dicionários sujos & línguas incompatíveis

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"Junji, como se diz adeus em romeno?"

Cego pelo brilho da lua aninhada em meus braços, com sua luz utópica furtada sem segredos de um sol distante e indiferente. Queimei retinas encarando a beleza chamuscante de Rie enquanto ele manipulava os fios invisíveis sustentando um coração fraco que por pouco não desmanchou em meus ossos esmaecidos.

O amor é cego, mas também inebriante como ópio. Mergulhei de cabeça em águas repletas de papoulas falsamente tranquilizadoras. Emergi com a ajuda de plantas carnívoras que em troca roeram meu corpo até os ossos. Onde você estava, durante todo esse tempo gasto em perseguir causas impopulares? Sorrindo por trás de globos de neve, tomando seu chocolate fervido depois de mastigar minhas vísceras até que a última gota de meu sangue nada nobre enchesse sua banheira lascada de perdas em auroras boreais esquecidas.

O dicionário sujo no fundo do aquário cheio dos sapatos desperdiçados em corridas sem sentido no coração da capital romena. Corremos em círculos por tempo demais, falando línguas incompatíveis, enxergando horizontes estreitos em diferentes direções com fatídicos enlaces realçados por escolhas bem delineadas. Não sobraria muito espaço em casas construídas em terrenos inundados por lágrimas. O amor outrora almejado e prometido em noites primaveris quando as janelas escancaradas deixavam entrar a canção do vento que ouvíamos com tanto vigor está impregnado do mofo elementar que cobre as paredes do pequeno prédio onde você me beijou e disse que nunca se afastaria mais do que duas batidas de um coração combalido. Dezenove horas passaram e perdi as contas enquanto jogava saliva nos dedos endurecidos de frio e medo.

O vento silenciou, a primavera queima num arco robótico cheio de desejos descartados e na praça vazia dancei sozinho a valsa da meia noite com estrelas ofuscando elucubrações apressadas e lágrimas entupindo o nariz indiferente ao vento conjurado em encruzilhadas traiçoeiras.

E eu só queria um abraço. Só um abraço, Lee Sungho. Não tapinhas nas costas, afagos insolentes nas bochechas, apertos tímidos nos quadris. Não acreditei quando afirmou tão firmemente que suas mãos incendiariam minha alma com esse encontro de corpos essencial e pouco promovido.

Te apetece rasgar delírios oníricos em cálidas noites de romances breves nas calçadas isoladas de Viena? Usar jargões intelectuais retirados de livros franceses do século passado não blinda suas más intenções contidas em olhos de serpente marinha escapando do fundo dos mares do sul. Tampouco fugir para Toulouse com malas comportando lágrimas e sacolas mal amarradas transbordando juras ditas em divagações coloridas em pontes na casa abandonada em Bucareste. Por que a decrépita e inóspita Romênia, eu deveria perguntar. O adeus não dito teria sabor menos amargo nesta boca gasta de mentiras e promessas malditas? O dicionário de folhas soltas alojado debaixo do braço deveria garantir a segurança de rompimentos não ensaiados? Se lhe aprouver, mande uma carta em código morse, rabisque palavras estrangeiras em jornais vietnamitas, solte lanternas de papel azul cobalto no ano do tigre sem garras afiadas e cansado de correr.

Percorra os campos prateados do meu sonho piedoso, beba do cálice sagrado o néctar do meu âmago derrotado, finja conclusões arrependidas enquanto disca números na madrugada abstrata.

Oh, então você não sabia mesmo? O não dito tem dentes podres maiores do que sua boca poderia comportar, portanto vou te ajudar:

La revedere, seu imbecil ensandecido e emocionado.

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se não conhecem o onlyoneof, recomendo fortemente esse grupo :)

como dizer adeus em romenoOnde histórias criam vida. Descubra agora