A voz por uma última vez balbuciou suas arrogantes palavras, tais palavras que me assustavam tanto quanto tudo o que eu estava sentindo e admirando,
"Fraco ser humano, não se assuste, você apenas descobriu sua verdadeira natureza, e sim, ela o assusta pois é uma demonstração dos seus desejos mais profundos, não peço que entenda tudo de imediato, mas que compreenda o que é necessário ser compreendido, pois quando eu voltar a esta casca que você habita, pretendo me hospedar por muito mais tempo do que esta pequena demonstração desgastante".
Por algum motivo aquelas palavras de adeus me tocaram, me sentia traído, mesmo estranhando a "visita" inóspita em meu corpo eu não queria que ela fosse embora tão cedo, ela me entendia e eu não desejava perde-la, como perdi todos que se aproximaram de mim. O eu que estava preso dentro de mim começou a gritar e a socar minha mente, pedindo e implorando para ficar preso, entregando assim boa parte de mim para o estranho eu. Porém, a voz balbuciava dizendo que não podia ficar e que um dos motivos de ainda não ter se apresentado era o de que eu sentiria sua falta, pois ela era a maior representação de mim mesmo, sendo assim ela me largou de mão, indo para algum lugar em minha mente em que eu nunca acessaria, um lugar que eu poderia procurar eternamente entre meu labirinto cerebral por sua centelha de autoridade e egocentrismo novamente que eu nunca acharia tal centelha, pois ela não desejava ser achada e assim não aconteceria.
Quando eu percebi e me dei conta de que realmente havia sido abandonado da esperança de ser um outro eu, já que estava fadado a ser quem eu sou, parei de ver o mundo como a centelha de mim mesmo me mostrara, as ondas na costa não faziam mas o som "divino" e a ramificação das folhas nunca existiram. Minha essência havia se perdido junto com a centelha de mim mesmo, mas como perde-se de você mesmo dentro de si mesmo nas entranhas do seu próprio eu?
YOU ARE READING
Vermelho-Sangue
General FictionSerá que, em meio a natureza humana, podemos esconder nossa verdadeira forma de nós mesmos?