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No começo tudo foi difícil. Eu não sabia muito bem como seria. Eu sentia raiva da situação, raiva dela. Mas sentia amor. O amor sempre esteve ali e sempre vai estar.
Nossa relação sempre foi muito intensa. Nós dois sempre demos um ao outro tudo de nós. Sempre nos jogamos de cabeça e infelizmente com o rompimento não foi diferente. Eu desabei na primeira semana. Evitava a todo custo tudo sobre ela, treinava o dia inteiro e evitava a minha própria casa, onde tudo me lembrava ela. Mas no fim, de nada adiantava. Toda noite era a mesma coisa: chorava até adormecer. Então eu desisti. Nada me faria esquecê-la. Eu entendi que nós dois precisávamos desse tempo, precisávamos pôr a cabeça no lugar, amadurecer. Entendi que nada do que a minha cabeça me dizia aquele dia era verdade, que nós dois nos amamos e que isso era o suficiente para nos encontrarmos com o coração mais calmo um tempo depois. E então, aprendi a viver com o luto. Já não choro mais, não como antes, já não sinto raiva. Nós conversamos agora, o básico, mas conversamos. Ambos sabiam que muita coisa precisava ser dita, mas não estávamos prontos ainda, então só deixei rolar.
Quase todas as noites eu conversava com a minha sogra. Ou melhor, ex sogra. Era um jeito de me sentir mais perto da Ju. Veja bem, não era uma forma de perseguição, eu só gosto de conversar com ela. Cristina sempre foi muito gentil comigo, poderia até dizer que à amava como uma mãe. A Ju sempre dizia que éramos "cúmplices e melosos". Em uma dessas conversas, à alguns dias atrás, a Cristina me contou sobre a viagem da Ju à Paris. Eu sabia que ela iria, mas não imaginava que seria tão rápido. Eu estava feliz por ela estar indo realizar um de seus sonhos, é claro. Não pude evitar de me deprimir um pouco, nós iríamos juntos, mas também senti uma pontada de culpa, afinal, eu tinha feito a tão esperada viagem à Orlando dois dias depois do seu aniversário.
A Ju, por sua vez, não falou nada sobre e eu também não toquei no assunto.
Eu estava na sala assistindo TV pra ver se assim as horas passavam mais rápido. Eu tô com a ideia de ir até Niterói jantar por lá, passar um tempo com meu pai e minhas irmãs. Eram 18:09hs quando desisto da TV e subo pra tomar um banho, na esperança de que a água quente me relaxasse e levasse embora esse peso nos ombros. O banho ajudou, mas nem tanto. A falta que eu sentia dela era constante. Amarro uma toalha na cintura e saio do box, sem me preocupar em secar meu corpo ou meus cabelos e rumo até a cozinha, procurando meu celular pra avisar a Dani que eu estava a caminho. Porém, enquanto eu descia as escadas, o meu corpo inteiro congela, mas só pra depois aquecer de novo. Lá na sala, de costas pra mim no sofá, estava a Ju, fitando o chão. Eu me aproximo mais, ficando atrás dela.
— Ju? – eu chamei e ela tomou um susto. Eu queria contornar o sofá e abraçá-la, beijá-la e fazer tudo o que meu corpo e coração mandavam, mas minha mente só me perguntava uma coisa: — O que você está fazendo aqui?
— Oi – ela disse. Simples assim.
— Como você entrou aqui?
— Hmm, eu tenho a chave reserva.
— Como você sabia que eu estava em casa?
— Eu não sabia — respondeu mordendo o lábio. Foi aí que eu percebi que ainda estava somente de toalha, na cozinha, enquanto Juliana me comia com os olhos. Merda.
— Ju, desculpa. Eu vou subir e me vestir – disse já virando pra tomar o rumo das escadas, mas ela impediu.
— Não precisa, Nicolas. Eu vou ser breve – ela falou sem me olhar nos olhos. Eu sorri com a situação, embora que o assunto provavelmente fosse sério. Em outros tempos estaríamos lá em cima, no quarto.
— Tudo bem. Pode falar – eu disse me jogando no sofá. Sim, eu estava somente de toalha no mesmo sofá que a minha ex namorada. Ela me olhou por um tempo que mais pareciam anos, até que finalmente respirou fundo e disse:
 — Eu e meus pais iremos à Paris daqui dois dias.
— Eu sei – respondo, mas depois me dou conta de que falei demais.
— Sabe?
— Longa história, Ju.
— Foi a minha mãe, né? Vocês andam conversando? – fico por alguns segundos pensando se deveria contar ou não, e decido ser sincero com ela.
— Sim, quase todas as noites, pra ser exato.
Ela aperta os olhos e logo balança a cabeça
— Bom, isso explica algumas coisas – diz sorrindo e eu fico confuso.
O silêncio pairou sobre nós e eu estava começando a me sentir desconfortável aqui. Qual é, eu estava praticamente nu olhando pra mulher que era a minha perdição e salvação ao mesmo tempo. Ela se mexe no sofá e estende a mão, alcançando a bolsa que só agora notei. Ela tira de lá uma caixinha preta que eu já conhecia. Eu fico à observá-la enquanto abre o objeto. Meu cérebro para de raciocinar. Ela estaria devolvendo um presente meu?

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