Capítulo 2

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Enquanto o cérebro me mandava ir embora dali, o corpo inteiro foi vítima de alguma magia imobilizadora. A menina sussurrou algo para Bruno, que logo se moveu em minha direção, seguido por ela:
- Luiza, você se lembra da Melissa?
Tentei parecer tranquila quando olhei direito para ela, reconhecendo só agora aquele rosto familiar demais para me controlar, de modo que saí falando:
- Sim. Mas com outro nariz.
Bruno arregalou os olhos. A loura – que antes tinha nariz adunco – sorriu plenamente.
- Você também não mudou nada – concordou, passando à frente de Bruno e me dando um abraço frouxo. – A não ser pelos seios. Botou silicone?
Neguei, meio sorrindo. Ou tendo um derrame.
– Vamos? Acho que o Rafael já tá pronto...
A urgência na voz dele esclareceu algumas coisas.
Melissa era sua namorada agora. Deveríamos falar do que houve depois. Depois, também, eu poderia dar uma bicuda na cara linda dele.
- Então? - Melissa pôs as mãos ossudas na cintura, querendo saber por que eu não saía da frente.
A magia passou. Eu deveria sair dali, então cheguei primeiro na garagem.
Rafael estava lá, inebriado por uma fumaça densa.
- Nem esperou por mim? – Melissa fungou o ar e riu. Se estivéssemos em um desenho animado, aquela neblina seria verde de tão forte.
- Poxa, Rafa. A mamãe nem dormiu ainda!
- Relaxa – o irmão menor me deu um sorriso incerto. Já estava mais pra lá do que pra cá.
- Você perdeu a vez na frente - Bruno estava aborrecido. - A Melissa vai comigo!
- Ah, se ferrou – a garota riu, tomando o posto ao lado do motorista.
Rafael revirou os olhos, pulando para o banco de trás. Eu o imitei. Decidi fazer tudo o que meu primo menor fizesse, assim ninguém perceberia a vontade doida de ficar em casa que me assomou.
– Amor, vamos ter que pegar o Ricardo – Melissa lembrou. – Ele tá esperando a gente.
- Beleza – Bruno comentou. Peguei ele me olhando pelo retrovisor interno. – Hm, Rafa. Põe uma música pra nós. Das boas, não dessas do pessoalzinho de Humanas que você conheceu naquele lugar.
- Ah, não – Melissa reclamou. – As tuas músicas são um saco, Rafael.
- Melhores que os teus pagodes.
- Só ponham qualquer uma – Bruno estava impaciente, com os braços retos demais ao volante. – Pega a minha playlist, toma – ele entregou o celular para a Melissa.
Para tristeza do Rafael, as músicas do celular do irmão eram sertanejo universitário e pagode chorão. Daqueles que rimam dor com amor e paixão com emoção.
- Eu mereço – resmungou ao meu lado, procurando seus fones de ouvido no bolso da calça folgada e surrada.
Ninguém falou nada. Bruno, mesmo sem idade suficiente para ser nosso motorista, manteve um silêncio firme enquanto nos levava para longe do condomínio, todo pomposo e importantinho na sua camisa de botões dobrada minuciosamente nas mangas.
Melissa, ao seu lado, cantarolava afinadamente as músicas e mexia no próprio celular, curtindo fotos e comentando posts de muita gente. Ela parecia famosa, pelo que pude ver na tela imensa do aparelho. Eu saberia disso e de seu namoro antes, se ainda tivesse um celular para conferir as redes sociais dos outros.
Por uns bons quilômetros de estrada esburacada, só a voz melodramática dos cantores cortava o silêncio. A chuva já nem batia na janela do carro quando Bruno reclamou:
- Mas que merda de asfalto, droga – buzinou para a estrada vazia. – O Ricardo poderia morar num lugar melhor.
- Ou ter um carro – Melissa assinalou com tom hostil. – Olha só essas casas, pelo amor de deus. Até a gente chegar no Guilherme, já vão ter arrasado tudo.
- Diga ao seu pai a situação dessas pessoas, Melissa – Rafael provocou, espantando a gente. – Ele não é o prefeito à toa...
Minhas sobrancelhas cutucaram a testa. Sabia que o pai da Melissa era político. Mas prefeito? As pessoas votaram nele, mesmo depois das denúncias de corrupção?
- Ah, garoto, cala a boca – ela virou para trás e fez careta para meu primo. – Por que você não ficou em casa?
- Ei, vocês dois – Bruno ralhou, olhando fixamente para Melissa. – Parem de brigar, pelo menos uma vez na vida.
- É esse seu irmão ridículo – choramingou, dando uma tapinha na própria coxa exposta pelo shortinho. – O Rafael não fumou o suficiente.
Rafael riu, meneando a cabeça. Isso lhe dava um ar sombrio, ainda mais com aquele cabelo todo acortinando o rosto magro.
