II - A FLORESTA DAS LAMENTAÇÕES

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"Você nunca estará sozinha".
A frase se repetia diversas vezes perante a mente de Violet, que seguia uma trilha longa e sem fim. Estava ficando fraca, sua barriga estava rosnando e sua boca começou a ressecar - Preciso de água e comida - Pensou desesperada. A floresta deixava cada vez mais o clima tenso. Uma mistura de árvores secas e neblina já era o suficiente para causar um desconforto na garota.
Violet sentiu um enorme arrepio, amedrontada, olhando de um lado para o outro...
– A floresta das lamentações – Confirmou para si – Este é o lugar amaldiçoado do qual ouvi dizerem.
Não era de menos que a menina podia escutar pela janela de sua casa fofocas e rumores sobre sua mãe indo durante as madrugadas para realizar sabbat, e outras festividades de bruxa. Violet nunca teve contato com os membros de sua comunidade, não ia escola, não brincava com outras garotas, não se apaixonava. Assim como sua mãe viva e sobrevivia sem sair de casa. A cigana apenas saia para reabastecer o estoque de alimento. Violet nunca havia perguntado para sua mãe sobre do por que as pessoas tanto a criticavam, mas podia entender por seu olhar que nem ao menos se importava com as críticas e vivia por ela mesma.
Suas mãos começaram a ficar trêmulas, quase deixando sua lamparina escapar de seus dedos. Outro arrepio começará a subir sobre o couro cabeludo da garota, sem deixar se quer um fio para trás. A intimidação do ambiente a fez se sentir frágil em meio às árvores. A escuridão se aproximava. Violet conturbada, rapidamente se assentou sobre a grama e deixou sua lamparina de frente a ela.
Logo após, pegou uma pequena garrafa com o óleo que estava armazenado, despejou cuidadosamente sobre sua lamparina. Rapidamente, se levantou e começou sua busca por duas pedras. – Por favor – Indagou Violet passando seus dedos sobre as folhas secas.
– Achei! – Violet suspirou em alívio. Pegou três pedras e correu diretamente para a lamparina.
Agarrou duas pedras, cruzando suas pontas, preparada para raspar uma na outra. Começou a contar até três; "1"... "2"... "3"... Violet raspava as pedras na esperança de formar uma faísca. – Vamos! Vamos! – A noite começava a cair cada vez mais. A garota começou a ficar atordoada com os barulhos provocados pelo vento. Olhou para a pequena lamparina e continuou. As pedras começaram a formar faíscas, até que em sua última tentativa ela teve resultado. A lamparina ascendeu-se! As chamas cobriam toda a parte interna, balançando e requebrando violentamente. Violet ficou séria e um pouco nervosa por um momento, olhando diretamente para o fogo, disse:
– Eu não estou mais sozinha!

...

Wagner Vandergeld começou a passar cartas enviadas dos padres e juízes da Europa. Algumas o deixaram com uma expressão um pouco entusiasmada, outras o deixavam sério – boa parte da Europa lutava contra aquela doença – de certa forma, não se deixou elevar as reuniões solicitadas aos juízes sobre o que poderia ser feito pelo caso. Em sua consciência já havia feito sua parte com sucesso por seu povo. De repente ouve um bater na enorme porta de sua sala – Não esperava nenhuma visita ainda naquele fim de tarde. Educadamente, Wagner ordenou a entrada:
– Juiz Vandergeld? – Disse um jovem camponês abrindo cautelosamente a porta.
– Pois não. O que desejas? – Perguntou o Juiz com o mesmo olhar cínico e frio e um tom de voz totalmente acolhedor.
– É sobre a Praga – O juiz curvo uma de suas sobrancelhas - Ela está se espalhando!
O juiz respirou profundamente – Acalme suas emoções meu jovem. Está praga tem um determinado tempo para desaparecer de vez. A fonte foi cortada.
– Mas não é só isso! Juiz a água se tornou salgada, as plantações estão secando e os animais estão doentes... Parece uma maldição.
Wagner ficou pálido por um momento, mas deixou pequenas risadas sarcásticas ecoarem sobre seu sorriso. – O que está dizendo meu filho? Ha – O juiz começava a soar e sua respiração saiu ofegante – I-isso é impossível.
O jovem olhava para Wagner, com total desconforto em sua pele. A pequena sala do Juiz ficava cada vez mais quente e claustrofóbica, deixando Wagner e o jovem com certa falta de ar – O que está havendo com o ar? – Questionou o Juiz – Não consigo respirar aqui. Wagner começou a tossir a seco, esbarando sobre as paredes. O jovem camponês começou a ter uma crise de asma e caiu sobre o carpete da sala.
Wagner agarrou o jovem pelas costas, o tirando rapidamente da sala, chutando a grande porta viu uma enorme fumaça negra correr pela pequena casa de carvalho. O juiz espantado se afastava cada vez mais do lugar que começou a entrar em chamas. Todos que estavam mais próximos olhavam a pequena sala pegar fogo, com medo em seus olhares. Podiam-se ouvir gritos de desespero dentro do lugar, que rapidamente se transformou em cinzas.
– Aquela bruxa maldita! – Gritou Wagner em ódio e pavor – Ela deixou algo para trás!
Wagner chamou alguns dos camponeses para socorrer o jovem que sofria estirado sobre o chão.
Logo alguns camponeses apareceram para ajudá-lo:
– Vão até a casa da cigana! Qualquer artefato, ou quinquilharia que estiver dentro daquela casa. O destruam!
Dois dos homens se retiraram rapidamente em direção à casa da mulher.
– Sei que a algo em você que não foi em bora deste lugar, eu posso sentir! – Indagou o Juiz olhando para a floresta das lamentações – Eu vou te destruir!

