Meu Adorável Chefe • James Rodríguez

Trinta

Tini

Observei a paisagem lá fora, o frio tinha chegado a Munique, e também a minha vida. Meu maior medo tinha se tornado realidade, James descobriu tudo sobre o meu passado.
– Ainda não acredito que ele foi capaz de fazer isso com você. – a voz de Joshua soou atrás de mim e me virei para olhá-lo.
– Ele teve seus motivos.

Ele assentiu e nesse momento a campainha tocou e agradeci mentalmente por não ter que falar mais nada.
– Cadê ela?! – Isabel entrou igual a um furacão procurando por mim. – Tini!
– Eu to aqui.

Corri até o seu abraço e não aguentei, desabei em lágrimas. Até aquele momento eu estava me mantendo forte, mas quando vi a Bel, a ficha caiu.
– Como você ta minha amiga? – ela perguntou acariciando meu rosto.
– Eu... To péssima...
– Calma Tini, vai ficar tudo bem.
– Ele descobriu tudo Bel! Ele soube de tudo!
– Mas como? Você sempre foi tão cautelosa.
– Descobriu o que? – ouvi a voz do Leon e só então notei que ele também estava ali.

Olhei pra Bel que me abraçou de lado.
– Tem uma coisa sobre mim que vocês não sabem.

Joshua e Leon olharam um para o outro e depois para mim.
– E foi isso que o James descobriu?
– Sim Leon, foi isso mesmo.
– É tão grave assim? – percebi a hesitação na pergunta do Joshua e abaixei o olhar.
– James descobriu que eu sou uma assassina.

Mantive minha cabeça baixa porque não queria enfrentar o olhar acusador de nenhum deles. As lágrimas voltaram e junto com elas, toda a dor de ter que reviver essa história. Senti os braços protetores de Isabel a minha volta.
– Tini você... Matou uma pessoa?
– Sim! Eu matei!
– Foi legítima defesa! Ela não teve escolha! – Isabel tentava me defender, mas já não fazia mais diferença, estava tudo perdido mesmo. – Conte a eles a verdade, o que aconteceu pra você chegar a esse ponto.
– Eu preciso sentar. – olhei para Joshua que parecia atordoado, Leon não estava diferente.
– Vem, vamos sentar.

Fui junto com a Bel e sentamos em outro sofá de frente pra eles.
– Meninos, antes que vocês façam um julgamento errado, a Tini é a vítima aqui ok, ela...
– Tudo bem Bel, eu vou contar tudo, desde o começo.

Ela assentiu e passou o braço sobre os meus ombros.
– Eu morava no Brasil com os meus pais, sempre fomos muito felizes. Meu pai era colombiano e tinha o sonho de me levar até o seu país natal, me mostrar tudo sobre a sua terra. – um pequeno sorriso se formou em meu rosto ao lembrar aqueles momentos felizes. – Ele morreu em um acidente na obra onde trabalhava, um pedaço de concreto se soltou e caiu em cima dele e outros homens. Tentamos colocar a construtora na justiça, mas quem tem dinheiro fala mais alto, como sempre.

Olhei de relance para os dois rapazes que me encaravam.
– Meses depois minha mãe conheceu um cara, ela tava sozinha, carente, nós duas tentando manter a casa com muita dificuldade. Ele se mostrou muito gentil, carinhoso, paciente, exatamente aquilo que minha mãe precisava, não foi difícil pra ela se apaixonar. Eu não via problema nenhum nisso, só queria que ela fosse feliz, mas aí eu descobri o verdadeiro interesse dele e minha vida virou um inferno.
– Você. – Leon comentou e assenti limpando mais uma lágrima que caía.
– Olhares, indiretas, ele sempre tentava se aproximar quando ela não estava em casa e eu me esquivava, não queria atrapalhar a felicidade da minha mãe, pretendia sair de casa pra acabar com tudo aquilo. Trabalhava o dia todo e estudava em um cursinho pré-vestibular a noite pra não ter que ver a cara dele, chegava em casa exausta e entrava no meu quarto e me trancava lá dentro.

Inspirei fundo pra continuar.
– Aí eu notei que minha mãe não estava mais tão feliz, ouvia as brigas constantes, desconfiava até que ele a agredia, mas ela não admitia e eu sofria por não poder fazer nada. Uma noite eu tinha chegado em casa mais cedo e ela tava na casa da minha tia que morava no mesmo bairro, eu fui tomar banho e não tinha percebido que ele estava em casa. Saí do banheiro enrolada de toalha e ele tentou me agarrar por trás.