Melhor Amigo Gay (Temporada Um)

1. Dylan E Robbie

— É o quê? — Perguntei sem acreditar no que ouvira.

— Eu só estou repetindo o que as pessoas estão comentando Robbie — respondeu Helena, a porta-voz do jornal da escola, que era também um portal de fofoca sobre os assuntos mais quentes do colégio.

— Quem te falou isso?

— Não posso revelar as minhas fontes, só posso lhe dizer que o que eu ouvi é real, e quero saber de sua própria boca se o que dizem sobre o Dylan não passa de um simples boato.

— Helena, isso é loucura! — Comentei incrédulo. — O Dylan não faria isso com a Ivy, muito menos comigo.

— Então está me dizendo que o Dylan terminou com a Ivy porque é gay, ou que ele terminou só que para viver um romance com você, que seria o melhor amigo dele?

— Não, eu estou dizendo que ele realmente terminou com a Ivy, mas não foi por ele ser gay — dei uma ajeitada nos óculos —, ele nem sequer considerou ser gay na vida dele.

— Então, pelas suas palavras, ele é hétero?

Helena passava aquele gravador da boca dela para a minha como se fossem microfones. Esse desespero para obter a resposta que ela queria era de longe a minha maior preocupação.

— Sim, o Dylan é hétero.

— Bom, apesar da sua confirmação ser mais que esclarecedora, temos algumas provas vindas de alguém que resolveu não se identificar, mas que pode contradizer tudo que você me informou aqui.

Helena então tirou de seu bolso um celular, que era bem grande por sinal, e que tinha uma capinha rosa com pedras brilhantes ao redor da câmera. Eu sabia exatamente de quem era aquele celular, mas guardei meu comentário para observar a foto que ela queria que eu visse.

Era aquilo que eu mais temia. Dylan estava me beijando em seu momento de maior fraqueza, em seu momento mais vulnerável, e só eu sabia o porquê daquilo, só eu sabia o real motivo pelo qual ele tinha me beijado, mas não adiantava eu me explicar, aquela prova contradizia tudo que eu tinha dito à Helena, e eu não poderia desmentir agora que estávamos gravando a entrevista.

— Então o que me diz sobre essa foto? — Perguntou ela guardando o celular novamente no bolso. — Você e o Dylan são mais que amigos, ou você acha que a imagem foi alterada?

Eu não poderia responder essa pergunta nem se quisesse, muito menos sem o Dylan por perto para se defender.

— Sem comentários — disse calmamente me levantando do banco e esperando que ela percebesse que aquela entrevista tinha acabado.

***

Cheguei à casa de Dylan desolado. Ele me atendeu na maior das boas vontades, como todo amigo faria, mas aquilo não era tão simples de resolver. A escola inteira saberia pela boca de Helena que Dylan e eu tínhamos nos beijado, eu só poderia avisá-lo sobre isso antes que saiba por outra pessoa.

— O que é tão importante? — Perguntou pegando um copo de água para eu me refrescar depois da caminhada enorme que eu dei.

— Tiraram uma foto nossa se beijando — disse de uma vez sem causar qualquer suspense ou nervosismo nele. Eu sabia que ele poderia enfrentar aquilo mais rápido que eu.

— Daquele dia? Como?

— Foi a Margot. Ela tirou a foto, e pelo que aparenta, ela estava nos vigiando esse tempo todo.

— Que droga!

Dylan bateu na mesa de mármore dele com tanta força que eu pensei que pudesse quebrar.

— Não fica com raiva dela Dylan, ela interpretou mal, podemos ir amanhã no colégio e dizer que nada disso foi real e que você é hétero.

A ideia que vinha em minha cabeça enquanto bebia aquele copo de água foi um tanto doida, mas naquele momento, eu estava pouco me fodendo para as consequências.

— Ou a gente pode assumir.

— Ficou maluco Robbie? — Perguntou Dylan como se eu fosse louco. — Eu não sou gay, não vou fingir que sou só para que a escola fique com pena de mim.

— É aí que está, eles não sentirão pena, vão sentir compaixão, aceitação. Aquele colégio é muito inclusivo, tanto que ele já aceita as duas lésbicas mais legais do terceiro ano. A gente pode fazer o mesmo e fingir ser um casal até que o povo se esqueça e nos trate novamente com indiferença assim como fizeram com as lésbicas.

— Mas eu não sou gay Robbie, eu não vou fingir ser gay.

— Podemos fingir só por alguns meses, até lá você já vai ter conseguido o que sempre quis.

— O que seria?

— Ficar com a Margot — respondi pedindo mais um pouco de água. — Nós dois sabemos que ela só vazou aquela foto para o jornal da escola porque ela gosta de você e com certeza deve estar decepcionada depois de ver o "crush" dela com um rapaz.

— Aquilo foi um acidente, você sabe disso.

— Sim, mas a Margot não sabe. Talvez você mesmo possa contar para ela, e assim ficarem juntos. Vai ser o plano perfeito, já que você conseguirá a atenção da Margot e eu conseguirei a atenção das abelhas rainhas da escola, a Fawcett e a Cassandra.

— E o que você poderia querer com essas duas?

— Simples, elas são populares, e meu status social na escola é de um mero nerd que joga videogames e participa do clube de xadrez. Preciso de mais visibilidade naquele lugar para poder entrar no livro do ano como alguém que fez algo importante. Mas não conseguirei isso sem a ajuda das duas. E sem a sua ajuda também.

— Não quero ter que me assumir gay sendo que eu não sou — disse Dylan.

— Olha, eu não quero ter que assumir isso também, mas ou a gente assume sem ter problemas, ou o jornal da escola vai nos difamar e vamos ser conhecidos como o casal que se pega escondido. Pelo menos com a primeira opção a gente pode fingir um término amigável em quatro ou cinco semanas. Por favor, vamos nos ajudar? — O meu olhar era quase de imploro. Eu não queria ter que passar por aquilo, mas as circunstâncias e uma certa Helena não nos deixava outra escolha, precisávamos que aquele plano funcionasse perfeitamente. Só assim seríamos respeitados naquele lugar.

Para a minha sorte, Dylan entendeu aquilo, e sabia exatamente o que fazer para conseguir ter a Margot e ainda não sair como mentiroso no site de fofocas mais famoso do colégio: o Red Secrets.

— Está bem, nós podemos fingir um relacionamento, mas temos que terminar o mais breve possível, porque eu não quero ficar preso nessa mentira, está bem? Você consegue as poderosas, e eu consigo a Margot.

Bebi o copo de água com muito orgulho e felicidade por termos concordado em seguir adiante com o plano.

— Fechado. A partir de amanhã, seremos oficialmente namorados.