Difícil mensurar a nuance satírica que o ser humano apresenta em certas situações ameaçadoras. Tudo orbita em torno de um tipo de redoma protetora que está lá sempre e evidentemente, dura e intransponível. A natureza esotérica da mente humana se mostra presente em uma série de eventos mentais que a psicologia diz conseguir prever. Uma nuance satírica e que também é extremamente onírica e mágica. Cômico sempre é a forma como reagimos a situações que fogem da nossa psique e como esses eventos marcam e traumatizam nossas vidas de uma maneira nunca vista anteriormente.
Sofria eu de insônia desde muito jovem, e já pelos meus anos de velhice houveram certas complicações corporais que inviabilizaram meu uso de medicamentos. Noites passavam e passavam, deitava-me e as horas demoravam-se como o asfalto recém colocado demora a começar a ser avariado pelas forças da natureza.
Rendi-me a atividades para compensar minha falta de sono e encontrei na leitura, um lugar aconchegante e seguro para minhas aventuras sombrias avante no imenso oceano da noite. Escolhi a dedo uma edição um tanto quanto decrépita de "Sobre o Amor" de Bukowski e sentei-me numa cadeira que se encontrava na fria varanda de minha simples casa.
Acendi um cigarro e traguei. As fumaças lentas e ocultas subiam e resvalavam com carinho no teto de madeira da varanda. Abri meu livro e deparei-me com um poema em que não prestei tanta atenção assim. A imensidão da lua se mostrava magistral, prastada no céu, cheia. Talvez se eu estivesse a dormir não teria a chance de presenciar cena tão magnífica como era aquela.
De uma hora para outra, deparo-me com algum tipo de vulto transpassando o terreno mais a frente de minha sacada, humanóide, porém rápido como nada parecido. Com a mesma velocidade em que aparecera, some. E minha paz muito provavelmente havia sido retomada, certo?
Errado. Senti uma sensação de relaxamento intensa demais para ser verdade, aquilo que tanto perecia em mim, veio, de uma hora para outra. Ainda olhando para a Lua, virei-me e atravessei o umbral com certa dificuldade.
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Padeci aos pesadelos. Dormi como uma pedra na noite em que avistei o vulto, e após uma semana dormindo indubitavelmente bem, comecei a sonhar com nuvens escuras que me envolviam e após isso esvaiam-se para longe. Após essas nuvens, acordava exaltado e não entendia o que poderia ter acontecido.
Não compreendi totalmente do que se tratavam aquelas nuvens sinistras, e sonhei com elas por certo tempo. Até começarem realmente os mais alheios pesadelos que já posso ter presenciado.
Não contei esforços à procurar ajuda médica. Busquei a lista telefônica de anos anteriores e procurei por um nome que há tempo não tinha sido citado nem ouvido. A busca foi rápida e logo localizei o tal famigerado nome: Erikson, Ivan Erikson. O mais conhecido psicanalista e hipnotista da região. Fiz a ligação e marquei consulta com o doutor.
Longa foi a jornada de carro até chegar aos aposentos de Dr. Erikson, um prédio de aspecto antiquado, totalmente construído em tijolos vermelhos expostos. Conduzi o automóvel subindo a colina em que se encontrava o consultório, e caía uma chuva bastante agradável, o que me fez agasalhar-me com um casaco preto que já se encontrava no carro e que já estava ali por bastante tempo.
Adentrei as portas vitorianas da sala de Dr. Ivan e me deparei com um local realmente distoante do que era acostumado a ver. Paredes em tijolos também expostos, brandiam prateleiras imensas, repletas de livros relacionados à filosofia, parapsicologia e outra série de assuntos que tanto passeiam pela mente vasta do teórico das humanas.
Virei o olhar para outro lado da sala e me deparei com uma estante um tanto quanto, digamos, bizarra. Crânios de dezenas de animais diferentes, animais que, Cristo! Possível não era que tais seres fossem donos de tais ossos! Relíquias de ouro que dividiam palco com as ossadas, e alto, imponente e antigo, vi um frasco, com formol até a borda e mais interessante ainda, dentro desse jarro jazia um feto, um pequeno embrião de quase quatro meses.
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divã
Mystery / Thriller"cômico sempre é a forma como reagimos a situações que fogem da nossa psique e como esses eventos marcam e traumatizam nossas vidas de uma maneira nunca vista anteriormente."