- Quem é esse? – Apontei para a janela molhada.
O menino abriu a porta e pulou para o lado de Rafael, salpicando água de chuva nas minhas pernas.
– Oi, Ricardo.
- E aí, gente? – Ele se espremeu para beijar a bochecha de Melissa e apertar a mão do Bruno. Por último, pareceu me notar e sorriu. – Oi, Luiza.
- Oi.
- Relaxa – riu da minha expressão intrigada. – Bruno tem várias fotos de vocês do ano passado.
- Tem, é? – Rafael pareceu inofensivamente interessado, mas reconheci sarcasmo em seu tom, lembrando de como minha irmã fazia essa mesma vozinha tenebrosa. - Ele nunca mostrou nada disso.
- São daquela nossa viagem pra casa de praia, Rafael, e você não estava com a gente ainda – Bruno mantinha firme as duas mãos no volante.
– Ah, claro – Melissa concordou sem interesse, só para se manter falando, aparentemente. – Foi na época em que fomos para o exterior. Eu iria com vocês a essa viagem, mas tive coisas importantes pra fazer com meus avós.
- Entendi – falei, fazendo uma anotação mental para procurar saber melhor sobre essa história de Bruno estar mostrando fotos nossas por aí. Mas antes, claro, eu ainda queria conversar com ele e dar pelo menos dois socos na sua boca por ter me beijado tendo namorada. Ainda mais a Melissa, pelo amor de Deus.
Quando éramos mais novas, brincávamos juntas na casa dos tios, já que sua família é amicíssima dos Marques. Ela não era uma amiga na época, mas também não era
uma inimiga. Não que devamos ser inimigas umas das outras para ficar com seus namorados, mas tenho certeza de que iríamos entrar numa briga se ela descobrisse tudo.
A estrada melhorou consideravelmente, assim como a iluminação das vias e a arquitetura das casas. Estávamos saindo da periferia e entrando no centro da cidade, notadamente mais desenvolvido. Pubs, restaurantes, pessoas na rua e muitas, muitas motos.
Até um shopping novo, no local do antigo supermercado falido, dava o ar da modernidade à cidade do interior.
- Tá achando diferente? De quando você veio pra cá? – Rafael perguntou. – Eu também achei. Quando voltei. As coisas desenvolveram mais rápido.
- Claro, com a mudança de governo – Melissa comentou.
Os meninos riram, mas não com respeito.
- E você, Ricardo? – Perguntei ao menino de cabelos cacheados. – Estuda no Malcher?
- Ih, sim, desde o meio do ano passado – ele sorriu de novo, com grandes dentes de caninos que encaixavam direitinho na parte inferior da boca. – Vi seu nome na lista de novatos. O que te fez vir pra cá só agora?
- Ah – corei, sentindo meu rosto queimar pela olhada furtiva de Bruno em mim e a cutucada de Rafael na minha perna. – Hum, meu pai arranjou um emprego aqui e eu quis vir logo, aproveitando que é ano de vestibular, sabe como é...
- Ah, finalmente chegamos! – A voz de Melissa nos sobressaltou. - Ísis!
- Amiga!
Uma garota nos esperava à porta do prédio chique.
– Até que enfim vocês chegaram...
- Isis, essa é a Luiza. É a nossa prima que te falei...
A ruiva me abraçou.
- Sim, que prazer! – Ela tinha sotaque sulista. – Venham, vamos lá pra cima, eu já estava preocupada por vocês demorarem tanto.
- Quem dos nossos amigos já tá aí? – Ricardo perguntou para ela, beijando seu rosto demoradamente.
Se meu sexto sentido não se enganou, notei certo tipo de olhar carinhoso ser trocado pelos dois, que entraram primeiro no largo elevador antigo, mas chique, com espelho no teto e painel dourado.
Bruno apertou o botão da cobertura. É claro.
- Só faltavam vocês – ela respondeu, mal contendo um sorriso que deixava seu rosto sardento bastante avermelhado. – Até a Julia veio.
- Sério? – Todos, exceto nós duas, perguntaram com surpresa. Rafael sorria, deliciado, mas Melissa fez uma careta.
- Quem convidou ela?
- Guilherme, só pode – Bruno ainda estava meio aborrecido. – A casa é dele, ele convida quem quiser.
- E eu gosto da Julia – Ísis parecia incerta.
- Eu também convidei ela, já que o O Guilherme falou pra trazer uns amigos se eu quisesse – Ricardo disse, sem tirar os olhos de Ísis.
Égua, aqueles dois precisavam de um quarto, e com urgência.
- Você se lembra dela, não é, Luiza? – Rafael perguntou. - Aquela menina que morava no condomínio quando você cortou o pé na roseira do pai dela, sabe?
- Ah! – Fiz. – Ela não mora mais lá?
- Se mudou depois que os pais se separaram – Ricardo disse, contemplando uma mecha do cabelo liso de Ísis.
