Carousel.

22 5 0
                                    

A porta não abriu, então ela forçou mais, com os ombros, com o corpo todo. Não adiantou. Mas ela iria fugir mesmo que doesse. Andou para trás até encostar as costas na parede contrária e correu. Seu ombro se chocou contra a madeira com uma força absurda fazendo seus músculos latejarem, mas não abriu. Merda de porta.

E de novo ela repetiu o ato, se afastou e jogou o corpo contra a porta com todo ódio ignorando a dor. Na quarta vez a porta arrebentou e, pelo enorme impulso, seu corpo foi jogado contra a porta do escritório onde Joseph estava causando outro som oco. Ele havia escutado.

Sem pensar duas vezes, ela correu. Correu o máximo que seus pés descalços e suas pernas curtas podiam aguentar. Ouviu os passos pesados atrás de si, os xingamentos altos, ele estava vindo. Viu a escada que dava para o térreo, mas sabia que a porta estava trancada, sempre estava, ele sempre a manteve presa.

Resolveu subir para o andar de cima, subiu as escadas douradas o mais rápido que podia, de três em três degraus. Estava conseguindo apesar de ainda ouvi-lo se aproximar. Se chegasse no quarto com vida seria uma vencedora.

Chegando no último degrau, já conseguia ver o corredor cheio de portas, um passo para a liberdade, iria conseguir... se não fosse o puxão em seus cabelos. Foi lançada para trás como uma boneca de pano, mas conseguiu, de uma forma que nem ela entendeu, ficar de frente para ele e não desabar no chão.

- 'Tá fugindo de mim, desgraçada? - Emily segurou seus cabelos tentando de alguma forma afastar as mãos dele, uma tentativa desesperada de conseguir liberdade, mas houve um momento em que os fios começaram a cortar sua pele tamanha a força que usava. Soltou-os e fincou as unhas medianas no pulso do homem, sentiu a pele rasgar e o sangue quente em seus dedos, aquilo só lhe fez apertar mais. - Acha que ganha de mim, não é? Sabe o que acontece quando tenta fugir, Emily? RESPONDE, FILHA DA PUTA!

Assim que ele fechou a boca, um chute acertou o meio das pernas de Joseph, um chute forte o bastante para fazê-lo solta-la imediatamente. Emily não perdeu um segundo sequer, correu para o quarto mais próximo ainda que suas pernas estivessem fracas e seus pulmões ardessem. Fechou a porta com força, girou a tranca, estava a salvo por enquanto.

Se permitiu respirar um pouco, apoiou as costas na parede, respirou fundo, segurou as lágrimas, não podia entrar em pânico. Observou os finos cortes que cobriam suas mãos, ardiam, mas pouco sangravam. Fechou os olhos e encostou a cabeça na parede. Estava a salvo. 

Um som oco ecoou pelo quarto, era ele. As batidas na porta eram altas e estrondosas, inúmeras formas de destruir a madeira. Emily tinha, de acordo com seus cálculos, cinco minutos até a tranca quebrar. Joseph era um homem forte, mas era burro. Emily era inteligente.

Levantou rápido, jogou a dor de lado, não era seu foco agora, tinha que fugir. Olhou o quarto todo em busca de uma saída, haviam duas. O banheiro e a janela. Se entrasse no banheiro, não teria saída quando ele entrasse no quarto. A janela...

Pegou uma cadeira perto de uma escrivaninha cheia de papéis, iria fugir. Jogou o objeto contra o vidro da janela vendo os milhares de cacos se espalharem pelo quarto. Usou a cadeira para subir sobre o criado-mudo cor de vinho, sentiu finos cacos cortaram seus pés causando uma dor aguda que reverberou por todo seu corpo, mas não iria desistir agora. Subiu na janela e passou o pequeno corpo por baixo da estrutura, estava quase livre.

O vento bateu em seu corpo espalhando seus cabelos, a camisola antes branca agora possuía manchas vermelhas e marrons, sentiu o que era um pouquinho da liberdade que lhe foi tirada, aquilo lhe encorajou ainda mais a continuar.

Ouviu a porta arrebentar e a tranca voar pelo quarto. Joseph entrou como um touro, os olhos cheios de uma raiva destrutiva, Emily apenas o encarou friamente, pela primeira vez havia uma chance.

- Emily, por favor... - com os olhos cobertos de uma falsa inocência e angústia, o homem tentou mostrar arrependimento. Ele realmente achava que ela era tão burra assim?  - Você sabe que eu amo você, bonequinha.

- Não sou sua bonequinha porra nenhuma. - desviou o olhar do homem e respirou fundo antes de ouvi-lo gritar de novo. Aquela máscara de arrependimento a enganou uma vez, mas não iria enganar de novo.

- VOCÊ VAI MORRER, VADIA! NÃO É NADA SEM MIM, EMILY, NADA!

- Prefiro morrer a ficar mais um segundo perto de você. - e saltou. De olhos fechados ela sentiu o vento noturno e a gravidade a puxando, tudo ficou escuro e Emily esperou o impacto que a mataria... ela esperou a morte...

Morte esta que não veio. Seu corpo caiu no mar de galhos, folhas e inúmeros espinhos afiados das roseiras que cercavam a casa. Tudo o que sentiu foi uma dor dilacerante por todo seu corpo.

Tag, You're It!Onde histórias criam vida. Descubra agora