Sonho Roubado

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Brooklyn ─ New York ─  2019

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Brooklyn ─ New York ─ 2019

Sinto a escuridão querendo roubar a minha alma, fantasmas ressurgem de seus túmulos para absorverem o pouco de luz que estava em mim, querendo me puxar para o lugar sombrio que lutei tanto para fugir. Voltar a ouvir esse nome e ter que lidar com o que estar por vir não estava em meus planos, mas se estou aqui é porque poderei passar por mais essa prova. O carro para e Gerard Thomas abre a porta traseira para eu sair, em sua mão esquerda um enorme guarda-chuva nos protege e sua mão direita segura em meu cotovelo me guiando para não tropeçar pelo caminho de pedras portuguesas até a capela. O silêncio do lugar diz tudo, mas por título de curiosidade me dirijo a Gerard.

─ Quantas pessoas estão aqui? ─ Pergunto quase em um sussurro enquanto caminhamos.

─ Somente você e alguns homens da Bratva. ─ Responde com sua voz calma e pacífica.

Me sento em um banco afastada do caixão e tento apagar da memória tudo o que vivi nas mãos de Ernest, mas como um filme em preto e branco as memórias surgem como um flache e mesmo que lute contra, uma lágrima me escapa. Me pergunto, aonde estão as pessoas que diziam serem seus amigos. Onde está Greta e Axell? Mas tudo o que ouço é o silêncio e a desolação que o ambiente proporciona. Os minutos passam de forma lenta e calma como tudo aqui, até ouvir passos se aproximando e me forçando a me manter firme. Sinto sua presença, mas como já era esperado, não me reconhece e agradeço a Deus por isso.

Gerard novamente vem junto a mim para avisar que chegou a hora, sua mão me auxilia a ficar de pé para seguirmos o cortejo de poucas pessoas. Ele é um dos meus amigos mais fiéis e me ajudou em um momento em que me vi sozinha. Isolada depois de fazer o que toda mulher agredida e subjulgada faria, Gerard e Clayd me ajudaram e estão correndo o mesmo risco que eu, por isso o nosso disfarce.

Carrego em minhas costas o peso da minha escolha e temo que seja julgada e condenada pela máfia mais impiedosa que existe, a Bratva. Não posso correr esse risco. Não agora que tenho a minha tão sonhada liberdade de volta. Tremo só em pensar de ter que voltar para lá e ter de me submeter as vontades de outro homem.

─ Karen, está tudo bem? ─ Gerard pergunta preocupado. Por ele e sua mãe não estaria aqui, mas não podia deixar de me certificar que o inferno receberia seu mais novo morador.

─ Sim. ─ Caminho pelo cascalho molhado até o local onde Ernest será sepultado e noto que há somente um homem de pé, próximo ao caixão.

 ─ Caminho pelo cascalho molhado até o local onde Ernest será sepultado e noto que há somente um homem de pé, próximo ao caixão

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A chuva cai torrencialmente. O barulho dos trovões que cortam o céu do Brooklyn quebrando o silêncio do cortejo até seu túmulo me deixam assustada, agarro-me em seu braço e sou posicionada sobre a lona que protege os enlutados. Gerard se afasta dando-me privacidade para dizer adeus ao meu opressor. Espero que o homem que conheço muito bem saia de perto e me aproximo e fico sozinha diante de seu caixão mais uma vez ouvindo o balançar dos galhos com o forte vento que saúdam seu mais novo morador, o assobio da ventania é como um clamor no lugar dos mortos. O seu mais ilustre morador chegou ao seu lugar de destino. Chegou no lugar que eu sempre o desejei. No lugar onde não me atormentará nunca mais.

Como cada gota de lágrima que já derramei, os pingos grossos caem sobre o caixão de Ernest que está fechado para que ninguém tenha o desprazer de olhá-lo de novo. Sozinha diante do caixão do homem que foi a minha ruína, reflito todos os meus erros e percebo que não sou a mesma mulher de antes. Não levarei o estigma da vítima, pelo contrário, quero ser estigmada como a justiceira. Aquela que transformou a dor em força, a derrota em vitória e a desolação em alegria. Finalmente meu algoz jaz dentro da urna, morto e posso seguir em frente sem medo, sem temer ser encontrada novamente e sofrer tudo de novo, posso dormir novamente, sair sem me preocupar se estou sendo seguida ou vigiada, agora eu sou livre e posso voltar a viver.

Gargalho, mesmo com lágrimas nos olhos. Gargalho sozinha diante desse montro. Gargalho de felicidade por poder ser dona do meu próprio destino e ter a chance de realizar uma parte do meu sonho, mesmo que ele tenha roubado uma fração de mim, eu ainda tenho forças para perseguir os meus sonhos. Olho ao redor e vejo os homens retornando e mesmo que tema ser descoberta, continuo firme até o final. Preciso ter certeza que ele nunca mais sairá desse buraco.

O caixão baixa a sepultura e com ele leva toda a dor e sofrimento que fui submetida. Saio dali renovada e posso finalmente respirar aliviada.

Chego em casa, retiro meu vestido e sapatos na lavanderia e sigo somente de calcinha e sutiã para meu quarto, preciso de um banho quente para expurgar de mim qualquer resquício de Ernest que possa ter ficado entranhado em meu corpo. O banho é demorado, quero sentir minha pele limpa e renovada para começar a viver realmente. Me enrolo no roupão felpudo e sigo para cozinha para tomar um chocolate quente com torradas, preciso me alimentar melhor e a primeira coisa que farei amanhã é ir com Gerard ao mercado e abastecer minha dispensa e geladeira com tudo o que gosto de comer.

Sempre fui tolhida de tudo. Nunca pude ter a liberdade de escolher o que queria comer, vestir ou calçar. Precisava refletir a imagem dos meus donos e seu negócios escusos.

Ser levada em troca do pagamentos de dívidas do meu pai com a máfia foi a maior de todas as dores. Não estava preparada para ser comercializada e ter que trabalhar no mesmo lugar como alterne até que fosse treinada e assumisse o lugar de Margoth como uma proxeneta. Não culpo meu pai por querer nos dar o melhor, mas não o perdoo por trazer esses tipos de pessoas para nossas vidas e destruir o que tínhamos de melhor, nossa família.

Deixo esses pensamentos de lado e foco no que poderei fazer de agora em diante. Estou livre de Ernest, mas ainda presa ao meu dono e mesmo que tenha adquirido uma nova identidade, sei que é questão de tempo até que ele me encontre e eu volte a ser mais uma de suas aquisições. O tempo me ajudou a definir os meus sentimentos e agora sei que me apaixonar por ele foi o meu maior erro.



1-Mulher que trabalha nos Cabarés e incentiva os frequentadores ao consumo.

2-Cafetina


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Olá

Começamos mais uma história e espero que gostem. Sei que muitas não gostaram de ter um capítulo por semana, mas como expliquei, estou muito atarefada com outras obras e com o final do ano fica mais complicado, mas estava ansiosa para trazer essa história para vocês.

Então...bora a um desafio básico para darmos mais emoção, kkkkk

Se alcançarmos 300 visualizações, 200 votos e 150 comentários posto o primeiro capítulo na quinta-feira. Sei que conseguem, por isso, comentem, compartilhem em suas redes sociais e não esqueçam os votos.

Espero nos vermos em breve.

Bye.

Sonho Roubado - Disponível até  01/05Onde histórias criam vida. Descubra agora