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Gosto de te ouvir falar. Toco sua voz em notas cincas pelo áudio ruim do celular, mesmo que fosse só para te escutar falar sobre como o metrô estava cheio naquela noite de sexta-feira. Rebobino seu dizer suave várias e várias vezes, porque a serenidade de sua voz naquele áudio ultrapassado foi o único fragmento dito teu que consegui guardar.
Ainda me confino dentro de uma de suas blusas bonitas, porque seu cheiro, ainda que mínimo sobre as costuras delicadas, prevalece silenciosamente interino nas fissuras da estampa gasta de sua banda favorita.
As músicas que escutávamos continuam marcadas por estrelas douradas em minha playlist, e a cada canção suave que toca você me vem em memórias, de novo e de novo, num loop infinito de sorrisos enevoados pelo tempo e promessas agora atiradas ao vento.
Vejo seus traços pelas paredes, mesmo quando fecho os olhos, você ainda está ali. Suas flores ainda permanecem na janela, mortas, em nuances cinza-escuro de algo que já não existe mais. Não consigo desfazê-las, ainda que tente, porque o apego me agride o órgão pulsante e libera a dor atroz em lágrimas de gelo que me queimam as bochechas.
O amor excedeu a níveis que me impedi de enchergar, agora o fogo me consome em um pesadelo sem fim. Estou sufocada, mesmo que você não esteja mais comigo. Preciso te apagar de minhas memórias, preciso enxergar a mim e não a você.