- Ah, pelo amor de Deus – Melissa exasperou-se. – Por favor, só o que nos faltava a Julia voltar a frequentar o Royal Ville por causa dessa amizade entre elas duas.
- Qual é o problema? – Quis saber Rafael.
Antes que Melissa respondesse, porém, o elevador abriu, logo fui delicadamente empurrada para sair de lá. O primo menor me pegou pelo braço.
- Não liga para ela – ele precisou gritar por cima da música que encheu nossos ouvidos.
Realmente, não tinha como ligar para nada além daquele lugar. Era só fumaça, gente e música alta.
Minha primeira festa. E Bruno tinha sido bastante eufêmico ao dizer que havia só algumas pessoas ali.
O aposento era meio retangular, com os móveis afastados para as paredes. Algumas pessoas estavam sentadas, outras em pé acima dos estofados enquanto pensavam estar dançando sensualmente. A maioria dessas pessoas não parecia ter nem 17 anos e empunhava uma garrafa de vidro, parecendo estupidamente bêbadas, mesmo antes das nove da noite.
Mais à frente, na direção em que Rafael me levava, cortinas compridas e pesadas se arreganhavam para que os convidados fossem à varanda, aberta para a noite pós-chuva. Meu primo prosseguiu até chegarmos perto da saída, onde duas pessoas aos beijos impediam um rapaz de passar para chegar à área externa do apartamento.
Ele sorriu para nós dois e ajeitou seu boné para trás, decidido a esperar o casal terminar seu longo e apaixonado carinho.
- Vamo ter que esperar – o menino disse, meia música inteira depois, sorrindo para nós de novo pelo modo como as duas se engalfinhavam. A iluminação da varanda voou na nossa direção. – Oi, Rafael!
Rafael acenou com a cabeça para o rapaz, surpreso.
- Flávio? Não esperava te ver aqui, depois de... – eles se abraçaram como velhos amigos. - Veio com a Julia?
- Fui obrigado – ele deu de ombros, mas ainda sorria entre os lábios cheios. Acho que também sorri. Ele tinha um sorriso fácil e bonito, com covinhas suaves e olhinhos gentis. – A gente se vê – prometeu, saindo de nossas vistas quando o casal migrou para um sofá ali perto.
Senti o braço de Rafael me cutucar e me obriguei a tirar os olhos daquelas costas largas e maravilhosas do cara que ia, decidido, em direção a uma menina negra e exuberante que lhe acenava.
- Você vai babar! - Caçoou, soltando minha mão para amarrar seus cabelos com um elástico.
- Quem é ele? – Perguntei, voltando a contemplá-lo. A menina bonita nem ligou para a beleza dele, pois logo reatou a conversar com outra garota. O rapaz foi mais para dentro da varanda lotada, para o meio da fumaça esbranquiçada de cigarro. – Ele parece mais velho...ou é a barba.
- É a barba. Você não vai querer conhecer ele, vai?
Eu ri, porque era gostoso. Rir (Ok, e o cara também).
Rafael revirou os olhos e voltou a me guiar pela espaçosa e enorme varanda, ainda úmida pela chuva que caíra há alguns minutos, fazendo uma curva para longe da maioria das pessoas. Um de seus conhecidos lhe deu um copo com um líquido marrom, ao que ele pegou e, hesitando, perguntou se eu o aceitava.
Pensei em recusar, considerando o fato de estar hospedada na casa de meus tios há quatro horas, mas logo lembrei de Bruno e Melissa e resolvi ficar bêbada.
Entornei-o em uma só golada, arrependida no segundo seguinte.
- Ei, isso é forte – Rafael usou um tom de voz responsável que não combinava com seu rosto divertidamente perplexo. – Se você e o Bruno ficarem bêbados, teremos de voltar de carona.
- Por que tu não diriges?
- Hoje é o dia dos mortos saírem das suas tumbas? – Uma menina interpelou a minha pergunta, abraçando Rafael por trás.
- Julia?!
- Luiza? – Sua boca em formato de coração e pintada de vermelho formava um sorriso. – Caramba, você não mudou nada!
Nós nos abraçamos. Ela tinha engordado, e havia algo na sua expressão que a deixava mais madura desde que nos vimos pela última vez. Era incrivelmente bonita e bem-vestida. Usava um vestido justo ao corpo, vermelho cintilante, com um Nike estilosinho nos pés. Parecia aquelas roupas da Malhação, que ninguém usaria em uma cidade quente. E ela nem estava suando naquele calorão.
A garota era como tia Elisa, falava e não ouvia; perguntava e respondia. Queria saber de tudo. O que fui fazer na cidade, com quem iria morar e muito mais. Descobrimos que seríamos da mesma sala, algo que ela adorou, principalmente porque "poderia ter uma parceira para odiar todos daquele inferno de escola".
