Caminhava lentamente pelas ruas, como sempre, vestia seu moletom e seu capuz, vestia calças largas e o cabelo preso em um coque. Passava despercebida ali, quase como se não existisse mais para aquelas pessoas que já a tanto amaram. Apressou os passos, a dor em seu corpo nem se comparava com a angústia que pesava em seu peito, seus pulsos não tinham mais espaço para cortes e seu doce coração já não suportava a vida, muito menos seus amigos.
Chegou finalmente ao colégio onde estudara a vida inteira, os alunos a encaravam como se fosse um balão azul em meio aos balões vermelhos. Rosalya já não estudava mais lá, então a pequenina se encontrava só, mesmo estando em meio a multidão. Sentou-se em um banco vazio, ao fundo do pátio e observou o rapaz se aproximar, com o seu sorriso radiante de sempre. Não se sentia nem um pouco confortável ali ao lado do moreno que pousava sua mão em sua coxa, então se afastou, fazendo com que sua mão caísse no banquinho. Podia sentir o olhar do mais alto, não parecia uma boa notícia.
- o que você tem? - perguntou, preocupado.
- não é nada..
- você tem estado estranha nos últimos meses.
- tenho?
- sim. Todos perceberam, Hanna. Me diz o que está acontecendo, por favor.
- não posso... apenas não se preocupe, não é nada demais
- nada demais? Sabe a quanto tempo não nos beijamos? Você costumava dividir tudo comigo, Hanna.. o que está havendo? Você não gosta mais de mim?
O rapaz parecia cada vez mais bravo
- não, eu...
- já chega! Estou cansado. Eu sempre soube que você era uma vagabunda, aposto que está me traindo!
- v-vagabunda..?
- Heather disse que ouviu gemidos na sua casa. Da janela do seu quarto, especificamente.
- eu posso explicar
- pois explique
- na verdade, eu não posso.. mas você tem que acreditar em mim! Eu juro que eu nunca o faria
- não confio mais em você. Isso aqui não tem sido um namoro de verdade a muito tempo
- espera... mas você não me ama mais?
- eu nem te conheço mais, Hanna! E eu prefiro ficar com a Heather agora. Ela não se esconde atrás dessa coisa ridícula
Então, ele se aproxima da mais baixa, abaixando o zíper do seu casaco
- vamos, o que tanto esconde aqui?
- espera! Não faça isso!
Mas era tarde demais. Tirou o capuz da ruiva e deixou seu casaco deslizar por seus braços, revelando o que já foi uma menina radiante, mas que se perdeu. Olheiras gritantes, uma marca vermelha na bochecha, olhos lacrimejando e inúmeros cortes em seus braços. E foi naquele momento que Hanna percebeu que todos estavam assistindo. Frustrada, pegou sua mochila e correu para fora daquele lugar sem ao menos se importar com o porteiro que a gritava para que voltasse para a escola.Corria pelas ruas sem rumo, estava chovendo, mas não se importava. Sua cabeça estava a mil, não sabia mais o rumo que sua vida iria tomar, nada mais fazia sentido. Se encontrava encharcada pela chuva, suas pernas doíam e seus olhos quase já não enxergavam pelo inchaço causado pelas lágrimas, então chocou contra algo, parecia uma pedra perto de seu estômago, piscou duas vezes e finalmente percebeu onde estava... estava prestes a cair da ponte, mas uma mão a segurou antes que acontecesse. De repente sentiu uma pontada em sua cabeça e tudo ficou preto.
...
Abriu os olhos lentamente, tudo ainda parecia um borrão, mas podia ver a silhueta de um moreno, então ouviu uma bela voz: "Ei! Você pode me ouvir? Garota! Está me ouvindo?" Tentava respondê-lo, mas mal conseguia formular palavras. Devagar, conseguiu sentar no chão, chocando contra um peitoral.
- menina, você está me ouvindo?
- hã? Onde eu estou? Quem é você?
- meu nome é Liam, eu preciso que me diga o seu nome
- meu nome? É Hanna... o que.. o que aconteceu?
- você quase caiu. Sorte que eu estava lá pra te segurar, mas você acabou batendo com a cabeça e desmaiando
- e-eu desmaiei?
- sim, garota. O que estava fazendo correndo por aqui como uma doida? Enlouqueceu?
- hm.. eu...
- aconteceu algo e tem a ver com esses cortes, não é?
- bem... sim. Meu namorado disse que estava estranha e terminou comigo na frente de todos antes de tirar o meu casaco e mostrá-los os cortes... eu apenas sai correndo e continuei até... bem... você sabe
- isso foi na escola? Garota, você sabe que horas são? Você já é meio fraquinha, provavelmente por falta de descanso, e ainda corre por horas? Isso é suicídio!
- eu preferia ter caído lá embaixo pra ser sincera
- olha... sei que não me conhece, mas me parece que precisa de alguém pra conversar.
- eu não... o que é aquilo?
Apontou para o outro lado da ponte
- o que? Não tem nada ali, menina.
- Tem sim, tem um homem ali. Está vindo pra cá, olha!
- uh... ok, você é meio estranha, eu já vou indo
O mais alto estava prestes a sair, mas a menina segurou sua mão
- espera... por favor, não me deixe só. Eu estou com medo
- do que tem medo?
- eu... eu não posso falar
- do homem imaginário?
- não é imaginário! E não é disso..
- tem problemas em casa, é?
- mais ou menos isso aí
- já passei por isso. Olha, não tenha medo. Apenas vá e corra para o seu quarto, e tranque a porta também. Se for algo fora da lei, e pelos hematomas eu imagino que sim, chame a polícia.
- eu não posso
- sim, você pode. Qualquer um que infringir a lei deve ser preso.
- mas somos família
- deixa eu te falar uma coisa, esse lance de família não existe. Filhos da puta são filhos da puta, independente de onde eles são.
- certo... eu vou tentar
- você me parece meio mal, quer um cigarro?
- cigarro?
- nunca fumou?
- não...
- experimente, é bom
O moreno tirou uma caixinha de seu bolso e pegou um dos cigarros, entregando a mais baixa em seguida.
- coloque na boca e assim que eu me aproximar com o isqueiro você puxa
Fez como ele havia pedido e deixou que a fumaça saísse
- assim?
- não, pra tragar você precisa respirar a fumaça
Novamente, fez o que o rapaz disse. Assim que sentiu a fumaça descendo por sua garganta começou a tossir
- é, agora você tá fumando de verdade.
- por que as pessoas gostam disso?
- dê mais três tragadas e você vai entender, baixinha
- não sou baixinha!
- e eu sou loiro!
O encarou, levemente irritada após ter seu cigarro tomado. Continuou emburrada o assistindo dar um trago, então o mais velho sorriu, um sorriso encantador, Hanna podia sentir seu peito aquecido e o coração a mil enquanto um rubor se formava em suas bochechas, fazendo o sorriso aumentar, logo, a ruiva virou o rosto.
Finalmente teve o cigarro de volta. Ao dar a terceira tragada, pode sentir um alívio se espalhar por seu corpo, a tempos não se sentia relaxada assim, era como se aquele simples cigarro tivesse sumido com todos os pensamentos ruins apenas naqueles míseros segundos.
Ficaram ali dividindo aquele cigarro e conversando até tarde da noite, até que, infelizmente, chegou a hora de ir embora. Ele a levou em sua moto até sua casa e se despediu com uma piscadinha, a deixando com um largo sorriso em seu rosto.
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give me my cigarette
Romanceent... isso era uma minha fanfic de AD, mas eu resolvi refazer e é isto. O nome era amor inesperado