e por falar em saudade: onde anda você?

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foi no verão dos anos 2000 quando eu conheci oh sehun e desde então nada além disso consegue sair de mim porque tudo que eu sei fazer é querê-lo mais e mais, pedindo diariamente para que ele fique ao meu lado para sempre, mesmo que o amor à primeira vista não exista.

nunca na vida eu pude pensar em perder uma competição de surfe para um moleque meia boca e com um sotaque gringo engraçado até que eu simplesmente aceitei a derrota num dia quente de fevereiro em copacabana tentando ponderar o fato de que eu não era tão errado assim em achar meninas argentinas de maiô petit-poá um pouco exageradas demais. eu vi sehun na crista da onda e dentro de todos os tubos de água que as ondas imensas se tornavam - tudo de mais belo existente, aparentemente com o único propósito de me fazer cair e deixar sehun ainda mais orgulhoso de ser deveras melhor que eu em qualquer manobra que exija o mínimo de equilíbrio.

eu sei que não sou um surfista tão bom quanto eu deveria mas a sensação de estar imerso dentro d'água é como viver um tipo de emoção diferente segundo por segundo. ao lado de sehun, viver no mar tornou tudo mais nítido para a minha visão borrada de piscina cheia de cloro.

desviar de águas vivas, caçar conchinhas na beiradinha da areia e sempre suspeitar de pescadores que amanhecem na praia é o tipo de coisa que eu espero no mínimo mil vezes por dia anualmente até que chegue dezembro, eu veja a maré subindo e então busque sehun no aeroporto com sua prancha tão bem cuidada que é quase digna de inveja.

eu espero até demais que o nosso amor de veraneio que só dura uma temporada se solidifique pelo piado de meia dúzia de garças que vêm nos dar bom dia quando decidimos caminhar pela praia só para degustar mais um minutinho da sensação da areia entrando por entre os nossos dedos.

às vezes, querer não é poder e mais um milhão de coisas.

depois disso, ninguém sabe exatamente o que acontece para que o céu fique refletindo o esplendor dos coqueiros e a água cristalina digna de livro de história - porque com certeza não existirá daqui a cem anos, mas independente desse fato, eu sinto como se não precisasse de mais nada para ser livre ou para não ter vontade alguma de sentir a nostalgia do verão do ano passado e do ano retrasado além de um sehun saído do mar às sete de noite com o sol (graças ao horário de verão) banhando da maneira mais bela impossível todo o seu corpo esguio demais para preencher as minhas mãos.

ter sehun ao meu lado é querendo ou não me tornar parte da cadeia alimentar nostálgica que nunca se torna indesejada. eu sinto por todos os cantos o cheiro dos cigarros que os banhistas fumam antes de descerem até à praia e me prendo sem direito ao resgate quando eu me deparo com os olhos castanhos e aconchegantes dele, que abrigam somente para si toda a sede de descobrir cada cantinho do mar, da arte, da areia e da cultura brasileira que nunca se esgota porque incansavelmente se regenera dia após dia. e eu beijaria a sua pele centímetro por centímetro para torná-lo mais meu à cada segundo que se passa durante as últimas semanas antes da temporada acabar e a praia ecoar novamente o meu vazio existencial tapado de saudades de um francês sujo, borrado e 100% falho, porém ao mesmo tempo apaixonante.

inúmeras vezes eu simplesmente não durmo de noite cogitando o fato de viver num delírio constante porque tudo que me envolve de dentro para fora só me dá mais certeza de que eu nunca estou completamente lúcido quando estou com sehun. nunca estou surfando com ele, o beijando ou segurando a sua mão por mais abstrato que isso possa parecer.

os delírios vêm de madrugada e geralmente no mais escaldante dos frios, congelando todos os meus fios se cabelo e me fazendo segundo por segundo, repensar se estamos mesmo vivendo da maneira certa ou só sendo dois inconsequentes sem papas na língua e sem medo do agora. já pensei também que sehun pudesse me acometer num delírio sem mesmo que eu pedisse ou sem mesmo que ele soubesse, deslizando para dentro da água ou simplesmente aplicando protetor solar mais duas vezes no seu rosto para que ele não fique vermelho como um pimentão ao chegar em casa. são coisas simples que ao salpicadas com a áurea majestosa de sehun, se tornam necessárias para a minha existência, sendo isso uma gargalhada, um castelo de areia construído por horas ou uma carícia idiota que sempre soa como se fosse a primeira de muitas.

não há ensaio para lucidez quando ela mesma se trata de um delírio constante e catastroficamente doloroso como oh sehun. na mesma proporção em que eu sinto prazer eu sinto a dor se multiplicando inúmeras vezes dentro de mim quando junto dele, lhe sentindo muito mais do que o planejado e ainda com fome de mais um montão de histórias e canções antes jamais tocadas, comidas, cheiradas ou vividas.

maldito foi o dia em que eu tive a audácia de entregar o meu coração para um europeu de merda sem enxergar consequência alguma que poderia vir a me atingir. sehun diz que eu sou inconsequente às vezes, e sim, parece que até hoje a sua habilidade de me discernir bem demais ainda me assusta bastante.

segredos à parte, falar sobre ele com tanta certeza do que eu digo é como simplesmente afirmar que nós nunca nos ecaixariamos da maneira correta sem que sacrifícios fossem feitos.

eu encontrei alguma espécie acolhedora de refúgio caloroso e divergente do esplendoroso carnaval carioca retumbante e vívido do meu coração quando eu simplesmente me aconcheguei em seus braços e ele me acolheu como se estivesse a vida inteira esperando pelo momento onde eu cederia aos seus encantos. eu cedi, e cederia mais um milhão de vezes se fosse necessário só para poder sentir como se a minha casa estivesse retornando para mim sem que eu nunca ao menos tivesse entrado pela sua porta uma única vez na vida. e mesmo assim, eu insisto em apelidá-lo de casa, meu refúgio que eu nem sabia da existência mas que quando me tomou para si, nunca mais quis largá-lo outra vez.

independente disso, nunca deixei de sempre observar toda a beleza escondida na nossa cabana de veraneio emprestada de pescadores que volta e meia decidem ir à cidade: o mar beija a entrada e barquinhos não são indispensáveis por enquanto. no final do mês, acaba que tudo sempre parece nunca querer se desprender de nós dois, tanto de sehun com a maresia já dona de seu corpo quanto de mim, que me torno parasita de algo vívido até a última maré alta da última noite. e eu amo isso. amo mais do que eu conseguiria sequer explicar.

como despedida, eu ascenderia uma fogueira, pintaria uma tela feita de maresia bordada com fios do ouro que nos fora roubado ao simplesmente abrirmos a porta para qualquer estranho que seja e mesmo assim, seria inegável a dor da perda alarmante e cafajeste que me fisga a partir do momento em que eu realizo que novamente não poderei impedir que sehun volte para o outro lado do globo, com toda a sua beleza bronzeada e destoante da frieza que só insiste em tornar o meu garoto, um pouquinho menos meu.

mas o verão sempre volta.

OH SEHUN TEM CHEIRO DE MARESIAOnde histórias criam vida. Descubra agora