enorme tranquilidade enquanto se recordava de algumas memórias. Sobre sua vida antes dos dias de inverno.

...

– Está tudo bem minha flor? – Perguntou a mulher.
Violet perdia cada vez mais seu fôlego, cansada, tentou andar ao mesmo ritmo da mãe; A floresta estava úmida, isso deixava o ar totalmente puro. Grandes folhas verdejantes cobriam o caminho no qual Violet e sua mãe tentavam chegar. Violet estava cada vez mais cansada, suas pernas enfraqueceram com a caminhada, mas manteve seu foco sobre a mãe. Pois se lembrava do dia em que tinha 8 anos, onde a mãe havia afirmado a ela – Eu vou lhe mostrar algo incrível quando estiver mais velha – Agora que já havia completado 12 anos, aquela era a hora. Mesmo cansada, Violet deixou sua curiosidade manter suas forças restantes intactas.
– Chegamos! – Disse a mãe com um sorriso no rosto.
Violet se encantou com a beleza daquele lugar. Era um pequeno campo totalmente isolado da floresta. Um grande lago cobria parte daquele campo, acompanhada de um pequeno morro onde descia uma cachoeira. O lago era coberto por flores, e diversas outras plantas ao seu redor...
– É incrível – Comentou Violet, apreciando o campo.
– Este lugar só pode ser visto na primavera – Comentou a mãe sorrindo – Este lugar será seu porto seguro.
– Mais você estará comigo não é mamãe?
A mulher logo se virou com um olhar torto e um pouco desanimado. Alisando seus dedos sobre os cachos da filha, disse:
– Sempre que a escuridão lhe assombrar, lembre-se! Você nunca estará sozinha, nunca.

...

O povo de Vandergeld se preparava pra o julgamento da mulher. Todos olhavam com desprezo a mulher acorrentada e nua, totalmente calma e com seus olhos fechados nem ao menos fazendo esforço para cobri seus seios e sua vagina. Andou em frente à uma fogueira. A praça estava quase lotada, poucas pessoas haviam sobrevivido a doença e os que estavam vivos, tentavam se recuperar.
Wagner Vandergeld se opôs de frente a mulher que se encontrava amarrada pelas cordas sobre a fogueira:
– De teus crimes tu serás punida! E hoje tu serás consumida pelo castigo divino! – Gritou o juiz segurando em suas mãos uma grande tocha. O povo começou a gritar novamente. O desejo de morte a aquela mulher era algo extremamente desumano. Porém, se manteve na calma fechando seus olhos – Todos estão com medo, desesperados! – Disse a mulher acorrentada sobre a fogueira – Por isso vão continuar matando. Pois não conseguem ver além de sua arrogância, além de sua compreensão! Não sabem reagir ao desconhecido...
De certa forma suas palavras fizeram o povo se aquietar e deixarem seus olhos fixos a mulher naquele estado. Wagner deixou escapar um sorriso perverso em seu rosto, e disse:
– Que Deus tenha piedade de sua alma.
Logo após lançou a tocha sobre as grandes toras de madeira e feixes de capim. A mulher gritava de dor enquanto o fogo se espalhava por seu corpo, sendo consumida totalmente pelas chamas. Se contorcendo violentamente, faíscas quase tocarão nas vestes de Wagner. Os gritos da cigana pareciam ser incessantes. Todos olhavam aquela cena, sem deixar se quer uma única palavra escapar de seus lábios, alguns fechavam seus próprios olhos apenas ouvindo os gritos de desespero, deixando sua mente trabalhar na cena.
Os gritos que ecoaram sobre a pequena praça duraram por três longos minutos até que as chamas se acalmaram lentamente. Wagner se espantou assim como todos os presentes. A cigana estava morta, deformada. Seu corpo que antes era de uma mulher incrivelmente linda, havia se tornado uma mistura de carne e ossos carbonizados.
– Alegria meu povo de Vandergeld! – Disse Wagner com um sorriso - A bruxa que vocês temiam está morta! Vamos esperar pelo melhor de nossos lares agora que a raiz do mal se foi!
Violet estava escondida atrás de uma árvore, aterrorizada, chorando, seus olhos começavam a provocar uma acidez. Ajoelhou-se perante a floresta deixando todo seu sustento sobre o chão; Por quê? Por quê? Por quê? – Lamentou Violet em prantos. Logo após, ela olhou para a grande mata; "A floresta das lamentações".
Respirou fundo e andou em direção a uma trilha de pedras achatadas, pensando nas inúmeras vezes que sua mãe dizia – "Você nunca estará sozinha".

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