Capítulo 1

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  O sol estava se pondo, fazendo com que as sombras das árvores se mesclassem com a escuridão da noite. Ao leste, nuvens se agrupavam em um massa cinzenta com a promessa de um temporal.

  O ploc ploc dos galopes do cavalo seguiam a sinfonia das cigarras ao redor, alimentando cada vez mais uma enxaqueca insistente.

  Depois do que pareceram horas, já caíam grandes gotas de chuva do céu completamente escuro.

  Fiz uma curva que mostrou uma grande mansão negra não muito distante. Coloquei o cavalo para andar em sua direção.

  Ao se aproximar, começei a questionar como não havia visto sua estrutura a alguns metros antes, já que ela não estava tão distante. Culpando a escuridão e a chuva, dissipei essas questões, e tentei me arrumar o melhor possível para não ser confundida com uma mendiga.

  Finalmente atravessei seus portões ladeados por gárgulas, desci do cavalo com suavidade, e após amarrá-lo em um estábulo que encontrei, fui até o al da porta, a qual bati com suavidade e precisão.

  A casa, apesar de ser obviamente muito valiosa, estava sombria e tinha a leve aparência de algo abandonado a anos, a grama estava morta e alta, a fachada precisava de uma boa pintura. A única coisa que me mantia ali, era uma luz fraca que vinha de dentro da propriedade, com a promessa de calor e comida.

  Quando a porta foi aberta, mesmo com a luz que vinha de dentro da Mansão, não conseguia identificar meu anfitrião.

  - Boa noite! Em que posso ajudar? - era uma voz masculina, o que me deixou um pouco desconfortável.

  - Boa noite, senhor! Venho em busca de abrigo, está chovendo muito lá fora, e o caminho até minha casa é longo - falei com a voz doce, finalizando com sorriso tímido. Meu hospedeiro abriu mais a porta para que eu pudesse passar. Quando entrei consegui ver seu rosto. Ele era jovem, cabelo escuro, quase preto, seus olhos eram verde vivos, como faróis na escuridão, poderia até ser a má iluminação, mas sua pele era branca, pálida, quase como a de um morto. Tentei não pensar no assunto enquanto entrava sorrindo.

  - Primeiro andar. Primeira porta à direita. Sinta se em casa - Ele disse com um sorriso suave e sensual. Reparei que suas roupas eram requintadas, apesar de ser um pouco fora de moda, denunciando-o como integrante da alta sociedade.

  Olhei para a direção em que apontava, e vi uma escada no canto da Mansão. Me virei para o meu anfitrião, mas ele havia sumido. Olhei ao redor, procurando por ele, e sem o achar, subi as escadas com extremo cuidado devido a falta de iluminação. Já no topo dela, sobre um móvel, estava disposto uma vela, de maneira proposital, para acompanhar quem passasse por ali durante a noite.

  No corredor haviam muitos quartos, no entanto, a porta mais próxima, a primeira a direita, estava entreaberta. Aproximei-me até que a abrir completamente. O quarto tinha uma decoração simples, mas sofisticada. O lençol de cama, combinava perfeitamente com o papel de parede floral. Havia uma cômoda e uma penteadeira, ambas combinando com a cama.

  Toda a delicadeza do quarto me fez se sentir inadequada com minhas roupas de última moda, que agora estavam encharcadas e sujas.

  Fui até a cômoda, abri uma gaveta, vi que tinha uma camisola branca, de seda, e quando vestir, percebi que o decote estava grande demais, e o tecido fino demais. Peguei o robe que combinava, vesti, e desci assim mesmo.

  A casa estava silenciosa. Discretamente seguir a luz do castiçal, que ficava na sala de jantar, na esperança de encontrar o anfitrião, apenas para me decepcionar com sua ausência.

  Reparei em um conjunto de quadros no cômodo seguinte, a sala de estar. As pinturas eram lindas e bem feitas, retratavam seus personagens de forma delicada e precisa, mas dava para ver a suavidade com que foram criadas, fazendo parecer quase reais. Logo vi o homem o qual me recebeu em sua casa, no quadro estava com um casaco verde, combinando com seus olhos, e seu sorriso era o mesmo que me ofereceu mais cedo, e ao seu lado, estava uma moça. Ela era... eu.

Mansões InfernaisOnde histórias criam vida. Descubra agora