Eu já estava para responder outra de suas perguntas, quando Flávio se juntou a nós, abraçando-a de lado e beijando sua cabeça redonda pela franja.
- Oi de novo.
Claro. Além de linda e rica, o namorado dela também era aquele cara.
Ele me cumprimentou com um brinde, cerveja versus segunda dose de líquido marrom.
- Vocês já se conheceram? – Julia quis saber.
- Ahn, não – Flávio respondeu por nós, estendendo a mão para mim. – Sou primo da Julia, muito prazer...?
- Luiza.
Minha mão deve ter arranhado a palma da sua, macia de quem jamais ajudou seu pai a lixar a parede do quarto antes de pintá-la. – Sou prima do Rafael.
- Ah, aquela de Belém?
As sobrancelhas grossas dele se uniram, abaixo do boné. Se a luz no local fosse melhor, diria que seus olhos eram castanho-claros.
- Sim, sim...
Ele me puxou para outro cumprimento, com as duas bochechas. Sua barba não espetava. – Mas que bom, achei que vocês estivessem juntos – arqueou as sobrancelhas e sorriu para meu primo, que tinha um lado da boca cheio de segredinhos.
Ri internamente.
- Ela é filha do meu tio Otávio – Rafael trocou um olhar significativo com a Julia. – Eu só vim por causa dela, já que o Bruno voltou com a Melissa de novo e trouxe aquele embuste.
- Aff, ele não aprende... – Julia comentou, rolando os olhos. Os cílios pretos encostavam na franja reta quando ela fazia isso.
- Acho que o Bruno vai adorar saber que ela nos conheceu – Flávio riu, sendo acompanhado pelos dois. – Sabe, Luiza – ele falava mais baixinho que os outros, por isso se curvava. – O Bruno me adora.
- Ah, Flávio, você também não é nenhum santo - Julia tinha um vestígio de diversão em seu semblante quando olhou para mim, explicando: - Meu primo tem mania de ser sincero demais quando tá bebendo.
- Só estou querendo simplificar as coisas – ele levantou os braços para o ar, com inocência. Vi um traço de tatuagem em seu braço meio coberto pela camisa quadriculada. – Mas é bom que você tenha vindo com o Rafael, assim pudemos nos conhecer.
Julia e Rafael riram, provavelmente adorando as minhas bochechas vermelhas. Ela entornou o que restava em sua garrafa de cerveja e a entregou ao primo.
- Você está bebendo rápido demais, moça.
- É meu pai, agora?
- Alguém precisa ser responsável, né? Veja só, não sou o único a ter ido para o lado bom. Há quanto tempo está limpo?
Rafael vacilou um pouco, tomando o cuidado de fitar os olhos escuros e apertados de Julia:
- Dez meses.
- Então, que tal brindarmos com água na cozinha pelas novas amizades – Flávio me olhou – e pelas antigas e regeneradas?
A forma como ele dizia as coisas, tornando tudo mais formal, era engraçada. Quis saber sua idade. Não era mais velho que nós, mas parecia ser.
Já na cozinha da Ísis, Flávio estava bem à vontade. Abriu uma das enormes geladeiras, se serviu de sorvete e depois atacou um armário de biscoitos. Estava na cara que ele era amigo dos donos da casa, pois nem a Julia ou o Rafael aceitaram o contrabando. Contentaram-se, como eu, com os lanchinhos dispostos sobre o balcão, para os convidados.
- O treino de hoje foi pesado. Tô varado de fome.
- O que tu treinas? – Perguntei, abismada com um terceiro pacote de biscoito terminado. Ele estava mastigando, de cabeça abaixada. A aba do boné tinha voltado à frente. Qual era a cor dos olhos dele? Eu precisava saber.
- Futebol. Gioto Sport Club. Comecei semana passada.
- Ei, Flávio! Beleza? – Um menino o cumprimentou com outros dois amigos. Desde que encontramos o aposento, depois de corredores com gente se beijando e fumando, as pessoas queriam falar com o Flávio.
- Ah, entendi – afirmei, compreendendo o porquê de tanta gente gostar dele. Se tem uma coisa que mexe muito com a população de Gioto, é o time da cidade. Mesmo vindo do interior, é famoso por ter jogadores bons e por vencer campeonatos paraenses.
- Ele largou um time na Espanha pra vir pra cá – Julia comentou com acidez.
Seu primo se encostou à pia ao meu lado.
– Era um time pequeno – fez pouco caso, mexendo no celular.
- Mas era fora daqui.
- E longe de casa – concluiu.
- Aff, não suporto a ideia de você largar tudo para vir, não depois daq-
Mas o que Julia diria foi cortado pela presença de três pessoas na cozinha. Bruno, Melissa e um menino corpulento, mas tão ruivo que só poderia ser o irmão de Ísis, também pararam ao nos verem.
- Oi, Flávio. – Melissa sorriu interessada, olhando de mim para ele. – Vejo que você já conheceu a Luiza.
