Overcome.

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- Qual é, Nicolas! - ouço Maria Fernanda do outro lado da linha após eu recusar o convite pro almoço - tremendo idiota você.
Reviro os olhos. Ela precisava aprender a ouvir um não.
- Filho, o que tá acontecendo? - dessa vez é minha mãe quem diz - só queremos o melhor pra você. Nós te amamos e estamos com saudades.
- Olha só mãe, eu quero ficar sozinho tá bem? - eu digo já irritado. Do outro lado um silêncio predomina e eu percebo que ela ficou surpresa. Tudo bem. Talvez eu tenha exagerado. Eu nunca usava esse tom com elas. Bem, quando eu era um mero adolescente, talvez usasse com mais frequência, mas eram raras vezes. Eu percebo que fui egoísta. Elas estavam somente me querendo por perto, e aliás, não era com elas que eu estava zangado.
- Desculpa, mãe. Eu tive uma noite ruim - eu me desculpo - eu só preciso ficar sozinho.
- Nos deixe cuidar de você, meu amor...
- Dona Giselle, eu realmente preciso ficar sozinho agora.
- Tudo bem, filhote. Se cuida tá? Nós te amamos.
- Beijos, mãe. Também amo vocês.
Eu desligo e viro de costas na cama, olhando para o teto. Como disse, eu tive uma noite realmente difícil. E uma manhã mais ainda. Eu à odiava agora. À odiava por isso. Sentia raiva por tudo o que ela me causou. Por tudo que sofri. Eu tentava evitar tudo que me remetesse à ela. Mas fui pego de surpresa hoje. O sol ainda não havia se feito presente quando acordei com o rosto banhado em lágrimas. Eu havia chorado. E sonhado.

No sonho, ela sorria e fugia de mim, enquanto eu corria atrás dela feito louco, rindo também. Seus olhos explodiam amor, e eu não podia estar mais feliz, afinal, nós estávamos ali, no nosso lugar preferido. Na praia. Juntos. Para sempre, como deveria ser. Eu finalmente consigo alcançá-la, e então nos beijamos. Sem pressa. Feito dois adolescentes. Mas de repente, ela se afasta, me olha nos olhos e então cada pedacinho de seu corpo começa a desaparecer aos poucos e seus gritos predominam minha mente. "Não me deixe". Tudo escurece assim que ela some e então o cenário muda e agora estamos em sua casa. Discutindo. Exatamente como aquela noite. A chuva caía la fora, trovoadas se faziam presentes também. Tudo o que eu queria era sair dali, mas não podia. Algo me prendia ali. As palavras mal intencionadas de Juliana ecoavam na minha cabeça. As minhas palavras mal intencionadas ecoavam em minha cabeça. Eu pedia mentalmente que ela parasse e me dissesse que esta brincando. Eu queria que estivéssemos brincando. Muito foi dito durante essa noite. Muita coisa que machucou um ao outro.  Juliana agora dizia coisas indecifráveis, eu já não prestava atenção. Eu estava incrédulo. Tudo o que vivemos, era isso que significa para ela? Nada? Eu a deixei falando sozinha quando peguei as chaves do carro e saí pela porta sem nem olhar em seus olhos e dizer o que eu realmente tinha ido fazer ali. Saí sem dizer o quanto eu a amava e a queria por perto para sempre. Fora de seu apartamento, a chuva ficava cada vez mais forte e violenta. Eu entro no carro e me permito desabar, assim como a noite desabava. Então era isso? O fim?
Após o sonho, acabei não conseguindo dormir. Eu precisava respirar, foi quando peguei as chaves do carro, agora na realidade, e fui dirigir. Faltava pouco para o Sol nascer. Meu coração pedia para ir até a praia então foi o que eu fiz. A maresia batia em meu rosto. Uma pequena linha amarela no horizonte se fez presente. O Sol estava vindo. E foi ali, sozinho sentado na areia da praia durante o nascer do Sol que eu chorei. Chorei por não tê-la ali comigo. Chorei porque ela em breve iria realizar um sonho que sonhamos juntos: Paris. Chorei porque provavelmente não iríamos realizar os outros sonhos. Chorei por eu ter sido egoísta. Chorei por ela ter me deixado ir naquela noite. Chorei porque ela não me pediu para voltar. Chorei. Chorei de saudade, de raiva e tristeza. Chorei por amor. Por ela.
Quando eu levanto e tiro a camisa, tudo o que eu queria era que o mar levasse tudo embora. As lágrimas. O passado. A tristeza. Queria que a água do mar, famosa por curar feridas, curasse as minhas. E eu não pensei duas vezes antes de me jogar na água salgada.
Agora estou aqui, zangado por não conseguir tirá-la de meus pensamentos. Deitado na cama olhando para o teto, concluo que preciso de um banho.

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