eu estava cansado , como todo o resto das pessoas. percorria ladino as multidões, me desviando com sorrisos e dividindo a bebida. mas a verdade é que o limite ja tinha chegado e eu ja havia me despedaçado. alguma mulher na noite juntou minhas partes e me fez seguir adiante.Não havia mais limite agora, seguia por preguiça de morrer. esqueci das minhas angústias e me angustiava agora sem sabor nenhum. sinto falta da dor. ela me deixou e agora não sei o que fazer. não escrevo bem e mal presto atenção em como a cidade se move e se remove com seus cidadãos igualmente cansados, sem saber, mas ainda assim cansados. ja não presto atenção na conversa das pessoas no ônibus e nem paro pra observar o fim de tarde nas costas das árvores. eu até olho. jogo a vista e nada me vêm. como se ja tivesse visto tudo, não por ja ter assistido a tudo, mas saber como vem a sensação. ja sei como serão raros os contextos de conversa que poderiam me fazer tecer uma analise legal de algum encontro comigo mesmo na cidade. sei também como vou lembrar e ainda assim esquecer porque amanhã ja sou outra pessoa e o que me aconteceu ficou para o Eu que morreu. que morre todo dia. sei como tudo se perde. eu sei sim. tudo que é bom e se vai , porque tudo que se vai, é saudade. Saudade é a maior permissão da tristeza. os momentos são roteiros mesmo. não ha nada singular mesmo que sejam únicos. nós não temos porte pra alegria. talvez haja uma alegria dentro de alguma tristeza mesmo Valter, é a única possibilidade. não quero mais lembranças, me venham histórias mas que se vão e me deixem em paz. estamos cansados demais para a alegria.