- Fiz questão de apresentar ela aos meus amigos – Rafael se dirigiu ao ruivo, que encarava Julia de forma estranha. – Guilherme, essa é a Luiza, minha prima de Belém.
- Oi.
- Oi – Guilherme disse de um jeito meio lerdo. Seus olhos estavam bastante vermelhos e seu hálito cheirava a incenso quando se aproximou para beijar minha bochecha – Sou o Guilherme.
Julia prendeu um riso pelo nariz.
- Você já tava aprontando, né? – Ela o envolveu num abraço apertado, mal retribuído. – E aí, que tal a gente comer alguma coisa pra isso passar?
- Comer mais ainda? – Melissa desdenhou.
- Antes comer algo que ser a refeição de todo mundo – rebateu.
Acho que só eu suguei o ar, porque Melissa apenas sorriu e apertou as mãos de Bruno em sua cintura, enquanto os outros ficaram esperando a outra falar.
Julia ficou toda empertigada, pronta para brigar.
- Ei, ei, ei – Flávio e Bruno disseram ao mesmo tempo, abafando o palavrão que a morena soltou para a loira. – Não briguem!
Mais rápido que a equipe que limpa o chão no jogo de vôlei, o rapaz ao meu lado levou Julia para fora da cozinha, ao som dos risinhos vitoriosos de Melissa e das praguejadas de Rafael, que só aumentaram o desdém no tom de sua cunhada.
Resisti ao impulso de me meter na briga e fiquei ao lado de Rafael, curiosa com tanta intolerância gratuita.
- Por que você fez isso?
Sabia que Bruno não deixaria isso passar em branco, mas Melissa ignorou completamente a pergunta do namorado. Ela iniciou uma conversa baixa com Guilherme, avulso ao clima pesado enquanto tentava abrir, debilmente, um pote de vidro que retirara de um dos vários armários que circundavam a cozinha.
Esse constrangimento durou um bom tempo, até que Bruno resolveu se dirigir a mim.
- Sua mãe me ligou ainda agora, esqueceu o celular em casa?
O tom de voz exigente dele atordoou a todos, de modo que Rafael resmungou "eita!" e Melissa largou o pote que tentava abrir. Inúmeros pedaços de vidro e diversas bolas de chocolate se espalharam no chão.
- Estava descarregado – menti. Minha mãe não sabia ainda do que havia acontecido com meu celular. - Rafael - olhei forçosamente para o primo de sorriso enviesado -, vamos lá fora?
Rafael se fez contente e segurou minha mão em concordância.
- Você pode usar o meu - Bruno ia nos impedindo, estendendo o telefone por cima do balcão que nos separava. Seus olhos estavam no irmão.
- Não, obrigada, eu queria ir lá fora fazer isso.
- No barulho? - Insistiu, dessa vez com um misto de incredulidade e impaciência na voz, ainda que não me olhasse de modo algum.
Isso me deu raiva.
- Sim, qual é o problema? - Exclamei mais alto e saí da cozinha, passando por Melissa, que se abaixava nesse momento para pegar os cacos de vidro.
A varanda estava menos cheia; o resto do povo se atropelava na sala, bradando um hino sertanejo típico da região. Agradeci internamente por ter um primo impopular. Se ele se juntasse aos bêbados, não teríamos conseguido uma cadeira ao ar livre, e eu precisava respirar.
- Não sei muito bem o que tá acontecendo, mas você parece precisar de uma bebida - Rafael se sentou ao meu lado. - O que acha de outro copo de rum?
Nota mental: não beber mais rum.
- Talvez esse aqui tenha pertencido a alguém que não tenha beijado na festa – ele me empurrou um copo cheio de bitucas de cigarro.
Isso nos fez rir.
- Tinha esquecido desse teu senso de humor - falei com sinceridade, observando o sorriso de lábios finos dele se abrir mais nas bochechas magras e rosadas de calor, que avermelhava suas orelhas aparentes e magricelas.
Antes de hoje, a última vez em que tínhamos nos falado fora antes de sua viagem para os Estados Unidos, há mais de um ano; e, pelo que lembro, Rafael não estava nem perto de sorrir à época.
Parecendo ler meus pensamentos, ele comentou:
- Acho que a essência da pessoa não muda, sabe? Você mesma é a Luiza que eu lembro, a não ser por estar calada demais desde que entramos naquele carro.
Engoli em seco e observei um casal, a duas mesas de nós, rir um para o outro, lembrando de Caio. Rafael não sabia, mas meu silêncio vinha de antes. Quilômetros antes de chegar aqui.
- Acho que eu preciso me distrair um pouco mais – menti, tentando acreditar nessa inverdade. O que houve com o Bruno antes, a conversa com a Julia e com o Flávio mais cedo... tudo isso estava me desocupando do problema real. Um problema que chegaria dali a uma semana.
