CAPÍTULO 01: NATAL? O QUE É NATAL?

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NATAL? O QUE É NATAL?

Ah, o Natal! Uma época inesquecível. Mas, que foi esquecida por todos. Ou, quase todos.

Era noite de 24 de dezembro. Valentina decorava biscoitos de açúcar. Uma tradição da sua família, mas que foi quebrada por todos, anos atrás. Ela cantarolava uma canção natalina, escutada por ela a última vez há oitos anos, mas jamais esquecida em sua memória. Ela estava tão distraída com seus biscoitos, que nem percebeu quando sua irmã mais nova chegou de surpresa na cozinha.

— O que você está fazendo, Val? — Katharine perguntou a irmã.

Valentina olhou para a pequena, enquanto se lembrava da última vez em que fez os biscoitos. A caçula da família estava com alguns meses de vida na época. Não se lembraria da tradição realizada pela família Gomez.

— Estou decorando alguns biscoitos de açúcar. Quer me ajudar?

Katharine nem precisou ouvir o pedido pela segunda vez. Ela sentou em uma das banquetas e pegou o potinho de açúcar em cima da bancada. Em seguida, polvilhou sobre os biscoitos feitos pela irmã.

Observando a caçula fazendo aquele trabalho tão simples, mas que, para ela, era algo incrível, Valentina se lembrou do passado. Naquela mesma idade, anos atrás, ajudava a irmã mais velha a fazer o mesmo trabalho. Valentina sentia falta daquela época. Mas, tudo mudou. Estava diferente. E não era um diferente bom.

— Amanhã é Natal. — Katharine disse, pegando Valentina de surpresa.

Ninguém se lembrava dessa data. Como Katie, com apenas meses quando o último Natal foi comemorado, conseguia se lembrar?

— Vi no calendário. — a caçula esclareceu.

Estava explicado. Será que as pessoas perderam a capacidade de olhar aquela folhinha pregada em alguma parede da casa? Como não conseguiam se lembrar de uma das épocas mais incríveis e mágicas do mundo?

Havia algo de muito errado com as pessoas. Elas se lembravam dos erros do passado com perfeição, impedindo o perdão. Como não conseguiam se lembrar da época em que deveriam deixar as magoas e desentendimentos para trás? Porque o Natal era isso. Tempo de união. Tempo de reconciliação.

— Val, o que é Natal? — Katharine perguntou. Sua feição transbordava toda a curiosidade que aquela idade trazia.

— Natal é uma época mágica. — Valentina se lembrou, nostálgica — Um dia que deveria ser lembrado para sempre nos corações das pessoas. Mas que foi esquecida para sempre de suas memórias.

— Me conte mais.  — pediu a caçula. Seus olhos escuros brilhavam com a nova descoberta.

Valentina fechou os olhos, se permitindo viajar no tempo, há oito anos. Ela era pequena na época, mas conseguia se lembrar com perfeição de cada detalhe da última noite natalina. Natal era o período que ela mais amava quando criança. E o tempo que ela mais sentia saudades.

Sua família se reunia na casa de seus avós paternos. Uma casinha humilde na fazenda Gomez. Todos os parentes se juntavam um dia antes, na véspera. As mulheres ficavam na cozinha, preparando a comilança. Era extremamente proibida a entrada de homens enquanto elas faziam os alimentos para a ceia. As crianças brincavam, correndo pela casa ou quintal. Os mais jovens eram obrigados a cuidar dos mais novos, sempre resmungando pela tarefa. Mas, pouco depois se deixava levar pela alegria das crianças.

À noite, a família inteira se juntava para ir à igrejinha, na vila próxima a fazenda, onde participavam da missa de Natal. Na manhã seguinte, todos acordavam e viam a árvore natalina repleta de presentes. Os adultos tentavam, de alguma forma, encontrar uma razão para o aparecimento de tantos embrulhos. Só que não havia uma única razão lógica. Tudo era obra do Papai Noel. O bom velhinho visitava todas as casas. Não se esquecia de ninguém.

