Eu estava com 16 anos não era mais aquele menino franzino, o trabalho duro me fez ganhar músculos e era maior que os meninos brancos da minha idade , já não conseguia me encontrar com a Nora, com tanta frequência mais eu vivia por ela, acordava cedo e ficava de longe olhando para o casarão , sempre esperando ela aparecer, é ela sempre aparecia como se soubesse que estaria ali esperando , e aquele sorriso me dava forças para trabalhar na lavoura em baixo de sol escaldante.
Faltava poucos dias para o aniversário dela , ela estaria fazendo 15 anos e eu pensava em como daria meu pequeno presente que passei as últimas semanas confeccionando, a Nora estava sempre com uma criada e não conseguíamos nos encontrar como antigamente , mais sempre que conseguíamos, ríamos e conversávamos bastante, e eu cada dia mais louco por uma migalha dela , queria ao menos olhar sua pele rosada seu cabelo cheiroso suas mãos delicadas .
Fiz um pequeno um pássaro em madeira e queria muito lhe dar , mais a casa estava sempre cheia muitas pessoas vieram para o aniversário, os patrões dariam uma festa .
E certa manhã acordamos sobressaltado pelos gritos do feitor .
- levante-se a patroa quer falar .
Levantamos todos imediatamente e ficamos esperando pelas ordens :
- Bom dia a todos, eu vim aqui escolher alguns de vocês para ajudar na festa da minha filha , iremos dar uma festa para Nora e preciso de alguns de vocês para ajudar na casa grande durante a recepção.
Na hora meu coração faltou uma batida , eu queria muito ir , para olhar a Nora de perto ver o quanto ela estaria linda , mais não podia me manifestar só torcer .
Vi a patroa olhando a todos e apontar alguma das minhas primas , até que ela olhou pra mim é apontou ,
- Você também Joaquim !
Meu coração batia alegre, não sorri mais estava muito feliz.
- Vocês que eu escolhi não vão para lavoura essa semana ficarão na casa grande comigo, vou ver roupas apropriadas para cada um , estejam amanhã cedo de banho tomado, para que eu possa mostrar para vocês como irão fazer.
Roupas ?eu me vestiria igual um nobre com roupas de verdade meus lábios não mostrava mais eu sorria.
na manha seguinte estávamos a espera da patroa, enquanto ela dava as ordens e nos explicava como teríamos que nos comportar , eis que o cheiro de rosa chega em minhas narinas ,nem precisei olhar para traz para saber que a Nora acabava de entrar na sala ,senti um arrepio na nuca um euforia meus olhos não aguentavam de vontade de olha lá .escutei os passos e já não ouvia uma só palavra do que a patroa dizia todos meus sentidos estavam nos passos que se aproximava .assim que ela entrou no meu campo de visão meu mundo tornou se colorido mais me preocupei no mesmo instante , o que eu vi foi os olhos vermelhos uma cara de choro um semblante triste , na mesma hora meu coração doeu ,eu queria perguntar para Nora o que estava acontecendo mais não poderia e nossos olhos se encontraram e pude ver a tristeza ali .
Só ultima palavra da patroa me chamou a atenção ,e na hora entendi tudo , Nora estaria também se despedindo iria estudar fora passaria quatro anos na capital e eu não iria mais ve la ,eu teria que esperar quatro anos para ver minha amada , e provavelmente conheceria um sinhozinho branco por la e voltaria casada e me esqueceria , meus olhos encheram de lagrimas e uma revolta ameaçou transbordar ali , pela minha situação pela cor da minha pele ,por essa diferença toda . nossos olhos se encontraram e eu pude ver o mesmo sofrimento nos olhos dela e segurei ao máximo para não deixar rolar a lagrima que teimava querer rolar do meu semblante .
Fiquei disperso meio que em transe ,a tristeza era tão grande que doía demais alguma coisa dentro de mim , não ouvia mais a voz de ninguém só a dor empezinhando meu coração desiludido.
Trabalhei aquele dia sem ao menos saber o que eu fiz , a patroa por vezes me chamou a atenção e tentei o máximo fazer melhor.
Durante aquela tarde não vi mais a Nora ,nada mais tinha graças eu só pensava que logo ela partiria e eu não a veria mais .
- A pátroa está te chamando Joaquim. O que você tem ? Tá estranho !
- Nada não Ana .
Ana era minha prima mais não morava na senzala, tinha uma casinha onde morava com o os pais que já eram idosos não aguentariam a vida dura da senzala .
Fui até a sala onde a patroa me chamava é me deparei com um cavalheiro auto sorridente, o mesmo me olhou com desdém com cara de nojo , na hora abaixei a cabeça em sinal de obediência como sempre fazíamos, percebi o olhar estranho dele para mim é para Ana que estava logo atrás.
- Alice que bela criadagem vocês tem , um mais saudável que outro .
- Obrigado Ricardo nossos criados são muito bem cuidados, eu mesmo faço questão de vigiar de perto, Odeio maus tratos.
- sou a favor desse tipo de raciocínio, são criaturas fantásticas.
Não gostei da maneira que ele olhava para mim e Ana , mais fiquei ali, mudo esperando as ordens .
- Quim leva esses presentes para o quarto da Nora .
Levantei rápido o olhar assustado .No quarto ? Eu veria a Nora e quem sabe conversaria com ela.
Peguei as caixas e sai em direção aos aposentos. Bati na porta e ouvi a voz dela pedido para entrar, empurrei a poeta devagar e entrei no comodo cheiroso ,claro nunca tinha estado ali ,encontrei seus olhos por um espelho onde ela penteava os cabelos restavam soltos e lindos caindo nos ombros
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Cheiro De Mulher
RomanceEssa história se passa no Brasil no ano de 1872 no século XIX , uma época de atrocidade em que a cor da pele determinava a sorte de cada um . Nesse ano nasce Joaquim, filho de escravos, porém em um ano onde a lei do ventre livre havia sido prom...