Prólogo

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Acordava às quatro horas em ponto, há mais de cinco anos, desde que se mudara de Metrópolis para National City. A insônia e ideias não deixavam a Luthor descansar.

Retirou a caneca de debaixo da cafeteira e caminhou até a janela, ajeitando a camisola que usava. Olhou pelas finas frestas da persiana e tudo continuava igual. A mesma rua, as mesmas roupas no varal da casa em frente a sua, as mesmas poucas estrelas.

Era um tanto quanto patético pensar que algo mudaria assim, do dia para noite; mas era inevitável perceber que todos os seus dias e noites eram exatamente iguais, sem tirar ou pôr. Entretanto, não podia negar que aquilo lhe trazia certo conforto. Ter uma rotina, controlar todos os seus passos por todo o dia, sentir que estava no controle. Se pudesse viver assim, então estava tudo bem.

Lena era a rebelde da família, nunca quis liderar o império dos pais. Desde criança gostava de escrever histórias de aventura, ação, na adolescência passou para o papel seus primeiros romances e poemas. Aos dezoito conseguiu um contrato com uma editora famosa, atingindo sucesso em poucas semanas.

Sempre foi muito reservada, tímida, ou até mssmo fria, como alguns diziam. Não era de sair muito, mal recebia visitas; os únicos que vinham até sua casa eram James Olsen, seu editor, e Winslow Schott, ou melhor, Winn, seu amigo e assistente. Ambos são os mais presentes na vida de Lena, já que Olsen tinha que discutir sobre orçamento, tipo de capa, números de páginas, classificação do livro e, Winn sempre a ajudava com as compras, e levava os manuscritos ao correio. Foi assim por um bom tempo.

Até que de maneira inesperada, a rotina da jovem Luthor foi quebrada. Há pouco tempo, pelo menos um mês, Schott foi contratado por uma grande empresa de tecnologia da região. Como ele sabia que Lena odiava ficar sem ajuda, ele rapidamente arranjou outra assistente, Kara Danvers.

A garota era baixinha, loira dos olhos azuis e tinha um sorriso fofo e adorável. Lena a via pela janela de seu apartamento toda vez que vinha, mas nunca trocou uma palavra com ela. Geralmente, Danvers ia embora depois de suas entregas, mas passou a mudar, sentando-se na calçada, esperando alguns minutos antes de ir. Como se soubesse que estava sendo observada por alguém.

Os olhos verdes claros da escritora eram as únicas coisas vistas das persianas, brilhavam com a luz do sol, encarando a pequena garota, que pela primeira vez, retribuiu o olhar.

Meses se passaram e Lena percebeu alguns desenhos, bem feitos, sendo enviado junto com os manuscritos. Eram ilustrações das cenas descritas. Talvez James tinha contratado alguém para fazê-los, uma nova estratégia de marketing...

Porém, quando Luthor foi perguntar sobre isso, o editor negou, alegando que não sabia da onde aqueles papéis haviam saído. Foi então que ela ligou as peças, Kara havia os feito. A loira sempre sentava na rua, ficando até mesmo horas por lá, levantando com as mãos sujas e voltando para o prédio, provavelmente colocando seus belos retratos no envelope.

No dia seguinte, a morena recebeu outro envelope, mas apenas com desenhos, sendo eles dela, ou melhor, de sua janela, com uma silhueta, com persianas a cobrindo, mostrando apenas um pano da roupa e os olhos, os grandes olhos verdes de Luthor. Os retratos tinham várias versões e, no final tinha um única folha, uma carta.

"Olá, senhorita Luthor.
Me chamo Kara Danvers, vejo que está me observando desde que fui contratada, penso que não gosta de conversar, que seja tímida, então resolvi mandar isso. Não se sinta pressionada, por favor, apenas quero me aproximar porque gosto de estar perto das pessoas.
Se quiser bater um papo comigo, meu número está atrás do primeiro desenho, senão, continuaremos como está.
Até mais, Kara."

Agora, a incógnita pairou na mente de Lena; afinal, se aproximar de alguém seria bom ou ruim? Valia pena o risco?

The Girl Downstairs - SupercorpOnde histórias criam vida. Descubra agora