Também existiam as tradições. Trocas de cartões. As músicas. As decorações. Árvores. Guirlandas. Pisca-pisca. Presépio. O uso de vermelho ou verde. E as pequenas discussões que a cor das roupas gerava. Isso não é vermelho. Isso não é verde. Mas, em um segundo, tudo passava. E logo todos estavam se abraçando e sorrindo, desejando um ótimo Natal.

O Natal era uma época mágica. Havia algo naquela data, que deixava tudo diferente. Tudo ficava mais bonito. As pessoas eram mais caridosas. Doavam alimentos e agasalhos aos mais necessitados. Elas se tornavam mais empáticas. Deixavam as magoas e desentendimentos para traz. Não tinha lugar para o rancor. Apenas eventos bons reinavam. Aquela era uma data especial. Mágica.

— Por que não comemoramos mais o Natal? — Katharine questionou, ao fim do relato da irmã, que apenas deu de ombros como resposta.

Essa era a pergunta que Valentina se fazia todos os dias quando chegava à semana do Natal. Uma época tão boa. Por que as pessoas se esqueceram dela? No calendário, estava marcada de vermelho, mostrando que a festividade ainda era feriado. Mas, ninguém, além da própria Valentina, via aquela data como um dia especial. Um dia para ser comemorado.

Valentina e sua irmã mais nova terminaram de decorar os biscoitos de açúcar, deixando todos em uma bandeja sobre a bancada da cozinha. Os biscoitinhos estavam lindos. E o cheiro fazia o estomago das duas roncarem.

— Podemos comer agora? — Katie perguntou, colocando a mão na barriga, tentando esconder o barulho que fazia.

Segundo as tradições natalinas, os biscoitos só poderiam ser comidos no dia 25 de dezembro. Mas, não existia o Natal. Logo, não existia tradição. Não faria mal comer aquelas delícias decoradas antes.

Cada uma pegou um biscoito na bandeja. Elas os tocaram um no outro. Como se brindassem. Mania que Valentina pegou quando brincava com a caçula. Elas colocaram na boca juntas, fazendo certo suspense.

Fechando os olhos, elas deram uma mordida em sincronia. Era possível sentir o gosto dos saborosos biscoitos, que derretiam na boca. Valentina sentiu um gosto especial. Não era só biscoito. Era gosto de Natal.

As irmãs abriram os olhos e sorriram uma para a outra em cumplicidade. Mas, perceberam que não estavam sozinhas. Não era uma das suas outras duas irmãs, que deveriam está perambulando pelas ruas. Nem mesmo os gêmeos, que viviam aprontando com todos na casa. Nem mesmo seus pais, que estavam em uma confraternização da empresa que trabalhavam. Confraternização esse que nem chegava perto das festas natalinas.

Na verdade, era uma garota. Uma estranha de longos cabelos loiros, quase branco. Os olhos eram tão verdes que pareciam duas pedras preciosas, não um órgão do corpo humano. A menina usava um vestido vermelho, um pouco acima do joelho, com detalhes brancos na barra, nas manguinhas e na região do pescoço. Na cintura, um cinto preto com detalhes laranja. Nos pés, uma bota preta até o meio da canela. Sobre os cabelos, uma espécie de gorro vermelho, com detalhes brancos. Era a versão feminina mais jovem do Papai Noel que Valentina via nas peças natalinas anos atrás.

— Quem é você? — Katharine perguntou, se agarrando a irmã mais velha.

A caçula da família Gomez estava curiosa. Encantada. E assustada. Aquela aparição em sua cozinha lhe causava uma mistura de emoções.

— Sou Nicolina Noel, princesa de Natalina, o reino do Natal. Preciso da ajuda de vocês. Precisamos salvar o Natal.

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O que acharam desse primeiro capítulo? Estão gostando das personagens? O que acharam de Valentina, Katharine e Nicolina? Será que as garotas vão conseguir salvar o natal? Como elas farão isso? Quais são suas teorias?

Não se esqueçam de votar e comentar. Quero muito saber a opinião de vocês.

Até o próximo

Syo!

Um Natal Esquecido [Completo]Onde histórias criam vida. Descubra agora