Lua Nova
Lua nova: é marcada por pouca luminosidade, pois sua face voltada para a Terra não está sendo iluminada pelo Sol.
...
Já passava de uma da manhã, eu lembro que entrei naquele lugar sem nenhuma intenção— ou talvez com uma—, eu apenas queria saber o porquê da felicidade repentina das pessoas ao sair dali, porém para tais perguntas haviam significados, e eu sabia quais eram alguns: álcool, sexo; e a fuga da realidade, e talvez eu apenas quisesse uma desculpa para parecer como os outros.
A música era alta, não muito, não alta o bastante para eu me sentir tonta e frustrada, era um alto confortável e até mesmo as luzes coloridas e de cores vibrantes não destruíam a minha visão clara do que acontecia ali, naquele lugar. Mas, tudo mudou quando eu puder te ver, você estava com o rosto enfiado no celular, uma cara de poucos amigos e um bico nos lábios, o bico mais lindo daquele lugar. O cabelo era desajeitado mas não tanto, e sua blusa amarela fazia você um destaque em meio aquelas pobres pessoas perturbadas.
A minha cor favorita é amarelo.
Você parecia irritado de mais e eu tinha receio de puxar conversa, aliás, eu tinha acabado de me sentar ao teu lado.
Eu pedi uma água com gás para parecer como as outras. Droga, água com gás é horrível, eu queria por aquilo para fora mas não dava, eu já tinha bebido o bastante para sentir rasgar minha garganta, eu senti o gás ir para o meu nariz. Eu odiava água com gás, mas eu podia fazer um esforço para parecer legal.
Reclamei, baixo, para que não me ouvisse.
Eu não bebia nada com gás, muito menos com álcool, mas você sim, estava com uma garrafa de vidro na outra mão. Como você conseguia equilibrar o celular e a garrafa? Você era talentoso, e eu gosto de garotos talentosos.
Você levantou, e eu o acompanhei enquanto ainda estava em meu campo de visão, mas por um momento eu te perdi em meio a multidão, e merda, eu tinha perdido um tesouro em alto mar. Eu tentei te achar mas não tive resultados, você literalmente sumiu do nada, adeus garoto da camisa amarela com o símbolo da playboy. Apoiei minha cabeça em meus braços que estavam pousados no balcão amadeirado do bar e me xinguei por não ter puxado assunto contigo, talvez eu tivesse arranjado alguém, uns beijos e uma conversa e depois você me esqueceria e tudo passaria apenas de um contato no seu celular, ou apenas uma garota perdida em suas memórias.
Senti uma presença atrás de mim, um calor, e logo pude sentir um bilhete entrar pelo pequeno espaço entre o balcão e meus braços magros.
“Me encontra no banheiro feminino, segunda cabine”. — O bilhete dizia. Sem remetente, sem nome. Eu torcia para que fosse você.
Olhei para um lado e para o outro, mas não achei nada e nem sinal de quem tinha posto o bilhete ali. Eu fui ao banheiro e avistei um homem, ele não era você; o garoto amarelo com uma marca nas bochechas salientes, e com uma blusa amarela florescente. Aquele homem não parecia ter sido moldado, não parecia como Mona Lisa, não era um quadro interessante de Leonardo Da Vinci, e não havia sido emoldurado delicadamente, como
Você. Ele parecia mais um esboço mal feito que algum artista havia jogado no lixo. Ele portava um sorriso sombrio e pervertido, eu tive vontade de tirar aquele maldito sorriso de seu rosto.— Oi, gostosa — Ele sorriu e me mandou uma piscadela. Eu ignorei. Tive vontade de vomitar olhando para seus traços mal desenhados. — Desculpa mas não tô afim, pensei que era outra pessoa. — dei de ombros e tentei sair dali, se ele não tivesse segurado meu pulso.. Ele havia cometido um erro. — Você veio, não se faça de difícil. — Eu revirei os olhos. — Isso só pode ser uma piada mesmo.. — Ri sem humor algum. — Eu não demonstrei interesse, agora tire a porcaria da sua mão de mim ou eu não serei mais educada. — Ele riu de minhas palavras como se elas fossem vazias. — O que foi? Você acha que não aguenta? Você veio aqui para isso garota, não precisa se fazer de difícil, a sua roupa já diz tudo, você quer fazer com alguém, você sabe disso. —Apertou meu pulso com mais força e sorriu. — Quando roupa— tirei sua mão de meu pulso.— começar a ter raciocínio próprio e te disser alguma coisa, você grava e me mostra porque isso será um milagre. — Quebrei três de seus dedos, o indicador, o anelar e o dedão. Ver ele urrar de dor e parecer um bebê indefeso após meu ato foi cômico, e eu não hesitei em rir.
