Criaturas

Amor Complicado

Newt sabia que deveria estar  arrumando suas coisas e voltando pra Inglaterra. Ele tinha algumas criaturas em sua casa, em Doncaster.

Mas estar ali, naquela cama, que parecia um ninho de tecidos macios, com Hazel acomodada em seu peito... A respiração tranquila, a pele macia, com exceção das partes cobertas pelas escamas douradas, os cabelos brancos totalmente desordenados... Aquilo era tão bom...

-Às vezes...-A ouviu murmurar, o que o tirou de suas divagações.-Eu queria poder ser como elas... Que você não tivesse que me esconder de todos... Que pudesse se orgulhar de me ter ao seu lado... Como seria se tivesse alguma delas.

-De quem está falando, Hazel?

Os olhos brancos, com suas pupilas ofídicas douradas, lhe deram um olhar triste.

-Tina... Leta...

- Eu não gostaria que fosse como elas.-O magizoologista deu de ombros.-Uma bruxa comum. Você é um Druída. Uma das criaturas mais misteriosas do Mundo Magico. Ser só uma bruxa não combinaria com você.

-Mas eu poderia cuidar de você, se eu fosse como elas... Eu não precisaria ficar longe...

Os dois ficaram em silêncio por um tempo, ouvindo Niffler brincar com as pedras preciosas de Hazel sobre o criado-mudo.

-Hazel... Você acha que tenho vergonha de você? Por ser diferente?

-Eu... Eu não tenho... Certeza...

- Eu espero que não fique com essa ideia absurda na cabeça. Só te pedi pra ficar aqui porque estaria segura. Mas... Você quer...-O bruxo acabou um tanto corado.-Quer ir ficar comigo em Doncaster?

Os olhos da druída perderam o ar de tristeza. Ela abriu um sorriso doce e se acomodou novamente no peito do bruxo.

-Quero.

•~🌿~•

Eles foram até Londres, e direto para a casa em Doncaster.

Em menos de uma semana, Newt já havia levado a Druída a diversos lugares. De praças e parques à lojas e restaurantes, teatro... Ela tinha roupas mais comuns para usar quando saía junto do magizoologista, seus cabelos haviam adquirido um tom de loiro mais mel, menos chamativo. Assim como seus olhos agora eram mais humanos e de um dourado envelhecido.

O magizoologista não era um entusiasta daquela adaptação, mas sabia que era a única forma de mantê-la a salvo.

Eles gastavam longos períodos de tempo cuidando das outras criaturas mágicas. O Quéops de Newt até se comportava melhor com a Druída.

Naguini e Credence os visitavam, junto de Aberfort, algumas vezes, aos sábados. Newt estava se alimentando melhor e tomando mais cuidado ao lidar com as criaturas.

Hazel sempre preparava a comida, e ele não gostava da expressão de tristeza quando ele se machucava.

Aquele dia foi um tanto diferente, Newt teve de ir ao ministério da magia pela manhã, e deixou a Druída em casa, entretida em preparar algumas guloseimas para uma visita ao Cabeça de Javali, que fariam no dia seguinte.

Encontrou Teseus e Leta, mas fugiu deles antes de ser visto. Resolveu o que era necessário e voltou pra casa o mais rápido que pôde.

Encontrou Hazel acomodada no sofá, Então foi se acomodar junto dela, ganhando um sorrisinho desconcertado.

-O que foi, Hazel?

- Eles estão vindo pra cá... Todos eles... Eu... Eu não sei se... Se as quero aqui.

O magizoologista deu um olhar longo à criatura, antes de roubar um beijo carinhoso dela.

- Eu estive pensando... Nos últimos tempos... Adrenalina causa uma sensação muito boa no corpo... Batimentos acelerados, respiração descompassada... Mas... Paz é um sentimento que alimenta o espírito.

A Druída se moveu, deixando os rostos na mesma altura. Os olhos incomuns brilhando em confusão para o bruxo.

