Naquela noite no navio, de frente para o mar, eu estava à espera de alguém. Me mantinha aquecido em meio a ventania. Eu derretia, com meu hálito, os flocos de neve que ousavam descer a minha frente.
- Oi – disse Anaisa, me informando de sua chegada.
- Você veio. – respondi surpreso enquanto me virava para admira-la.
Ela fixava os olhos no mar e permanecia em silêncio. Eu tive que quebrar o gelo – Eu não sabia se viria mas eu te esperaria até o amanhecer das ondas que nunca dormem. – disse tentando me aproximar.
Eu havia, por várias vezes, pedido uma chance de estar com ela. Eu não queria andar lado a lado. Eu não queria que ela apenas lembrasse de mim. Eu queria habitá-la, assim como o oxigênio habitava em seus pulmões. Eu queria substituir o medo que a acompanhava há tempos, preso no nó de sua garganta. Queria destruir a desilusão que há fazia chorar toda vez que se lembrava do último beijo. Queria que ela soubesse que podia montar em minhas asas e acreditar que eu podia levá-la cada vez mais alto. Eu queria uma chance de fazê-la feliz. Uma chance para mostrá-la que a lua, tão distante, vivia cercada, então não seria ela que viveria só.
- Ana, eu quero estar com você em todos os momento, em tudo que fizer.
- Sinto muito. – suas palavras causaram calafrios em mim, eu sabia que algo de ruim viria.
- Por favor, não diga. – eu disse enquanto retirava, com o dedo indicador, um floco de neve de seu rosto. Suas bochechas rosadas estavam, naquele momento, mais avermelhadas.
Me custava descobrir se era algum tipo de vergonha ou se era seu sangue que estava corando sua face. O toque era diferente. Passei o resto dos meus dedos pelo seu rosto e percebi a maciez indescritível de sua pele. Ela usava um de seus vestidos, aqueles floridos e soltos que a fazem parecer uma menina inocente e ingênua, o que não devia combinar com suas curvas de mulher, mas com ela era diferente, nela tudo combinava, eu via nela a leveza da poesia, a sedução da mulher, mas também via a dor da experiência.
- Sinto muito, não posso fazer isso. – suas palavras pareciam me ensurdecer.
- Anaisa por favor, não me deixe passar batido, não me ignore. – eu suplicava pela sua aceitação.
- Não posso, não dá. Algo me puxa pra você, algo me pede para te sentir, mas eu nem se quer te conheço. – terminou indo embora de costas para mim.
Era mais uma pessoa que havia me deixado partir. Eu não estava triste por ficar só. Estava triste por ela ter me deixado, por ela não ter me aceitado. Eu teria que encontrar outra pessoa, talvez alguém com menos dores, alguém que não sofresse tanto. Em relação a Anaísa, a única coisa que doía em mim era que ela nem sequer quis me conhecer. Era o que eu pensava, até que ela, com seu vestido flutuando ao vento do mar, se virou e me perguntou – Qual é seu nome?
Aquele foi o ápice, mas infelizmente já era tarde, ela devia me aceitar sem perguntar. Embora eu precisasse partir, resolvi lhe dar meu nome antes de me transformar em fumaça e seguir com o vento.
- Adeus Anaísa. E eu? Eu sou o Amor.

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Um Diário do Amor - Conto
Short StoryQuando a oportunidade te encontra, você a abraça? Ou a deixa ir?