Jogos de sedução

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POV Marie

Fechei a porta atrás de mim quando adentrei em minha residência e não consegui me mover. Meu corpo permaneceu travado, rente à madeira por alguns minutos, até ir deslizando devagar encontrando o piso frio da sala de estar. Sentada, com a cabeça entre minhas pernas, as imagens de tudo o que aconteceu durante o dia foram repassando em minha mente, tal como se fosse um filme.

É tão estranho refletir sobre como nossa vida está fadada a mudanças constantes e repentinas. O rumo das situações pode ser alterado quando menos se espera. Isso definitivamente me incomoda, porque me faz perder o controle, faz cair por terra todo o trabalho construtivo de uma rotina, de um parâmetro para direcionar meus dias dentro do comodismo de minha redoma.

Li certa vez na Internet, que nosso cérebro é extremamente otimizado. Um adulto tem, em média, entre 40 e 60 mil pensamentos por dia. Qualquer um de nós ficaria louco se o cérebro tivesse que processar conscientemente tal quantidade. Por isso, a maior parte destes pensamentos é automatizada e não aparece no índice de eventos diários. Por conseguinte, quando você vive uma experiência pela primeira vez, ele dedica muitos recursos para compreender o que está acontecendo. É quando você se sente mais vivo. Eu me sentia assim: viva, com a adrenalina ainda correndo em minhas veias. Era um misto de euforia, êxtase e pânico. Foi o que me paralisou. A fusão de sentimentos me permitia apenas ficar ali, imóvel, mirando um ponto qualquer em um canto da sala.

Somente despertei de meus devaneios quando ouvi meu celular tocar "Ironic" dentro da minha bolsa de mão que se encontrava jogada ao meu lado. Era um SMS. Apressei-me em pegar o aparelho, imaginando que fosse mais uma investida desesperada de minha mãe reclamando do meu irmão, mas não era. Meu coração disparou ao ver quem remetia a mensagem.

"Observando a loira que todas as manhãs senta ao fundo, na quinta mesa do lado esquerdo do salão principal do meu café, que pede um macchiato e lê os suspenses de Sidney Sheldon, não dá para imaginar que ela é capaz de uma canalhice descabida. Não espero que tenha um bom resto de madrugada!"

– Lenora...

Criei coragem e acabei levantando com dificuldade por conta do tempo excessivo na mesma posição, o que dificultou a circulação das minhas pernas. Dirigi-me até meu quarto, onde tirei as minhas roupas e as joguei sobre a cama.

Eu precisava de um banho para me livrar daquele emaranhado desconexo de sensações estranhas que me dominavam naquele instante. De nada adiantou. O sabonete - ao deslizar pelos meus seios - fez a minha mente relembrar detalhes de poucas horas atrás. Mas, em vez de tentar eliminar aqueles pensamentos maliciosos, acabei fechando os olhos, desejando que as curvas perfeitas vividas em minha cabeça, os cabelos negros, o cheiro de maçã, fossem mesmo reais.

Suspirei ao notar que meu corpo estava reagindo e minha vagina se lubrificando. Sorri, ao passo em que mordi o lábio, visualizando nitidamente a imagem de Suarez nua, ainda cheia de tesão, me vendo dar as costas para ela e ir embora. Eu tinha sido uma mulher má. Mas, de certa forma, gostei da sensação de ter o comando, o poder em minhas mãos, apesar de eu mesma ter ficado completamente desorientada instante depois.

A fantasia é bela. Pinta-nos de forma mágica e nos permite vaguear por caminhos prazerosos, porém a realidade é proporcionalmente dura e amarga. Era a primeira vez que eu participava de um joguinho de sedução. Era a primeira vez que eu embarcava em uma aventura insana. Era a primeira vez que eu tinha feito amor com uma mulher.

"Eu transei com uma mulher!" Aquela frase ecoava intermitente em minha cabeça, como se ela fosse uma caverna.

Desliguei o chuveiro e fui para a cama, ainda pensando em tudo aquilo. O meu nível de adrenalina estava abaixando, e então passei a raciocinar com mais clareza. O tempo inteiro, agi no calor do momento, permitindo que emoções desconhecidas me guiassem. A princípio, aquele encontro deveria ser apenas uma retribuição a gentileza de uma "desconhecida", mas acabei gozando em sua boca.

O Doce Sabor da Rotina (Degustação)Where stories live. Discover now