Prólogo: O amigo imaginário

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Eram onze horas, faltava apenas um minuto.

Onze e um? 11:01?

Grrr, por que? Por que horas quebradas?!

O pequeno garotinho estava impaciente, seus pezinhos gelados batiam um contra o outro embaixo das cobertas. Tic tac, tic tac, tic tac, os grandes olhos dourados seguiam o badalar do cuco que sua mãe havia colocado para enfeitar o quarto.

_ Elaykan!- sussurrou alto.- Já pode aparecer, a mamãe foi dormir.

Nenhuma resposta, apenas o zum do vento batendo na janela.

_ Elaykan!

Pitter sentou na cama com os cotovelos pregados nas coxas, estava claramente aborrecido. Com um leve impulso, pulou, caindo diretamente em cima das pantufas de pelúcia.

Ele puxou seu companheiro inanimado, o grande urso macio, Stuarth, e o arrastou pelo chão até parar na frente da porta e ficar na ponta dos pés para chavear.

_ Shiu Stuarth, vamos ficar quietinhos- o garoto pegou a lanterna que estava sob a escrivaninha empoeirada e ligou, criando um círculo de luz na parede.

_Se me permite- houve um pigarro-, o Stuath não fala. Ele é um brinquedo.

Ali estava ele! Como sempre, exageradamente caricato. Usava um típico sobretudo e uma cartola mal ajustada no topo da cabeça. Parecia um ilusionista sombrio saído de um show de horrores.

Os cabelos negros de Elaykan, rebeldes como sempre, pareciam ser cortados com raiva. Era repicado e revoltado, o que fazia Pitter se questionar se ele cortava as mechas sozinho ou existia outro maluco pra fazer aquilo para ele.

Geralmente Pitter o via com roupas preto e branco, como um mímico saído de um filme mudo. Era sua principal marca e o garoto adorava quando ele se vestia daquela forma.

Mas naquela noite ele estava de luto. Usava apenas preto.

_ Eu sei que o Stuarth não fala, idiota. Mas eu preciso fingir que sim, se não a brincadeira não tem graça.

Elaykan arregalou os olhos. Eram tão azuis e excessivamente pintados, que diante da iluminação noturna ele parecia cego.

_ Como pode me chamar de idiota, seu idiota?- ele bateu na cabeça do pequeno ruivinho.- Sabe o que você seria sem mim?

_ O que?- o garoto cruzou os braços, desafiadoramente.

_ Seria mais um alienado.

_ Ali...o que?

_ Ali-enado. São pessoas que enxergam com os olhos, mas não com a mente. Essas sim são pessoas idiotas.

O peso do coturno de Elaykan fez o chão de madeira do claustrofóbico quarto ranger. Ele remexeu nos papéis da escrivaninha, como se procurasse algo específico, e olhou para o garoto por cima dos volumosos cílios.

_ Seus desenhos estão bonitos, Pitty. O que é isso?- ele ergueu a folha com a ponta dos dedos, como se toca-se em algo tóxico.

Não era possível entender direito o borrão que o garoto chamava de desenho, era tudo muito escuro e confuso. A única coisa que Elaykan conseguiu identificar foram 2 bonequinhos de palito. Um deles parecia estar voando.

_ Você me disse que as pessoas do seu mundo são perseguidas quando tentam voar sozinhas.

_ Bom, não quis dizer voar literalmente- os olhos da criatura de sobretudo pareciam petrificados, como se alguém tivesse o desligado por dentro. Quando isso acontecia, Pitter gesticulava incansavelmente para trazer sua atenção novamente. Assim como fez naquele momento. E, subitamente, ele voltou:- E quem são essas coisas aqui?

_ Esse é você. E esse é alguém que eu inventei.

_ Se parece muito com alguém que eu conheço.

_ Você conhece pessoas de palito?

Elaykan o olhou de cima.

_ Esse desenho é violento, Pitty- sua voz se tornou baixa.- Acho que deve parar de desenhar essas coisinhas aqui.- a mão coberta por luvas de couro foi levada para dentro do sobretudo e retirada novamente, dessa vez, segurando um isqueiro dourado.- Precisamos queimá-lo.

Nesse instante, um luminoso sorriso de orelha à orelha, surgiu em seu rosto travesso.

_ Ah, mas por que?- o garoto protestou.

_ Pitty!- a voz da mãe reverberou no corredor.- Com quem está falando?

_ Com o Stuarth!

_ Vai dormir, querido, está tarde!

_ Vai dormir querido- os olhos de Elaykan brilharam junto com a chama que se acendeu no isqueiro-, está tarde.

_ Eu sei que não pode queimar o meu desenho- Pitter cruzou os braços.

_ Ah não? Por que?

_ Porque você é meu amigo imaginário. Não existe de verdade.

_ Santo Deus!- exclamou exageradamente, soltando o isqueiro e o desenho no chão.- Como eu pude esquecer disso?

_ Você é meio loucão, lembra?

_ Se você quer que eu seja, então eu sou- ele se agachou na frente do garoto.- Você que manda.

Sons de passos aos poucos se fizeram mais presentes.

_ Você é teimoso também.

_ Acho que me conhece melhor do que eu.

_ Pitter, eu já disse!

A mulher de olhos fundos e cabelo despenteado abriu a porta de repente, fazendo o garoto dar um pulo assustado.

_ Faz uma hora que eu te coloquei na cama. Isso é hora de você estar brincando?

A porta se fechou atrás dela, tornando o quarto escuro novamente. Diana estava pálida, visivelmente abatida e cansada por conta do trabalho. Seu chefe era um babaca carrasco, mas era graças à ele que os dois tinham um teto para morar.

A pensão era pequena e escondida da elegância da capital.

_ Vamos, vamos- Diana guiou o pequeno pelos ombros. Quando seus pés tropeçaram num objeto, os olhos da mulher desceram.- Isso é um isqueiro?

Os olhos do menino se arregalaram.

_ Por que você tá brincando com isso?- ela virou o pequeno objeto dourado, que reluziu mesmo no escuro, e viu que haviam números na lateral.

2043.

Dois. Zero. Quatro. Três.

_ Pitter, eu já disse... Não pode brincar com fogo.




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Obs: É importante avisar que essa história foi planejada pra ser uma HQ, ou um livro ilustrado. Então eu vou tentar tornar as descrições o mais visual possível pra melhorar a experiência e ajudar na visualização. Obg pela leitura♡

Falando em visual, aqui está essa fãnart maravilhosa que me fez surtar de emoção feita pelo Diogodiabo. Olha que coisa linda gente!!

Eu nunca tinha ganhado uma fãnart antes AAAAAA

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Eu nunca tinha ganhado uma fãnart antes AAAAAA

Irmandade Dos Sem Futuro [ DEGUSTAÇÃO]Onde histórias criam vida. Descubra agora