prólogo | fairy tales

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Jimin havia sonhado com como seu companheiro¹ seria incontáveis vezes.

Desde que era um pequeno filhote, com bochechas rosadas cheias de inocência e olhos curiosos abertos ao mundo, a única coisa em que Jimin pensava era como seria seu futuro alfa. Ele não estava tão preocupado com sua aparência, mas mais com o que eles teriam em comum, como passariam seu tempo juntos – talvez lendo os livros que Jimin tanto amava, talvez cavalgando pelas vastas terras de Erigon, parando apenas para colher lindas flores em um campo qualquer. Mas o que fazia o coração do pequeno Jimin transbordar de felicidade era imaginar o amor nos olhos de seu alfa sempre que ele o olhasse. Jimin era romântico, tinha lido livros demais para o gosto de seu pai, histórias sobre o amor entre alfas e ômegas, como o amor deles superava tudo, e desejava, com todo seu coração e alma, que seu alfa o olhasse com adoração e o amasse incondicionalmente.

Jimin idolatrava seu futuro alfa, e sua paixão por seu companheiro desconhecido cresceu ao seu lado pelos anos seguintes. O adolescente Jimin já estava apaixonado por quem quer que ele fosse, escrevendo poesias sobre olhos brilhantes e lábios quentes beijando seu pescoço durante suas aulas de escrita, provocando repreensões firmes de seu professor por sua falta de concentração.

Ele teve sua quota justa de pretendentes, jovens soldados parte do exército de sua família, fortes e atraentes, mas nenhum deles era realmente o certo², apesar de suas tentativas de cortejar o jovem ômega com flores e promessas vazias de amor eterno. Jimin esperava fogo nascendo dentro de si, seu coração descompassado de felicidade, tanto que todo o seu corpo iria queimar, radiante de amor no momento em que seus olhos se prendessem pela primeira vez.

Mas essa pequena fantasia foi destruída cruelmente poucos dias depois de seu vigésimo aniversário, e começou com seu pai o chamando para conversar depois do jantar.

Perto de seu pai Jimin era tímido, discreto. O líder do clã Park era um homem a se temer, e Jimin sabia que seu pai havia ficado muito decepcionado com seu nascimento. Seu primogênito não era um alfa forte e resistente que lideraria a família anos depois, quando ele tivesse que deixar o cargo. O homem nunca hesitou em mostrar seu descontentamento com a natureza de seu primeiro filho desde que Jimin era criança e o ômega não conseguia realmente compreender por que seu próprio pai o olhava com tanto nojo. Jimin havia sido completamente deixado de lado quando, quatro anos depois de seu nascimento, uma segunda criança nasceu, e desta vez com o desejado status alfa.

— Sente-se, filho. – ele gesticulou vagamente com a mão para a poltrona vazia em frente à que estava ocupando, a outra mão segurando um copo com o líquido alcoólico que tomava todas as noites. Jimin odiava o cheiro forte do licor. Quando atingiu a maioridade e seu pai permitiu que ele provasse, Jimin franziu o rosto em puro nojo com o gosto, dando ao seu pai outra razão para olhá-lo com desdém.

— Sim, pai. – Jimin assentiu, sentando-se com uma postura rígida. Ele sempre sentiu que precisava se provar na frente de seu pai e não ajudava que o líder do clã Park nunca deixasse de julgar o que o ômega fazia. Jimin gostava de pensar que tinha parado de se importar com a aprovação de seu pai desde sua pré-adolescência mas ele sabia que, no fundo, a esperança de seu pai lhe lançar um olhar orgulhoso ainda queimava em seu peito.

— Daqui a alguns dias estaremos esperando convidados – seu pai começou, sentenciando Jimin um olhar gelado que deixou o mais novo se contorcendo desconfortavelmente em seu assento. – e sua presença será obrigatória.

Jimin franziu a testa, confuso. Era raro sua presença ser exigida quando alguém visitava a mansão, a menos que o visitante fosse algum parente ou amigo próximo. Seu pai costumava realizar os encontros em seu escritório, para depois oferecer aos convidados um jantar agradável e chique, esperando que sua esposa e filhos fossem agradáveis o suficiente para garantir boas impressões e uma promessa de retorno. E era isso, nunca foi dada alguma importância a um ômega como ele em tais reuniões. Ele era mais uma peça na decoração.

— Você não deve fazer nada além de se comportar. – disse o pai após o silêncio de Jimin. O jovem ômega assentiu novamente, olhos abatidos e boca fechada, apesar de todas as perguntas formando-se em sua cabeça. – Pela primeira vez, me faça sentir orgulho de você.

Com isso, Jimin trancou a mandíbula, furioso por como essas palavras alimentavam sua urgência em chorar. Ele pensou que, depois de todos esses anos, estaria acostumado com a aversão de seu pai a si mas as palavras ainda doíam e seu orgulho continuava ferido.

— Sim, pai. – e com isso, Jimin foi dispensado, o curto encontro deixando um gosto amargo em sua boca e, certamente, algumas horas sem dormir.


[1|mate] : companheiro. É como se referem aos esposos e esposas no universo ABO. Sua união é simbolizada por uma mordida, geralmente dada no pescoço, e por isso pode ser usada a palavra marca para traduzi-la. Ambas não são traduções exatas e não se encaixam em todos os contextos, por isso não estranhem se eu usar marca nos próximos capítulos, okay??

[2|the one]: o certo.  Expressão usada para se referir ao amor de sua vida, a pessoa certa. Algumas pessoas traduzem como escolhido ou único já que, assim como mate, não existe tradução exata.

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JUST A LITTLE BIT OF YOUR HEART | jikookOnde histórias criam vida. Descubra agora