Eu vou pro meu atendimento e o bebê tá muito quieto hoje, já é final da tarde quando eu percebo que ele não se mexeu hoje desde a hora que eu sai do quarto do Andrew, meu coração para por um instante, aconteceu alguma coisa, vou direto pra obstetrícia, a Carina é que tá de plantão hoje, eu respiro fundo
- Eu preciso fazer um ultrassom
- Algum problema?
- Não sei, ele só tá estranhamente quieto o dia inteiro
- Ele é muito agitado?
- É, o tempo todo
- Está bem, vá se preparar
- Você vai fazer?
- Claro, eu estou no plantão
- Você não precisa fazer se não quiser, eu posso pedir...
- Eu faço
- Ok
Eu vou trocar de roupa, eita dia infinito, eu volto, subo na cama e ela começa o exame, não trocamos uma palavra até que ela vira a tela pra mim
- Aqui está, tá tudo bem, ele só deve estar com preguiça
Ela aumenta o volume e eu posso ouvir o coração batendo rápido, eu pego meu celular e ela observa
- Vou gravar pro Andrew ver
Ela só acena, eu gravo por alguns minutos, então volto a olhar pra tela, as lágrimas piscam em meus olhos
- Ele já sabe que será pai de um menino ?
Meu coração dá um salto e eu levanto a cabeça pra olhar melhor, é um menino
- Não, eu também não sabia
- Desculpa, Meredith, eu pensei... desculpa
- Eu queria que ele estivesse quando descobrisse o sexo... mas tudo bem
- Você quer uma foto?
- Quero, por favor
Eu troco de roupa e volto
- Desculpa mesmo, Meredith, eu não fiz por mal
- Esquece, eu ia saber de qualquer forma
Eu saio da sala, não tenho mais pacientes hoje, eu vou ao quarto do Andrew, ficar um pouco mais triste, mas pelo menos, ele vai ficar feliz, vou até a loja de presentes, compro uma caixinha que caiba a foto e um laço azul, coloco dentro e vou pra lá, dessa vez ele tá deitado quando eu chego
- Oi
Eu digo assim que entro
- Oi
A voz já sai quase como voz dele normal
- Eu trouxe uma coisa pra você
Eu entrego a caixa e ele me olha desconfiado, ele sobe a cama e fica quase sentado
- Eu posso abrir se...
- Eu consigo
- Você parece bem melhor
- Eu me sinto melhor
Ele abre a caixa e os olhos dele enchem de lágrimas imediatamente, ele pega a foto, ainda meio sem jeito e olha por um bom tempo, eu pego meu celular e coloco no vídeo, entrego pra ele, as lágrimas caem enquanto ele ouve o coração do nosso filho batendo, quando termina o vídeo, ele me entrega e volta a olhar pra foto
- Nós vamos conversar, Andrew? Sobre tudo, sobre a gente?
- Eu lembro que não existia a gente
Eu baixo a cabeça
- Tá bem, eu entendo, eu fui horrível e você tem todo o direito de me odiar, só não se afasta das crianças, por favor
- Eu ouvi as ligações mas eu achava que tava sonhando, eu sentia quando as pessoas tocavam em mim - ele para um pouco antes de continuar - Mas como eu só ouvia sua voz, eu achava que estava sonhando, até sentir você e o bebê
- Você não queria acordar?
- Não, não queria, eu achei que se você não queria um bebê só porquê era meu, você não ia deixar eu ver as crianças, então nada mais fazia sentido
- Você... você tentou...
Eu não consigo terminar a frase
- Não, não fiz isso mas acelerei muito a ponto de perder o controle e não fiz nenhum esforço pra ficar bom
Eu desisto de segurar as lágrimas
- Desculpa, tudo isso é culpa minha, desculpa