Capítulo 3

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  — Você é um grande idiota — falei dando as contas as para o meu namorado.

  Ele segurou o meu braço antes que eu pudesse dar um só passo.

  — Para onde você pensa que vai, sua vadia? — Ele perguntou transmitido ódio na voz, enquanto me virava de volta para ele.

  — Não é da sua conta! — gritei de volta, dando as costas mais uma vez e correndo um pouco para me afastar dele.

  Fernando era um grande idiota. Só pensava que eu ia fazer o papelzinho de mulher perfeita de novo.
  Ele havia combinado de ir ao cinema com um amigo e sua mulher, e me arrastou junto.
  Até aí tudo bem!
  O problema era comigo. Tudo o que eu dizia era errado para ele. Enquanto o casal achava graça com minhas palavras, ele me fuzilava com os olhos mandando-me calar.
  Então quando fomos escolher um filme, ele sugeriu que fossemos assistir terror, mesmo sabendo que eu detestava.
  Quando falei que eu não iria entrar naquela maldita sala, começamos a brigar, e aquilo foi a gota d'água para mim. Amanhã mesmo eu sairia daquela casa.
  Mas hoje eu iria para qualquer lugar, longe dele. Se fosse para casa, logo ele chegaria e me colocaria contra a parede. Então eu iria andar, vagar pela cidade até amanhecer, sem me preocupar com aquele abutre.
  A avenida pela eu qual andava era bem iluminada, com vários postes e placas luminosas de restaurantes e lanchonetes.
  Enquanto eu descia por ela, observei as vitrines das lojas fechadas. Fazia um longo tempo que eu não passava por lá. Na verdade, fazia tempo que não saia para qualquer lugar, livremente.
  Desde que me juntei com Fernando, mal saía de casa. Como se ele tivesse medo que eu não voltasse mais.
  Naquela manhã, quando me chamou para sair, estranhei bastante, pois não era normal ele me chamar para sair. E como eu passava o dia todo em casa, não pensei muito no assunto, só fui.
  Fora aqueles vinte segundos iniciais que me fizeram perceber o significado daquilo tudo. Sua verdadeira intenção era apenas uma; me humilhar na frente dos seus amigos.
  Essa era a última vez que aquele desgraçado iria me tratar daquela forma, em qualquer lugar.
  Passei por uma conveniência vinte quatro horas, e parei. Pedir um maço de cigarros e um isqueiro, antes de continuar a vagar.
  Meu namorado odiava que eu fumasse. Bom... essa seria a última preocupação dele, comigo, a partir desta noite.
  Enquanto eu olhava as vitrines das lojas, vi um vestido exuberante. Ele era vermelho sangue, seu decote era profundo, o modelo indicava que as costas ficavam de fora, além disso, seu comprimento era grande, até o chão.
  A loja já estava fechada. Então decidir que na manhã seguinte, antes de ir para casa, compraria aquele vestido e chegaria vestida nele.
  Enquanto olhava o vestido, sentir uma sombra se aproximando de mim. Esperei que sua imagem aparecesse no vidro, mas isso não aconteceu. Quando enfim olhei para trás, não vi nada. Dando de ombros me afastei e continuei a descer a rua.
  Duas quadras depois, as ruas estavam mais escuras devido à falta de lojas abertas, então resolvi apressar o passo.
  Nesse momento, comecei a escutar passos atrás de mim.
  Sem olhar para trás, comecei a andar em um ritmo apressado, fazendo um poc poc, no asfalto, graças ao meu salto alto preto.
  Quem está atrás de mim parecia não ter pressa, e como não estava tão perto, olhei discretamente para trás.
  Era um homem, sem dúvidas, mas não consegui identificar quem era. Aquele desgraçado me convenceu a deixar meus benditos óculos em casa.
  Com receio de ser meu namorado me seguindo, subi uma viela que me levaria para o parque central.
