Tag, you're it

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Cada espinho rasgou sua pele e o impacto a deixou com falta de ar. Sentiu as pontadas dolorosas em seu corpo frágil, não ousou abrir os olhos pois sentia alguns espinhos em sua face. Não moveu um músculo até ter certeza de que estava viva.

Estava viva, ele estava vindo, tinha que sair. Um pânico tomou conta de seu corpo, a adrenalina de antes iria embora logo e a fadiga iria chegar cedo. Tinha que aproveitar enquanto seu sangue estava quente e a dor não piorava ainda mais.

Arrastou-se para fora do monte de roseiras rasgando a terra fofinha com os dedos, enchendo de terra os espaços entre as unhas. Estava viva, era isso que importava. Quando saiu deixou as costas caírem no chão, no meio da grama, olhou o céu noturno e sentiu a luz da lua em si. Olhou seu corpo, a camisola com rasgos e vermelha de sangue, uma verdadeira mudança de visual. Respirou fundo várias e várias vezes, tinha que continuar.

Tinha que se apressar antes que seu corpo pedisse descanso. Levantou-se com muita dificuldade, mas fazendo o mínimo de barulho possível, ele poderia estar por perto. Até que ouviu a porta do quintal abrindo. Sentiu o estômago dar voltas, não iria voltar para as garras dele, preferia morrer.

O pânico cresceu ainda mais, por um momento esqueceu da dor excruciante em seu pulso, talvez estivesse quebrado. Passou a correr na direção do portão principal, mas viu a silhueta dele na sombra segurando algo nas mãos e... aquilo era uma arma?

Um som alto tampou os ouvidos de Emily, o zumbido era quase ensurdecedor e, no mesmo momento, pareceu que sua perna explodiu em chamas de dentro para fora. O tiro a fez gritar e cair no chão, sentia a bala em sua carne forçando seu músculo e queimando como o inferno, sem falar no sangue. Então era assim que iria morrer? Fugindo do homem que a prendeu em um relacionamento abusivo por 2 anos? Lutando por um pingo de liberdade? É, me parecia uma boa forma de morrer.

Mesmo sentindo a morte se aproximar, ela começou a se arrastar na grama rala, não iria desistir ou perderia o que restava de sua honra. Cada centímetro parecia mais torturante, estava sendo movimentada pelo medo, pelo desespero.

- Achou que podia fugir de mim, bonequinha? - ele ainda segurava a arma nas mãos como se fosse um símbolo de superioridade, em partes realmente era. A voz dele lhe dava ânsia de vômito. - Você NUNCA vai fugir de mim! Nunca, entendeu?

A única coisa que Emily sentiu foi um chute em seu estômago, a dor aguda lhe arrancando o ar. Joseph passou as mãos pelos cabelos não tão curtos, por fim, a gota d'água. Tirou um cigarro do bolso e o isqueiro, acendeu e tragou fundo, deixando todo o ar dos pulmões ser substituído pelo tabaco.

Ela odiava cigarro, odiava qualquer tipo de fumaça, e foi por isso que ele assoprou exatamente no rosto dela. A raiva de Emily subiu em níveis extremos, ele estava ali, agachado, a arma no bolso, vulnerável. Vulnerável!

Em um movimento rápido, ela acertou o cotovelo esquerdo bem no queixo daquele verme. O som do osso estalando e o sangue saindo da boca dele foi tão satisfatório. Ela se sentiu uma sádica por alguns segundos, mas lembrou que ele era pior. Talvez aquilo a fizesse se sentir um pouco melhor.

- SUA VAGABUNDA! - aquela cotovelada foi ótima, mas o soco que lhe foi acertado acabou com a satisfação. Virou Emily a deixando de barriga para cima, sentou-se sobre seu estômago e logo as mãos grandes dele lhe apertavam o pescoço, aos poucos as aéreas foram se fechando e não havia como respirar. - VOCÊ É MINHA! EU VOU TE ESMAGAR, TE DESTRUIR!

Os lábios de Emily já estavam roxos, as unhas rasgavam desesperadamente o pulso de Joseph. Desespero definia a situação dela. Ok, calma, agir por impulso só iria matá-la, parou de espernear e pensou. A arma. Onde caralhos estava a arma?

No bolso do terno. Como lembrou daquilo? Dane-se, tinha que alcançar aquela merda.

- Últimas palavras, bonequinha? - deixou uma leve passagem de ar para que ela falasse, só havia uma chance, uma única chance. Ah sim, ele ouviria suas últimas palavras e ouviria bem.

- Queime no inferno! - puxou a arma em um movimento tão rápido que nem percebeu. Encostou a pistola no queixo de Joseph e pôde ver toda a raiva e orgulho serem substituídas por desespero, medo. Ele sentiu o que ela sentiu nos últimos 2 anos, desgraçado.

E apertou o gatilho.

O som da arma disparando e o forte zumbido em seus ouvidos foi o que marcou o início da liberdade de Emily. Ele estava morto.

O corpo mole de Joseph caiu sobre si, o sangue se espalhou por suas roupas e ela se permitiu respirar desesperada por ar. Estava viva!

Jogou o corpo com todo desprezo e conseguiu, depois de inúmeras tentativas, levantar. Estava na frente do portão principal quando viu os carros da Polícia, as luzes vermelhas e azuis em seu rosto. Ainda segurava a arma, uma mulher completamente ensanguentada segurando uma arma.

Ergueu os braços e largou a arma no chão. Estava livre.

Estava livre!

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