Aquela cena no banheiro foi o suficiente e eu pude lembrar claramente do porquê de eu não gostar de boates. Primeiramente: existem idiotas; segundamente: música ruim; e terceiramente: apenas bebidas alcoólica e gente drogada.
Eu saí do banheiro e fui direto para a saída do estabelecimento, eu precisava respirar algum ar poluído, afinal, era uma cidade, era poluída, era mal cuidada.
Respirei fundo ao sair do lugar abafado.
— Você podia ter incapacitado o cara de ter filhos mas só quebrou três dedos dele. — Pude sentir o cheiro forte de cigarro ao meu lado. Merda, eu tinha acabado de me ferrar bonito. — Você viu? — Ele assentiu. — Ele é um babaca, você fez o certo. — Eu quis encher ele de beijos mas eu não queria passar a impressão de uma desesperada ao ponto de beijar um cara que eu vi uma única vez. Eu faria isso, eu era essa desesperada.
Eu esperei ele falar mais alguma coisa, mas ele não disse mais nada, apenas continuou fumando e admirando o luar e eu não sai do lado dele, mesmo aspirando aquilo tudo e mesmo odiando aquela fumaça toda, eu não conseguia sair do lado daquele cara, era como se eu estivesse presa a ele. Mas o cigarro se foi, ele o jogou no chão e pisou em cima e eu tive vontade de o xingar por causa daquilo, de dar um bom sermão a ele, mas eu não dei e ele saiu andando, não se importando, eu era apenas uma desconhecida mesmo, não poderia dizer mais nada, mas eu não queria que ele fosse embora e eu sabia que eu também não queria ser uma desconhecida.
Me levantei e andei em rapidamente para o alcançar.
— Ei, me passa teu número? — Ele parou, não olhou para mim ligeiramente, eu acho que ele teve que pensar, ele não era idiota o bastante para dar o número a uma desconhecida. Eu também não seria.— Eu pensei que não pediria, eu iria ficar decepcionado. — Me surpreendeu.
Ele virou-se para olhar para mim e me deu um sorriso fofo, o bastante para eu ter me derretido alí mesmo. Aquele garoto amava brincar com meu coração de manteiga.
Eu peguei o celular e anotei o número dele e ele fez o mesmo com o meu, porém, mesmo assim eu não queria deixar ele ir, eu precisava dele.
— Você quer vir? — Perguntou. É claro que eu queria ir. — Sim. Para onde iremos? — Foi minha vez de perguntar. — Vamos deixar a lua nos guiar.
(…)
De noite as estrelas sussurram para ela afirmando que a hora de ir está chegando. Ela logo poderá ter seu sol de volta, ela não precisará ficar observando a lua por muito tempo pois logo, logo ela irá rodopiar em volta de seu grande amor, o sol.
VOCÊ ESTÁ LENDO
The Lunar System
FanfictionEles se apaixonaram em uma noite nublada. Sem estrelas, sem lua; como se a lua estivesse saindo para passear, e talvez encontrar seu sol, mas será que ela gostaria de ser seu sol? Você gostaria de participar do sistema lunar dele? (playlist na bio) ...