  Lá haveriam árvores, para me ajudar a se despistar de quem quer que fosse que estivesse andando atrás de mim.
  Com pressa subir a rua, e quando estava virando a esquina, olhei para trás novamente e vi o homem subindo a mesma viela.
  Como ele havia andando tão rápido?
  Quando virei a esquina, longe de seus olhos, comecei a correr para o parque que ficava a menos de uma quadra.
  No início do parque havia as ruínas e uma casa antiga que serviria de abrigo. Muitos sussurravam que era mal assombrada. Eu particularmente ignorava tal afirmação.
  Sem dúvidas eram os viciados que entravam ali, e eram seus os sons sinistros que todos ouviam de vezes em quando, quando algum havia consumido droga demais ao ponto de ter uma overdose.
  O medo que eu sentia do homem, era maior que o da casa.
Corri para ela e abrir uma das portas, apodrecida de madeira, com cautela.
  A Mansão um dia foi um lar bonito e elegante. Sua estrutura era antiga e bem torneada.
  Não havia resquício de móveis ou outros objetos pessoais. Sem dúvidas furtados anos atrás, antes de quase tudo virar ruínas.
Agora, enquanto andava pelo chão de madeira, cheio de irregularidades, conseguia ver vestígios de pessoas que passam por aqui. Embora não houvesse nenhum ser vivo na propriedade.
  Andei um pouco até chegar à escada. Sentei em um degrau e retirei meus sapatos. Peguei o inquérito e o maço de cigarro que tinha comprado no caminho e comecei a fumar.
  As lufadas de fumaça preencheram o espaço vazio e a solidão, enquanto as horas passavam.
  Fazia quase dois anos que havia parado de fumar devido a Fernando. Era libertador sentir aquele calor sendo inspirado para dentro de mim. Prazeroso e relaxante.
  Envolvida com as sensações que o cigarro oferecia, levei um baita susto quando escutei um barulho alto.
  No primeiro momento pensei que a porta tinha sido arrombada, mas o som não tinha vindo pela frente.
Apagando o cigarro com o pé, me levantei e fui procurar a origem do som. Ultrapassando a cozinha, tinha uma porta nos fundos, que se abria para a parte mais escura do parque.
  Desci os degraus da casa com cuidado, olhando para todos os lados em busca da origem do som. Ao passar meus olhos por um arbusto alto, suas folhas se mexeram revelando um par de olhos verdes vivos.
  Meu coração disparou com o susto provocando um grito em minha garganta, que não deixei escapar.
  Corri para dentro da casa e fechei a porta com tudo.
  Dentro da propriedade, procurei por algo que pudesse trancar a porta, sem sucesso, e corri para as escadas.
  Antes que pudesse subir um degrau, tropecei em algo, e fui com tudo ao chão.
  Levei alguns segundos para perceber o que havia acontecido. Meu coração ficando cada vez mais acelerado.
  Olhei para os meus pés e encontrei um dos meus saltos quebrado. Tinha tropeçado nele.
  Quando finalmente me sentei, vi uma sombra se ergue na entrada da cozinha. Embora não pudesse ver seu corpo, seus olhos eram os mesmos que havia visto do lado de fora.
  Quanto mais o observava, mais reparava o quão lupino era, até que ele saiu das sombras.
  Seu corpo de um branco intenso, despido de qualquer pelo, se mantinha em uma forma curvada, porem, sabia que isso não o impedia de ser veloz. Seu rosto, nada humano, exibia um sorriso digno de um Drácula, com pesas alongadas, e seu nariz não passava de duas fendas reptilianas.
  Levantei-me de vagar, sem conseguir tirar os olhos da criatura, enquanto a mesma avançava lentamente. Em seus olhos, observei uma fome voraz, que fez com que o medo que eu sentia, se alastrasse em mim. E então seu nariz dilatou com o novo cheiro no ambiente.
  Sem conseguir pensar em nada, disparei para a porta da frente.
