Eu pedalava em uma rua, sobre uma bicicleta vermelha completamente arranhada. Joelhos ralados, all star velho e fitas no cabelo não eram novidade para uma menininha de 12 anos.
Na rua, envolta por névoa e com chão de paralelepípedo, via rostos e mais rostos. Alguns choravam, outros riam. Do quê, nunca saberei. Via mulheres com cigarros entre os dedos, olhos borrados de preto, implorando a homens grandes (e maus, ao meu ver) algo que eu nunca entenderia. Haviam crianças sentadas, roupas surradas, esperando por um milagre ou pais adotivos. Vendedores gritando e pechinchando, ladrões sorrateiros passando as mãos em bolsos e colares de moças, encapuzados passando pacotes estranhos e o mundo girando.
Cansada, virei uma rua e dei de cara com um portão de tom escarlate, assim como os laços que pendiam dos meus cachos dourados na época. Era a minha casa, grande como um palácio, combinando com as outras casas da rua, que, ao contrário da outra, reluzia sob o sol. Entrei correndo, puxei a barra da saia da minha mãe, e lhe perguntei por que o sol e a felicidade caíam somente sobre os seletos.
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Avenida Dos Sonhos Destruídos
Não Ficção"Via rostos e mais rostos. Alguns choravam, outros riam. Do quê, nunca saberei."