- Por causa da mudança?
- Sim, também. Tô um pouco ansiosa com as aulas – menti de novo.
Rafael me observava. Sei disso, apesar de nunca ter me virado para confirmar. Ele demorou tempo demais calado, provavelmente me analisando. Pensei, ali, se não deveria falar o que havia acontecido. Talvez ele guardasse segredo. Ou não, poderia contar para todos, e aí todos saberiam e poderiam me chamar de doida.
Melhor não.
- Guilherme e Ísis são filhos daquele deputado, amigo do meu pai, você lembra? – Rafael perguntou de repente. Fiz que não com a cabeça, interessada e grata. - Eles não moravam aqui até o meio do ano passado. A decisão de terem vindo logo foi por causa do Guilherme, que destruiu a casa deles em Porto Alegre dando uma festa enorme na ausência dos pais, causando muita confusão, você deveria ouvir ele contar a história...
Minha boca formou um "o" de incredulidade.
- Como assim?!
- É sério, aquele cara é maluco – limpou as lágrimas de riso com as costas das mãos. Vi linhas finas e rosadas em seu pulso, mas disfarcei meu desconforto pedindo mais detalhes. - Sabe, ele ainda está no ensino médio mesmo tendo uns 20 anos... Rárá! Sei lá, e...Cara, pelo que estamos vendo hoje, essa casa também não vai durar muita coisa se o pai dele continuar viajando, você não acha?
- Ahn, é...
- Fora que o pessoal aqui não vai ser louco de dizer nada por aí, já que as coisas ficam bastante ruins pra quem se mete onde não é chamado, né?
- É? - Uni minhas sobrancelhas. Rafael revirou os olhos para mim e riu mais.
- Não precisa fingir que não sabe. São todos safados.
- Mas o teu pai trabalha com eles.
- Dá no mesmo – desconversou, pegando o celular.
OK. Era óbvio que havia muitos adolescentes ali, ricos e filhos dos maiores fazendeiros, políticos e empresários da Cidade, incluindo a própria filha do prefeito. Mas ele não deveria estar falando mal dos amigos e do próprio pai, certo?
- Mas e os vizinhos? – Mudei de assunto, preocupada de verdade. No meu condomínio, essa festa renderia multas que nem quero imaginar.
- Guilherme deve ter dado um jeito neles - respondeu de um jeito comicamente sombrio. - As coisas nunca pegam para o lado dele, mesmo...
Havia certo descontentamento em seu tom de voz, mesmo depois de a sessão sertaneja ser trocada por um rock pesado. Dentre as pessoas que estavam voltando para a varanda agora, Flávio abriu caminho entre elas.
Ele parecia chateado quando sentou na única cadeira vazia a nossa frente.
Cor do olhos, de baixo para cima: marrom-escuro.
- Julia foi embora - contou, depois tomou um gole grande de sua cerveja long-neck, fazendo minha boca secar por ele estar encostando os joelhos nos meus, dado o fato de que suas pernas eram compridas demais para o espaço que nos separava.
- Melissa é uma ridícula - Rafael revirou os olhos com nojo. - Eu não sou de julgar os outros, mas ela nem deveria estar aqui hoje.
- A mãe dela ainda tá mal, cara?
- O suficiente para não poder recusar o tratamento, como está fazendo agora.
- Câncer é f... - o outro lamentou, tomando o último gole de um jeito tristonho. - Bem, mas cada um sabe da sua vida, não é mesmo?
- É - Rafael deu de ombros e pareceu querer dizer algo mais, mas seu celular girou sobre a mesa. Espiei por sobre seu ombro e o vi desligar o despertador que marcava as dez em ponto. - Preciso de uma água, vocês me esperam aqui?
Flávio ocupou o lugar de Rafael e tirou o celular do bolso. Educadamente, guardou-o na jeans e iniciou uma conversa.
- E aí? O que você fez para seus pais te mandarem pra esse fim de mundo?
Eu ri e contei sobre a vinda do papai e da bolsa de estudos.
- Mas você morava na capital, não? Gioto só tem um shopping, fala sério.
- Eu teria que vir de qualquer forma, minha mãe e a minha irmã vêm morar aqui em agosto - expliquei, estralando os dedos pela empolgação que seus dentes brancos causavam.
- Hmmm...- fez, aproximando a boca ao meu ouvido para falar, tentando sobrepor sua voz aos acordes de uma guitarra aguda. - Acho que você vai gostar de lá, completei meu terceiro ano no Malcher.
- Tu já tá na faculdade? - Quis saber, imitando seu jeito de conversar próximo ao ombro. Havia um misto incomumente bom de cigarro, perfume e cerveja vindo da sua camisa.
- Está olhando para um calouro de Administração - ergueu um copo imaginário como se brindasse, com um sorriso dançando em seus lábios cheios. – Apesar de eu estar fazendo isso só por causa do meu pai, sabe. Ele disse que eu só sairia de casa de novo, se tivesse uma profissão... Como se jogar bola fosse um hobbie.