  Sabia que ele iria me seguir então era a minha única saída.
  Ao tentar abri-la, não conseguir, como se essa tivesse completamente emperrada. Tentei me jogar contra ela para tentar quebrar, mas a madeira não estava tão podre assim. Sentindo uma dor no braço, procurei outra saída.
Havia janelas laterais, mas todas eram altas demais para mim conseguir fugir.
  Sentir sua presença sombria invadir o cômodo enquanto tentava, inutilmente, escalar uma das janelas.
  Quando o olhei, sua face transmitia uma espécie de humor negro, como se risse da minha desgraça. Sem saber para onde correr, olhei para todos os cantos em busca de um milagre, mas não havia nada, absurdamente nada.
Alí, vi com o canto do olho, um prego ingrime despontava da porta da janela. Se eu soubesse usar, ele garantiria uma distração suficiente para que eu fugisse.
  Desviando o olhar, me concentrei na criatura, que de aproximava lentamente, se deliciando com o meu cheiro enquanto seus olhos estavam focados em mim.
  Conforme ele se colocou entre mim e minha saída, seu cheiro, um misto de podridão e algo que não identifiquei, se apoderou em mim.
  Um passo, apenas um passo…
  Quando ele finalmente deu, peguei o prego e corri em sua direção, mirando em seu olho.
  Não parei para vê se tinha de fato acertado, antes de correr para o outro cômodo.
  Senti suas garras me arranharem enquanto o ultrapassava, mas não me importei.
  Sem olhar para trás, corri escada acima. Tentando pular mais de um degrau, me esforcei para me equilibrar.
  Essa era minha única chance.
  Quando cheguei no topo da escada, corri em uma direção qualquer, sem me importar.
  Com medo do que eu iria encontrar, não ousei olhar para trás, conforme atravessei um corredor cheio de portas. Ao fazer uma curva relativamente fechada, olhei para trás e não vi nada…
  Então parei. Observei ao meu redor.
  Aquilo estava errado, tão terrivelmente errado… ele viu onde eu estava, para onde havia corrido… não haviam dúvidas que ele poderia ter me alcançado…
  Um jogo. Era isso o que era. Um monstro brincando com o jantar.
  Meus olhos encontraram uma janela de vidro, no fim do corredor. Ela levava ao parque…
  Me aproximei dela com cautela, olhando em volta…
  Abrir a janela com cuidado, e pus meu corpo para fora. Se eu tivesse sorte… se eu pulasse haveria uma chance, mínima, mas uma chance, de eu sobreviver. Mas com aquela criatura…
  Com cuidado, me preparei para subir no para-peito. Então uma sombra surgiu do céu e caiu de pé com uma destreza felina.
  A luz da lua iluminou seu corpo pálido antes que eu absorvesse a imagem em minha mente.
  Então corri para me afastar. Em meus olhos, lágrimas lutavam para sair embaçando minha preciosa visão.
  Mal deu dez passos, sentir as garras perfurando meu braço, me trazendo para perto de si.
Ignorando a dor, me debatia em busca de me libertar, como uma mosca em uma teia de aranha.
  Como se já estivesse farto de mim, ele me empurrou contra o outro lado do corredor. Com um bac surdo bati contra a parede enquanto me deixei escorrega até o chão.
  Eu sabia que esse era meu fim. Sabia que não havia mais volta.
  Observei a criatura se aproximar, e seu odor pungente de podridão preencheu o lugar.
  Conforme avançava, não conseguia tira os olhos daquele ser. Da queles olhos famintos enquanto me estiva.
  Quando esse se agachou, pronto para um bote, me obriguei a olhar.    Não iria gritar, não ía fechar os olhos. Iria morrer com toda dignidade.
  Então a criatura pulou para cima de mim com suas garras e caninos prontos…

Desculpa a demora para publicar, espero que gostem!

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