-Newt... Do que está falando?

-Você é minha paz, Hazel.-Enroscou os dedos nos cabelos cor de mel.-E eu não estou disposto a deixar minha paz por paixões. Nunca mais.

Ele viu a expressão de deleite da Druída, o sorriso delicioso e amoroso... Então roubou mais um beijo, antes dos dois irem tomar um banho de banheira quente e delicioso, aproveitando para namorar um pouco.

Hazel achava fofo o quão tímido Newt podia ser nos momentos de intimidades deles. Enquanto ele achava fascinante o despudor dela em relação a nudez, ao toque, ao sexo... Uma criatura não contaminada pelos tabus humanos.

Teseus chegou antes dos outros, ele queria ter certeza de que a casa estava em ordem. E se surpreendeu com a limpeza e a organização do lugar. Havia um toque claramente feminino ali, inclusive na manta dobrada sobre o braço do sofá e as almofadas organizadas.

Além do estranho cheiro de sândalo, cidreira e orvalho impregnado na casa.

-Newton?-Chamou, fechando a porta com cuidado.-Newt, está em casa?

Os passos rápidos na escada fizeram o auror sacar a varinha, dando de cara com o irmão, usando suas roupas de sempre. O caçula deu de ombros para a postura defensiva do irmão, se dirigindo para a cozinha.

-Guarde a varinha, Teseus. A Hazel não gosta.

-Hazel?-O autor franziu a sobrancelha.-Aquela sua... Amiga?

-Minha esposa, Teseus. Desde quando você tem problemas com palavras simples? Sempre foi tão articulado...

O Scamander mais velho ficou plantado ali, chocado. Viu uma figura diferente do que ele se lembrava descer as escadas, lhe dar um sorriso de boas vindas e então ir atrás de seu irmãozinho.

Hazel e Newt arrumaram a mesa do jantar, sem ele questionar o número de pratos que ela colocou. Apenas encostou no balcão quando tudo estava pronto, abraçando a Druída pela cintura, ouvindo Teseus receber os outros, ainda desconcertado com o que havia escutado do caçula.

O mais velho dos Scamander vinha, com seu jeito doce e gentil, conduzindo os outros pela casa. Queenie havia feito um voto de silêncio depois do que houve em Paris, por mais que Jacob tivesse tentado de tudo para que a namorada entendesse que nunca a culpara por tentar um mundo onde os dois pudessem ser felizes.

-Oh, olá senhorita!-O nomagi cumprimentou a figura, ganhando um sorriso fofo de boas vindas.-Devo lhe dizer que esta cor de cabelo lhe caiu muito bem.

-Obrigada, Jacob. Que gentil.-Andrew Sanders, o Auror americano que os acompanhava olhou o casal com interesse. Estava receoso do encontro entre Tina e Sacamander, por saber que eles haviam tido um afaire. Mas vendo a forma íntima com que ele abraçava aquela estranha figura pelo quadril, e apenas dera um aceno educado para eles, chegou a se sentir um tolo.-Como foi a viagem?

-Divertida. Eu confesso que chave de portal ainda não é meu método preferido... Mas fica mais fácil com o tempo.

-Oh, eu odeio aparatar.-Os dois ainda sorriam enquanto conversavam.-E a minha sorte é Newt ser tão compreensivo. As vezes perdemos muito tempo caminhando até o destino para não ter de apartar...

Ela deu um sorriso envergonhado para o magizoologista, que apenas deu de ombros.

-Caminhar com você nunca é perda de tempo. Como está a padaria, Jake?

-Indo muito bem! Vocês dois me devem uma visita...

As conversas foram extremamente superficiais aquela noite. Jacob foi o único que conseguiu interagir com a criatura de Newt, a qual ele chamou de esposa para o irmão mais velho. Teseus se viu levemente ofendido por sua cunhada não ter se dignado a lhe dirigir dois ou três olhares, ou uma palavra sequer, naquela inusitada reunião.