...

Violet seguia seu caminho pela floresta, já obscura. Não conseguia ver além dos limites que sua lamparina á permitia enxergar naquele momento.
– Eu tenho para onde ir? – Perguntou preocupada, olhando de canto em canto. Os sons da floresta causavam total desconforto.
Violet respirou profundamente, e continuou a caminhar, totalmente fraca. Sem forças para se quer segurar corretamente a lamparina. O frio começava a ficar mais tenso:
– Eu n-n-não con-consigo...
A menina caiu dura sobre as folhas secas, sua lamparina caiu próximo de uma pequena planta, que lentamente se desabrochava, e revelará ser uma rosa vermelha. Violet olhava para a rosa um tanto confusa e impressionada. Se arrastando para próximo da pequena flor avermelhada, ouviu um cantarolar, ecoando pela floresta. A menina se despertou e agarrou sua lamparina. Com poucas forças que lhe restaram levantou seu braço, á apontando em direção de cada canto da floresta, na procura de quem era o dono daquela voz. O canto era apenas algumas melodias transmitidas em uma espécie de múrmuro. Era grave como a voz de um homem com mais de 30 anos de idade. Violet numa tentativa desesperadora tentou gritar por ajudar, mas após horas tentando encontrar o dono da cantoria se deparou com uma silhueta totalmente distorcida. Nada perto de ser como um ser humano.
Era alto – perto de ser do tamanho de uma árvore com mais de 2,12 de altura. Seus olhos brilhavam totalmente separados de orelha a orelha, seus braços largos e grossos como duas toras de uma árvore, e chifres similares aos de um cervo.
A garota engoliu a seco. Botou sua mão sobre a boca e cobriu com um de seus vestidos a lamparina. A escuridão tomou conta do ambiente, a única coisa que estava nítida eram os pequenos olhos da criatura que continuava a cantarolar. Violet torcia para que a coisa não viesse por sua direção, tentou lentamente se arrastar para o lado contrário da criatura. Porém as folhas secas, nas qual Violet estava deitada realizavam um enorme barulho. Que logo despertou o interesse da criatura que andava rapidamente em direção da garota.
Violet gritava, se arrastando descoordenadamente para longe da coisa que estendia sua mão cheia de garras, tentando esfrega-las sobre o rosto de Violet enquanto cantarolava calmamente as melodias de uma canção estranha. A menina tentou revidar com um chute, felizmente, sem sucesso. Logo em um ato de desespero apontou sua lamparina para a coisa, que rapidamente cobriu seu rosto gritando de dor. Violet aproveitou a chance para continuar fugindo, tentou se levantar e correr para longe da criatura.
Na tentativa de fuga, Violet se depara com o que parecia ser uma pessoa, usando um traje totalmente vermelho como vinho. Seu corpo começou a ficar cada vez mais fraco, fazendo com que caísse novamente sobre as folhas secas da floresta. De alguma forma, sentiu-se confortável e aquecida com as folhas amortecendo sua queda. E logo, adormeceu.
– Não se preocupe minha flor, você não está sozinha, não mais.

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