I. NINI

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O silêncio é tão profundo dentro do apartamento que até mesmo o som discreto da maçaneta girando faz com que o rapaz franza o cenho, medindo seus próximos movimentos a fim de evitar um barulho desnecessário. No instante em que fecha a porta, seu corpo imediatamente adota uma postura mais relaxada conforme um conhecido bem-estar se instala em seu interior: o cheiro dela está por toda parte, e talvez esse seja o ponto. Ele está em casa.

— Jongin? - a voz da mulher é sonolenta, e só então o rapaz nota sua presença, xingando baixinho por ter falhado em sua tentativa de manter o silêncio. Em sua defesa, a missão é mesmo quase impossível quando se trata de Nahee: seu trabalho inclui um eterno estado de sobreaviso, e namorar um homem que vive metade do ano viajando não contribui em nada para boas noites de sono.

— Jagi, eu não queria te acordar... - ele larga a mala no chão, já despreocupado quanto ao barulho, os olhos fixos na mulher cujos cabelos ondulados se lançam adoravelmente em todas as direções - Me desculpa...

Shit! Que horas são? Eu devo ter pegado no sono! - pergunta, coçando os olhos para se sentir mais desperta. Ele realmente está ali, ou ela está apenas sonhando, movida pela constante ansiedade de tê-lo de volta?

— Três e meia. - Jongin tira os tênis, deixando-os ao lado da mala - O voo atrasou e eu esqueci meu carregador no hotel, não consegui te avisar. - explica, passando os dedos pelos cabelos e desalinhando-os de uma maneira que, ao olhar sonolento dela, parece tão atraente que provavelmente seria ilegal em alguma parte do mundo.

— É claro que você esqueceu... - ela sorri de canto, acostumada à distração constante de Jongin, e ele devolve um sorriso culpado enquanto cruza a sala até o sofá onde a mulher se encontra, admirando a forma como Nahee parece incrível até mesmo usando uma de suas camisetas mais antigas. O fato de ela dormir em suas roupas quando não está faz com que algo dentro dele se alegre de uma maneira peculiar: três anos, e o rapaz ainda não consegue acreditar que de fato a garota dos sonhos é irrevogável e inteiramente sua. Jongin se senta à beira do sofá e tira do colo dela um livro pesado com meia dúzia de marcações coloridas, que ela provavelmente adormeceu enquanto lia. Só então, finalmente tendo o caminho livre, planta um beijo demorado na testa da mulher, mantendo a mesma posição confortável por longos segundos.

— Eu senti sua falta. - confessa, sem desgrudar os lábios da pele dela, sentindo seu calor agir como um revigorante a restaurar cada sinal de cansaço em seu corpo.

— Eu senti mais. - Nahee sorri apenas a suficiente para que ele perceba seus lábios se curvando contra o seu pescoço. A mulher espalma o rosto dele com as duas mãos, alinhando-o ao seu - Você deve estar cansado, babe... - murmura, notando as manchas arroxeadas sob seus olhos, que ela acaricia com os polegares: sua rotina é exaustiva, mas a dele não é nem um pouco menos. À menção do apelido, trazido à tona pelo sotaque que ele mais ama em todo o mundo, o rapaz passa os braços em torno dela, recostando-se no sofá.

— Eu estou bem, agora. - Jongin sorri tranquilamente, passando os dedos por entre os cabelos dela, os olhos cerrados para não permitir qualquer distração: sua concentração está na forma como o peito de Nahee sobe e desce a cada respiração, e como seus corações batem juntos, depois de longas semanas separados - Como foi o trabalho? - pergunta, e a mulher entrelaça seus dedos, quando um sorriso lhe escapa. Essa é uma das razões pelas quais ela é perdidamente apaixonada por ele: Jongin pode ser quem viaja o mundo e vive as experiências mais peculiares, mas sempre ressalta seu interesse por todas as pequenas coisas da rotina dela, ainda que a vida dentro de um pronto-socorro seja absolutamente desprovida de glamour.

— Cansativo. - ela responde, sorrindo fracamente. Cumprira 36h de plantão a fim de estar liberada quando ele chegasse, e agora seus olhos pesam a cada segundo, clamando por descanso, mas ela se sente infinitamente bem - Mas pelo menos amanhã podemos ficar a manhã inteirinha na cama... - sorri, beijando os nós dos dedos dele com carinho, antecipando a felicidade de curtir o namorado sem pressa numa manhã de segunda-feira. Seu pequeno paraíso particular.

HERS - Kim JonginOnde histórias criam vida. Descubra agora