VII - Reencontro pt2

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- Brian...Eu não sei o que te dizer.

- Então não diga, pelo menos não agora.
Você disse que se envolveu com coisas erradas, não foi? Quer mesmo saber como eu vivi esse tempo todo? O que eu andei fazendo, você com toda certeza não faz a mínima ideia - Falei um pouco ríspido, eu nunca havia revelado isso a ninguém, nem mesmo comentado, na verdade eu não tinha ninguém para dividir, nunca mais fui capaz de confiar em outra pessoa, ainda mais se tratando do meu negócio ilegal, mas vendo ele ali, mesmo sabendo que ele poderia ter mudado bem mais do que eu imaginava, eu ainda sentia o conforto e a segurança que eu tinha quando estávamos juntos no nosso lugar do internato.

- Então me diz - Falou tomando um gole da garrafa.

- Na verdade, prefiro te mostrar, sua agenda está muito lotada essa noite? - Questionei sarcástico.

- Até que estava, mas pra você eu abro uma excessão - Disse humorado.

- Então vamos agora - Levantei recebendo seu olhar de surpresa, mas logo ele aceitou o convite, jogando algumas notas na mesa e levantando em seguida, com o copo em mãos.

- Mas antes, um brinde, ao nosso reencontro - Busquei meu copo erguendo-o.

- Que dessa vez dure um pouco mais - Brinquei brindando em seguida.

- Tenho o pressentimento de que vai.
Bem, vou chamar meu motorista pra nos levar até sua casa.

- Seu motorista? Porra você tem um motorista particular? - Indaguei impressionado.

- Eu não dirijo, longa história, vem ele está a umas duas quadras daqui.

Entramos no carro que era bem luxuoso, Roger cumprimentou o motorista em alguma língua que eu não conhecia e sentamos no banco de trás, ele ascendeu seu cigarro enquanto retirava o casaco longo, eu não me cansava de olhá-lo, era como se ainda não acreditasse que ele estava mesmo do meu lado. Dei meu endereço ao motorista e ele começou o trajeto.

- Achei que morasse em Las Vegas - Roger comentou.

- E eu moro.

- Então porque está hospedado em um hotel? - Questionou confuso.

- Longa história, te conto quando chegarmos.

- Quanto mistério, por acaso está escondendo uma esposa e sete filhos lá?

- O que? Não - Respondi rindo da sua pergunta sem nexo - Eu não tenho filhos ou esposa - Ele pareceu gostar da resposta.

- Por falar nisso eu quase me casei, mas não deu certo, ferrei com tudo pra variar - Suspirou deitando um pouco no banco - Fiz muita merda depois que sai do internato, muita mesmo.

- Imaginei que faria, você é o Roger - Ele sorriu tragando o cigarro.

- Nossa eu me lembro como se fosse hoje, depois que arrumei as coisas e fui embora de lá, eu estava em péssimo estado no dia seguinte, quando acordei sem você ali, como eu estava acostumado, passei mal por dias, sabe como é quando você pega pesado na cocaína, terrível. Eu me vi sozinho e realmente assustado, como aquela doença na alma, respiração acelerada, muito medo, pensando coisas do tipo a morte vai
estender a mão e me pegar a qualquer momento, sabe? Magro, sujo, tremendo apavorado, como um gatinho de rua quase morto.

- Eu tive medo por você, com o seu pai, louco como era, por um momento realmente me passou pela cabeça que pudesse estar morto, eu cheguei a procurar por você em redes sociais, ou qualquer coisa na internet mas nada aparecia, pensei mesmo por um instante que ele tinha feito merda com você - Me arrepiei só lembrar da sensação ruim de pensar naquelas coisas, foi logo quando sai do internato, fiquei procurando alguma pista como um louco obcecado.

- Fugitivo da polícia sabe, não tem mesmo coisas minhas na rede ou do contrário eu não estaria aqui com você, e sim na prisão mais próxima.

- Bem na época eu não sabia disso, só por curiosidade, disse que veio a Las Vegas a trabalho, que tipo de trabalho? - Ele deu um longo suspiro e pareceu não querer responder.

- Digamos que estou apenas repassando encomendas para pessoas importantes.

- O que isso significa?

- Acredite não vai querer saber, oh parece que chegamos - Anunciou agradecendo ao motorista e descendo antes de terminar o que dizia.

Entramos no meu quarto que estava um caos, garrafas pra todo lado, remédios abertos em vários móveis, eu não estava esperando trazê-lo aqui, mas era melhor do que falar daquilo em público, ele começou a analisar o ambiente, parecia surpreso com a bagunça.

- Onde está o Brian cheio de toc por limpeza?

- A vida adulta nos transforma, nem sempre pra melhor - Ele sorriu concordando.

- Pra que tantos remédios? - Questionou um pouco sério.

- Ser humano é uma condição que necessita de um pouco de anestesia - Seu olhar não estava tão humorado quanto antes.

- Ainda tem problemas pra dormir?

- Toda noite, mas eles ajudam - Apontei pras caixas vazias.

- Está me dizendo que todas essas caixas são só remédios pra dormir? - Indagou desconfiado.

- Não veio até aqui falar dos meus medicamentos, não é? Achei que queria conversar sobre aquilo que iniciamos no bar.

- Na verdade, eu não vim só pra isso, fiquei te devendo uma chance de resposta.

- Como assim? - Questionei confuso.

- Depois que eu te beijei naquele dia - Disse um pouco baixo, receoso em continuar - Eu saí sem te dar chance de falar algo, sei lá, me xingar, bater ou simplesmente dizer alguma coisa, eu passei tanto tempo pensando no que se passava na sua cabeça, você ficou tão quieto e não foi atrás de mim depois que eu corri de lá, seja sincero, você ficou com raiva? Eu estraguei o que a gente tinha?

- Raiva? - Me aproximei um pouco agitado.

- Claro, eu era idiota e inconsequente, não pensei no que estava fazendo, é só que eu não sabia se iria te ver de novo, e eu queria que soubesse que...

- Soubesse o que? - Perguntei sentindo minha respiração falhar, ele estava tão próximo.

- Que eu me sentia diferente com você, eu passei muito tempo me dizendo que não era isso, que era só a falta de garotas naquele lugar horrível, ou os hormônios estúpidos, mas não era nada disso, eu posso estar parecendo um idiota agora, mas eu queria te contar isso, e esperei demais, poxa dez anos não são dez dias, só por favor não se afaste de mim, eu não...

- Roger - Interrompi seu discurso desesperado - Você tem razão, é um idiota - Ele me olhou nervoso - Um tremendo idiota por só ter me contado isso agora.

Antes dele dizer algo puxei seu rosto de encontro ao meu finalmente fazendo o que eu queria ter feito desde que o vi no início da noite, beijei seus lábios com desejo sendo retribuído na mesma intensidade, sonhei tantas noites com um momento como esse, e eu temia estar tendo um sonho bom e acordar em algum instante, mas sentir seus lábios era a prova de que não se tratava de mais um dos meus sonhos, após tanto tempo.

Eu estava beijando Roger Taylor.

Oʀɪɢɪɴᴀʟ ʟᴏꜱᴇʀ ° MᴀʏʟᴏʀOnde histórias criam vida. Descubra agora