- Onde moravas?
- Sempre viajei muito por causa do trabalho do meu pai. Mas passei um bom tempo no Maranhão, daí vim pra cá e terminei o terceiro ano. Depois fui pra Espanha quando terminei o segundo grau. Mas meu pai me obrigou a voltar quando soube que estive usando seu dinheiro pra fazer os testes de seleção de um time de lá, ao invés de cursar a faculdade.
Eu ri, sentindo de novo nossos braços roçando enquanto ele se sacudia com a própria rebeldia de gente rica. Os pais desses rapazes têm uma tolerância enorme para as mentiras.
- Realmente, isso aqui é um fim de mundo perto da Espanha - comentei. - Estás morando com a Julia?
- Hum, não, meus pais estão na cidade ainda, na casa do tio Galvão, cê sabe, o pai da Julia. Sou seu vizinho de condomínio até eles irem embora, o que eu não vejo a hora, se quer saber.
- Voltei! - Rafael se pôs em frente a nós na cadeira. A água que ele trouxe acabou num minuto. Um filete de suor brilhava em seu buço, e ele abanava o pescoço com as mãos, ávido por líquido.
- Rafael, você tá ensopado!
- Foi o Guilherme – contou, agitado. - Desmaiou no meio do corredor e eu precisei ajudar o Bruno a carregar ele até o quarto, vê se pode!?
Flávio e eu nos empertigamos, preocupados.
- Mas ele tá bem, a Ísis me disse que isso sempre acontece quando ele mistura birra e destilados, o que eu, modéstia à parte, sei melhor do que ninguém qual é o efeito disso, e sei que não foi só mac...
Ele mesmo se interrompeu, deixando-me com vontade de rir. De nervoso.
- Vai ver não foi uma do Mariscão - Flávio comentou, mas Rafael só lhe deu aquele sorriso de "cala a boca". - Bem, pelo menos não foi nenhum de nós – concluiu para tranquilizar meu primo.
As sobrancelhas escuras de Rafael se ergueram para ele numa expressão idêntica à de minha mãe quando me pede para ficar quieta na frente de visitas. Percebendo que a visita era eu, continuei a conversa interrompida com Flávio. Ele me contou que morou totalmente sozinho no último ano, e eu falei sobre minha vida pacata em Belém, pulando as partes de Caio. Flávio disse que morar no Royal Ville novamente era meio chato quando seus pais estavam por perto, mas me contou que estava de olho em um apartamento pelas redondezas.
- Só não quero perder minha vaga na faculdade, porque é a única forma de ficar aqui na cidade e no time, ainda mais que eu sou... Bem, o mais novo a estar no profissional, desde o Zezé, em 1998 – amenizou o orgulho com um beijo na bebida. - Não quero voltar para lá e ter que administrar fazenda, não nasci pra isso. Mas se é o jeito, é o jeito.
- A família deles é de uma linhagem de fazendeiros, que viraram empresários e políticos - Rafael me disse quando nosso colega foi buscar algo na cozinha. - Você sabe, é uma família podre de rica até os ossos; começando pelos irmãos Galvão, o Hugo e o Doutor, que é pai da Julia. Eles têm fazenda, são uns dos donos do shopping novo e tudo.
- Sério? Não parece. Ele é tão...
- Normal? Bom, até que é. Mas espera até conhecer os pais do Flávio. O Hugo Galvão é empresário também, diz que tem orgulho de ter conseguido tudo sem a família. Dizem que ele tá puto porque o Flávio largou a carreira na Espanha e veio morar aqui em Gioto.
- Mas não é pra menos – comentei. – Com o dinheiro que eles têm... é estranho, né?
- Sim, total. Mas... Bom, eu até entendo. Com tudo o que aconteceu... – Rafael desviou o rosto para a casa. – E ainda teve a morte do avô, no final do ano agora. A parte boa é que o Flávio e a Julia receberam quase tudo. Sabe quanto, Luiza? – Ele abriu os braços para quantificar. – Acho que ele é mais rico que todos nós juntos.
Eu ri. Provavelmente, era mentira do Rafael. Como em cidade de interior há muita fofoca, também há muita invenção.
- Mas tem um porém. O Flávio tem 19 anos, não sabe administrar herança e odeia o pai dele. Daí ele se matricula na faculdade que o pai quer e, em compensação, fica perto da família para saber como lidar com esse dinheiro todo – Rafael continuou ponderando. – Isso não faz sentido. Ele é rico, não é? Pode ser feliz em qualquer lugar.
Dei de ombros, pesando sua ironia. A cidade era mesmo tranquila, mas não era o lugar que eu também escolheria para morar se tivesse ficado, sei lá, milionária. Desde o ano passado, quando Bruno, sua mãe e eu visitamos uma das fazendas do pai de Julia, essa pergunta ficava comigo: por que alguém com tantas posses moraria em Gioto? No meio dessa dúvida, o próprio Bruno, sozinho e vermelho, chegou até nós e ordenou:
- Vamos embora.
- Já?!
Do mesmo modo abrupto, foi andando de volta pelo caminho que veio, empurrando pessoas que o chamaram de nomes feios às suas costas marcadas de suor.
- O que será que... - íamos perguntando, mas Rafael pulou da cadeira, alarmado, e seguiu o irmão pelo espaço ainda aberto na sua cavalice. Fui atrás deles, quase correndo. Após algumas pisadas nos meus pés e de esperas por agarra-agarras intermináveis, cheguei ao corredor do elevador, com a música tão alta que não deixou Bruno discernível, mesmo a poucos metros de onde contava o ocorrido para o irmão.
Mas não era difícil saber que ele estava furioso. Gesticulava de uma maneira abrangente, apontando para o apartamento às minhas costas e batendo a cada fim de frase com impaciência no botão vermelho do elevador. Quando me aproximei o suficiente, as portas metálicas finalmente se abriram e Bruno se calou, fazendo coro ao silêncio que se seguiu na descida de vários andares.
Seu peito subia e descia por baixo da camisa de algodão. Rafael estava se equilibrando na ponta dos tênis, na mesmíssima posição de ansiedade para saber qual seria o seu presente no Natal.
Aquilo era importante, pensei, curiosíssima.
- Depois de tudo o que eu fiz - Bruno finalmente disse, a voz trêmula de raiva enquanto andávamos em direção à caminhonete de seus pais. - Depois de tudo...
- Vocês estavam sozinhos quando ele disse isso? - Rafael especulou.
Bruno só respondeu quando entramos no carro.
- Sim. Ela provavelmente vai me ligar a qualquer momento, mas não vou atender.
Bruno saiu de ré e quase colidiu com uma coluna; na tentativa de não bater o carro, acabou derrubando uma moto estacionada à frente, mas não desceu para reparar os danos, somente praguejou o nome do dono da moto e murmurou algo sobre resolver isso depois na escola.
Saímos do centro da cidade em menos tempo do que demoramos a chegar. O silêncio no carro só era interrompido com meus "ah" de susto pelos sinais que Bruno ia ultrapassando nas ruas desertas das estradas, às vezes pontilhadas de buracos que faziam minha cabeça bater no teto da picape e salpicar lama em alguns motociclistas, que lhe mostravam o dedo do meio. Quando entramos na estrada asfaltada que levava ao condomínio, mais afastado do centro, tentei fazer o sinal da cruz, mas logo precisei segurar com força o cinto de segurança ao entrarmos em outra curva da morte.
- Sabe o que me deixa mais brabo? É que eu deixei de falar com a Julia por causa dela. É, eu sei que todos me avisaram – continuou. - Por isso que eu fico com tanta raiva.
Na garagem, fiquei incerta de como agir dali para frente. Bruno, mais tranquilo agora, desceu do carro e foi seguido por nós na sala vazia e escura de sua casa. Ninguém acendeu as luzes até ele ligar a TV e deixá-la no mudo.
Depois disso, sentou-se no sofá maior, curvou-se para a frente e colocou a mão sobre a cabeça e esta sobre os joelhos, como uma criança amedrontada. Rafael trocou um olhar preocupado comigo e disse que iria à cozinha, perguntando se eu queria comer alguma coisa, ao que eu aceitei.
Sentei diante do menino louro, impelida a não dizer nada antes que fosse solicitada.
- Mamãe deve estar dormindo - Rafael comentou alguns minutos depois, servindo um copo de leite quente e depositando um pires com biscoitos na mesinha de centro da sala. - Hum, então acho que seja o que vocês forem conversar, seria melhor que fosse baixinho.
Cuspi o pouco de leite que havia tomado em minha blusa, encarando meu primo.
- Ah, não me olhe assim - fez pouco caso, colocando sua cortina de cabelos para trás e se afastando de nós. - Só não façam barulho, ok?
Então ele foi subindo as escadas como se todos os dias dissesse algo assim a nós dois, deixando-me atônita e ao mesmo tempo temerosa. Principalmente porque seu irmão estava me olhando agora, ereto no sofá e com uma expressão indecifrável no rosto entrecortado de luzes da televisão ligada. Com o coração saindo pela boca, depositei o copo de leite quente e passei deliberadamente a mão em meu queixo sujo, acompanhada, em cada movimento, pela calma incomum e agoniante na face de Bruno.
Eu não sabia se deveria começar a xingá-lo ali mesmo ou se precisaria ouvir o que ele teria a me dizer, mas fui pega de surpresa quando Bruno falou, numa voz baixa e triste que jamais vou esquecer:
- Por favor, me desculpa.

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